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JANIO DE FREITAS
As interrogações intocadas
Discurso de Renan mais o distanciou das respostas devidas e mais o aproximou de indícios inaceitáveis
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PARA O INTERESSE público legítimo, não faz diferença se os
pagamentos de obrigações do
senador Renan Calheiros, fossem
diretos ou feitos por intermédio de
terceiro, ligaram-se à sua "vida mais
íntima" ou se destinaram a fins mais
triviais. O esclarecimento esperado
de Renan Calheiros era para a incompatibilidade entre os seus vencimentos, ao longo de seus 30 anos de
político profissional, e o pagamento,
não só aquele de decorrências íntimas, senão também o do patrimônio
que nem parece todo declarado na
relação apresentada em sua eleição
de 2002. Esse esclarecimento Renan Calheiros não fez no que chamou de explicação aos senadores.
Os gastos nada insignificantes de
sua "vida mais íntima" tiveram, no
que Renan Calheiros chamou de
"meio escândalo", apenas o papel de
provocadores de revelações financeiras e patrimoniais que dizem respeito à sua vida pública. Dono declarado de pelo menos uma casa em
Brasília e dois apartamentos, e agora
reconhecendo-se proprietário também de uma fazenda, Renan Calheiros está apontado pelo "Globo" como dono de outras propriedades,
em Alagoas, encobertas por laranjas
ou testas-de-ferro.
Não lhe bastaria, portanto, restringir-se à continuada reiteração
de que os gastos com sua "vida mais
íntima" foram "com recursos próprios". O que importa, para o interesse público, é o esclarecimento sobre a procedência e o acúmulo desses recursos próprios. E esse esclarecimento Renan Calheiros evitou
com o discurso, de intenção obviamente sensibilizante, da vítima atingida por uma violação do princípio
constitucional de proteção à intimidade e à honra pessoal.
É possível que Renan Calheiros
tenha explicação para todas as respostas que ainda não deu ao interesse público. O que se sabe, com toda a certeza, é que seu discurso mais o
distanciou das respostas devidas e
mais o aproximou de indícios inaceitáveis no presidente do Congresso e do Senado, e mesmo que apenas
em um senador.
A crise
Eis o mistério: como é possível que
um político com experiência desde
a juventude, com passagem pela
Câmara, pelo Senado, por dois ministérios, pela prefeitura da maior
cidade e hoje no governo do mais
rico Estado do país, além de várias
eleições, deixe chegar ao ponto em
que está a crise com a USP?
O surgimento do problema, por
equívoco de governo, resistência
administrativa ou mesmo motivos
políticos, seria compreensível, para
não dizer normal. Mas ignorar que
agitação estudantil nenhum governo deve deixar que prospere, mesmo que a solução lhe custe inconveniências, é ignorar até a história.
A daqui de casa e todas as outras.
No caso, nem ao menos se pode dizer que José Serra defende algo essencial ou, pelo menos, seguramente correto.
É impossível imaginar onde José
Serra pensa que chegará com a crise na USP. Mas é fácil presumir o
que lhe ficará, de fato, quando o impasse chegar ao esgotamento.
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