São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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Genoino busca espaço em disputa bipolar

Candidato petista ao governo paulista quer debater em pé de igualdade com Maluf e Alckmin, líderes nas pesquisas

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

José Genoino, 56, inicia hoje, com a formalização de sua candidatura em convenção, uma batalha pessoal para abrir um flanco petista na polarizada disputa entre Paulo Maluf (PPB) e Geraldo Alckmin (PSDB) pelo governo do Estado de São Paulo.
Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, deve ser indicado vice. Filiado ao PT, precisa ser aprovado oficialmente pelo diretório estadual do partido, mas não deve haver problemas quanto a isso.
Aparecer, receber atenção e ser conhecido e reconhecido são as preocupações centrais de Genoino neste momento.
Campeão de votos para deputado federal (307 mil votos em 1998), ele patina nas pesquisas para sua primeira eleição majoritária, com 7% no Datafolha, longe de Maluf (33%) e Alckmin (29%).
"Conto com a maior atenção da mídia para a eleição para o governo. A campanha na prática ainda não começou", diz Genoino.
A tática é procurar se colocar no centro do debate, em pé de igualdade com os adversários. Uma primeira tentativa surtiu efeito em janeiro, quando Genoino deu uma dura entrevista à Folha prometendo que sua política de direitos humanos não impedirá a Rota (tropa da PM) de agir com "energia e força" e de ir às ruas "a partir de informação dirigida, alvo preciso e comando competente."
Conseguiu espaço na discussão programática, apesar da saraivada de críticas que recebeu no PT, o que o fez ensaiar um recuo.
Com quatro minutos diários de tempo na TV, Genoino terá pouca chance para se mostrar. A verticalização imposta pela Justiça, grande revés de sua campanha até aqui, roubou dele apoios certos, transformando esta numa das mais isoladas candidaturas do PT paulista desde sua fundação, há 22 anos. Sobraram só o PC do B e, espera o candidato, nacos de partidos como PMDB, PDT e PSB.
O deputado promete campanha centrada em corpo-a-corpo, carreatas e passeatas, para compensar. Comícios, que atraem eleitores com voto consolidado, serão poucos. "As pessoas me conhecem, mas não sabem que Genoino é PT, que PT é Genoino", diz.

Armas na manga
Para abrir espaço, o deputado aposta em algumas armas. A primeira é o peso -político e financeiro- que o PT jogará na sua campanha. Dentro do partido, a candidatura de Genoino só não importa mais que a de Lula.
Avalia-se no PT que uma derrota fragorosa em São Paulo mancharia mesmo a eventual vitória de Lula, já que Genoino é das figuras mais representativas do partido e teve a candidatura bancada diretamente pelo presidenciável. A condescendência que o partido tem tido até agora com a pobre performance do deputado pode virar desespero rapidamente.
O presidenciável passará grande parte de seu tempo fazendo campanha no Estado, para ajudar Genoino. Mas a estratégia pode se revelar inócua, dada a histórica dificuldade de Lula em São Paulo.
A outra arma de Genoino é Duda Mendonça, que fará sua campanha conciliando-a com a de Lula. As candidaturas paulista e nacional serão de tal forma integradas que um conselho político pensará políticas comuns e discursos complementares.
Isso pôde ser visto nos comerciais de TV de Genoino, em que o tema da "vulnerabilidade econômica", apontada por Lula, foi adaptado para o cenário paulista.

Avenida
O cenário otimista para Genoino é crescer ponto a ponto, à medida que ficar mais conhecido, principalmente das classes baixas. Entre os setores de maior renda e escolaridade, o petista se sai melhor, o que poderia gerar um "efeito dominó" em outras camadas. Consegue 20% no eleitorado com curso superior e 21% na camada com renda familiar mensal maior que dez salários mínimos.
Genoino espera chegar perto dos 20% em outubro, em condição de disputar no "olho mecânico" uma vaga no segundo turno. Como ocorreu com Marta Suplicy em 98, quando deixou de ir ao segundo turno por menos de 0,5%.
O petista sonha abrir uma "avenida" entre o que chama de "falta de firmeza" de Alckmin e "falta de seriedade" de Maluf. Não por acaso, seu slogan é "Firme e Sério".
Embora o PT prometa criticar os adversários com a mesma força, é nítido, nos discursos petistas, que o partido centra baterias é em Alckmin. Até porque parte do eleitorado faz a ligação Maluf-PT, com 35% dos eleitores do ex-prefeito apoiando Lula. Maluf, com seu eleitorado "duro", deve ir ao segundo turno, avalia o partido.
Apesar da realidade pouco animadora, Genoino procura ver suas chances sob um prisma mais róseo. Atenta para as pesquisas espontâneas, que medem o voto mais consolidado, pela qual 70% dos eleitores se dizem indecisos.



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