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ENCONTRO DE GUADALAJARA
Cumprir exigências do mercado não diminuiu, e até agravou, problemas sociais no país e na América Latina, afirma
"Dever de casa" não reduz miséria, diz Lula
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A GUADALAJARA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou que o Brasil e os outros países da América Latina,
apesar de terem "feito o dever de
casa" reclamado pelos mercados
financeiros globais, tiveram agravadas "as estatísticas da miséria e
da desesperança".
Em sua única e curta participação em reunião sobre a "Coesão
Social" na 3ª Cúpula América Latina e Caribe-União Européia, Lula queixou-se dos destinos do
país. "Com grandes sacrifícios, estamos empreendendo em nosso
continente a reestruturação de
nossas economias. Estamos saneando nossas finanças públicas.
Modernizamos e tornamos mais
eficiente a ação governamental.
Adotamos a responsabilidade fiscal na gestão pública. Reduzimos
as vulnerabilidades que comprometem e limitam o desenvolvimento econômico e social. Preparamo-nos para melhor interagir
em uma economia crescentemente mundializada e interdependente", disse, para 19 de seus pares.
"Mas é evidente que não basta
fazer o dever de casa. Mais grave:
todo o nosso sacrifício não impediu que se mantivessem inalteradas ou, pior, se agravassem as estatísticas da fome, da pobreza, do
desemprego, da desesperança. No
mundo globalizado, são claros os
limites para o que podem fazer
nossa vontade e nossos esforços,
isoladamente. Esses limites são
ainda mais claros para os países
mais vulneráveis dentre nós."
O presidente brasileiro afirmou
que a pobreza, a desigualdade e a
exclusão geram instabilidade política e contribuem diretamente
para o aumento da insegurança.
Para Lula, estão em risco "a governabilidade democrática, a paz
e a segurança internacionais".
O presidente disse que é preciso
"mais do que vontade" para combater a desigualdade social e apelou para a necessidade de criação
de "meios e instrumentos" para
corrigi-las no mundo globalizado.
"O desenvolvimento econômico é condição necessária, mas não
suficiente. A cooperação internacional tem papel importante a desempenhar nesse desafio", disse.
O presidente definiu a fome como "a mais poderosa arma de
destruição em massa". "Mata 24
mil pessoas por dia, extingue a vida de 11 crianças por minuto.
Atinge quase um quarto da humanidade. Reduz drasticamente
a capacidade de produzir dos
mais velhos. Compromete seriamente as possibilidades de aprendizagem", declarou.
Lula defendeu a discussão de
meios de financiamento de fundos internacionais contra a pobreza. Terminou sua intervenção
convidando os chefes de Estado e
de governo a participar de encontro para discutir o combate a pobreza no dia 20 de setembro, na
véspera da Assembléia Geral da
ONU, em Nova York.
É uma ação dos governos do
Brasil, França e Chile, que ganhou
a adesão do governo espanhol.
Agenda menor
Sob a alegação de cansaço devido à viagem à China, nesta semana, Lula desistiu de participar do
encerramento da cúpula e do jantar oferecido a chefes de Estado e
de governo por Vicente Fox (México). O presidente cortou seis horas de atividades de sua agenda e
embarcou, no começo da noite de
ontem, de volta ao Brasil.
Após cinco reuniões relativas à
cúpula e de dez encontros bilaterais com chefes de Estado e de governo, Lula seria um dos convidados a falar na entrevista de encerramento, mas desistiu. O encontro mais importante foi com o primeiro-ministro espanhol, José
Luis Rodríguez Zapatero.
Foi um café da manhã, que durou cerca de meia hora, antes da
abertura oficial da cúpula. Lula
propôs ao socialista espanhol que
Madri seja a sede permanente dos
encontros dos líderes da União
Européia e do Mercosul. Citou a
importância de empresas espanholas participarem de licitações
na área de energia no país.
Ouviu a aceitação de Zapatero
ao seu convite para que visite o
Brasil. Em contrapartida, recebeu
a promessa de apoio na disputa
pela redução de barreiras alfandegárias a produtos agrícolas brasileiros na União Européia.
"O primeiro-ministro prometeu a Lula, por quem tem admiração pessoal e política, a interceder
em especial com os colegas franceses", disse o porta-voz espanhol, Fernando Javier Valenzuela.
Ainda pela manhã, o presidente
se reuniu com o colega francês,
Jacques Chirac. Na pauta, os esforços para a viabilização de um
fundo mundial no combate à fome e a avaliação mútua sobre a situação no Haiti.
As tropas francesas estão deixando o país caribenho, e as brasileiras assumirão o comando da
força de paz das Nações Unidas
na semana que vem. Lula ainda
manteve reuniões em separado
com o chanceler alemão, Gerhard
Schröder, e com os presidentes
Vicente Fox, Aleksander Kwasniewski (Polônia), Carlos Mesa
(Bolívia), Ferenc Mádi (Hungria),
Nicanor Duarte (Paraguai) e Oscar Berger (Guatemala).
Marisa Letícia, mulher de Lula,
não aceitou o convite da organização da cúpula de seguir com
um grupo de primeiras-damas
ontem para Tequila, cidade turística a 120 quilômetros de Guadalajara, terra da bebida símbolo do
México. Segundo sua assessoria,
ela também estava cansada devido à viagem à China e apenas participou da foto oficial das primeiras-damas.
O presidente havia passado a
noite de anteontem em jantar
com os ministros Celso Amorim
(Relações Exteriores) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento)
e com Marco Aurélio Garcia (assessor especial para assuntos internacionais). Lula já havia reduzido de dois para um dia sua presença na cúpula de Guadalajara.
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