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Documento critica tortura no Iraque
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A GUADALAJARA
Depois de muita discussão, algum atraso e uma aparente divisão entre a América Latina e a
União Européia, o documento final da 3ª Cúpula América Latina e
Caribe-União Européia acabou
deixando de fora uma crítica aos
Estados Unidos por sua política
contra Cuba, tema que anteontem ocupou a maior parte dos debates dos delegados.
Washington, no entanto, não se
livrou de um parágrafo em que os
58 países subscritores se disseram
"horrorizados" pelos maus-tratos
a prisioneiros iraquianos presos
no país sob a guarda de soldados
norte-americanos.
Apenas ontem de manhã foi resolvido o impasse em torno de
uma referência direta à lei norte-americana Helms-Burton, de
1996, que prevê medidas judiciais
contra companhias de outros países que utilizem em Cuba instalações expropriadas dos Estados
Unidos.
Em uma versão preliminar do
documento, havia duas propostas. No parágrafo apresentado pela América Latina e Caribe, propunha-se um "enérgico rechaço"
à "aplicação unilateral de leis e
medidas contrárias ao direito internacional, à liberdade de mercado, à navegação e ao comércio
mundial". Em seguida, exortava-se os Estados Unidos a "pôr fim à
aplicação" da lei Helms-Burton.
Mais brando, o texto da União
Européia apenas rechaçava "todas as medidas de caráter unilateral", sem mencionar Washington.
"Rebanho de cordeiros"
Em nota à imprensa, o governo
cubano culpou países da União
Européia pela exclusão desse parágrafo que criticava os norte-americanos.
Para Havana, o bloco agiu como
"um rebanho de cordeiros subordinado a Washington" -alusão a
países que aceitam a política externa adotada pelo governo de
George W. Bush.
Segundo um diplomata do Mercosul, no entanto, a inclusão de
uma referência à lei havia sido
acordada, mas a insistência da delegação cubana em elevar o tom
da crítica acabou por deixar o tema de fora do texto final.
Apesar de criticar a situação dos
presos iraquianos, o documento
preferiu falar em "maus-tratos"
em vez de torturas e também elogiou o esforço dos "governos em
questão" de levar os acusados à
Justiça.
"Declaramo-nos horrorizados
diante das recentes evidências de
maus-tratos aos prisioneiros em
cárceres iraquianos. Esses abusos
são contrários ao direito internacional, incluídas as Convenções
de Genebra", diz o trecho.
Elogio
Na sequência, o elogio: "Aprovamos o compromisso dos governos em questão de levar à Justiça
todos os indivíduos responsáveis
por esses atos relacionados com o
abuso contra detidos iraquianos e
seu compromisso de retificar
qualquer não-cumprimento do
direito internacional humanitário", afirma o texto.
Ao todo, o documento tem 104
parágrafos, em que foram enfatizados o combate à pobreza e o
multilateralismo -a declaração
incluiu um pedido de "reforma e
revitalização" da ONU (Organização das Nações Unidas).
A cúpula termina hoje, quando
estão previstas apenas reuniões
bilaterais e regionais. A volta do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Brasília ocorreu no início da
noite de ontem.
Abertura
Falaram na abertura da cúpula
realizada em Guadalajara o primeiro-ministro espanhol, José
Luis Rodríguez Zapatero, os presidentes Vicente Fox (México) e
Romano Prodi (Comissão Européia) e o primeiro-ministro irlandês, Bertie Ahern, que atualmente
ocupa a presidência rotativa da
União Européia.
Zapatero, que falou na condição
de representante do último país
anfitrião da cúpula, disse: "Num
mundo com fraturas cada vez
mais patentes, a União Européia
compartilha com a América Latina e o Caribe, diferentemente do
que ocorre em outras regiões, um
substrato comum".
Ao todos, os 58 países reunidos
em Guadalajara têm população
superior a 1 bilhão de pessoas .
Desses países, 33 enviaram seus
chefes de Estado ou de governo
para participarem da cúpula.
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