|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Nós não vamos praticar farra fiscal em São Paulo"
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Em plena sintonia com a defesa
do equilíbrio das contas públicas
proclamada nacionalmente por
seu partido, José Genoino, candidato do PT ao governo de São
Paulo, garante: "Nós não vamos
praticar farra fiscal".
Não é o único exemplo de discurso moderado na boca desse
ex-guerrilheiro, hoje com 56 anos
e cinco mandatos consecutivos
como deputado federal.
Folha - Por que você, que tem tradição no Legislativo, resolve dar
um salto para o Executivo?
José Genoino - O Parlamento foi
uma boa escola em que aprendi a
ter posição sobre todas as questões, mas a não ser dono da verdade. Não tive relações de inimizade
no Parlamento. Tenho adversários, mas não inimigos.
Em segundo lugar, o que me entusiasma é um projeto novo para
São Paulo. Eu acho que o projeto
do PSDB se esgotou. Foi centrado
no saneamento de uma dívida
que cresceu três vezes, depois de
vender R$ 32 bilhões do patrimônio público. Esgotou-se por não
ter uma política para os setores
produtivos, para as cadeias produtivas, para as regiões econômica e por não projetar a força econômica do Estado de São Paulo
para enfrentar grandes problemas como o desemprego, a violência, a crise na educação.
O Estado mais rico do país está
vivendo um impasse por essa política econômica que está aí, por
não ter um governo que articule
São Paulo com a idéia de ser o Estado da riqueza, do emprego, da
oportunidade, da agregação social.
Folha - O sr. não acha que amadureceu demais a ponto de falar em
aliança com Orestes Quércia
(PMDB), que é a antítese de tudo o
que o PT pregava e de repente recebe uma espécie de atestado de idoneidade conferido pelo partido que
mais o atacou?
Genoino - O PT não dá atestado
de idoneidade nem de condenação a ninguém na eleição.
Se o PMDB quer nos apoiar, se
esse apoio transfere voto para o
PT e não há moeda de troca no
sentido de alterar o programa do
PT, os compromissos do PT, as
identidades do PT, eu não....
Folha - Mas essa é a mesma lengalenga do Fernando Henrique
com o PFL, que vocês criticaram...
Genoino - A diferença é que o
Fernando Henrique Cardoso costurou um projeto com o PFL. O
PFL foi definidor do projeto do
PSDB, do governo, da chapa. Nós
não estamos discutindo com o
PMDB de São Paulo nesses termos. O PMDB não está nem discutindo aliança, porque ele não
pode fazer, depois da convenção
nacional (que formalizou coalizão
com o PSDB). O que o PMDB está
discutindo com o PT é a possibilidade de mandar votar no PT. Portanto, nós não estamos fazendo
aliança de governo nem com
moeda de troca.
Folha - E quem é que vai acreditar
que o PMDB, o Quércia, especificamente, vai mandar votar no PT só
pelas belas barbas do Genoino?
Genoino - Se ele mandar votar
no PT, e nós não estamos cedendo no governo nem no programa
nem vamos deixar de ter a nossa
postura ética, democrática e de
programa do PT, eu não vejo problema nenhum, até porque a gente não pode recusar apoio.
Folha - Uma questão que, aparentemente, é chave para decidir a
eleição em São Paulo é a segurança. O sr. já se envolveu numa polêmica tempos atrás ao defender a
expressão "Rota na Rua". Essa mudança do PT inclui, um, digamos,
endurecimento nas políticas de segurança pública?
Genoino - Isso não é para ganhar
eleição. Forças especiais, como a
Rota, devem agir voltadas principalmente para combater o crime
organizado, com alvo preciso.
Qual é o grande problema da ação
dessas forças especiais em São
Paulo? É a falta da inteligência, de
comunicação e de informação.
Quando a polícia age, ela tem que
ter um alvo preciso, um objetivo
determinado. Para isso ela tem
que ter tecnologia de informação,
de comunicação e de perícia, coisa que não tem em São Paulo.
A esquerda não pode ficar mais
na defensiva no tema da segurança pública. O discurso da direita é
o discurso ineficaz. Ele é fácil de
fazer, mas produz soluções violentas, de guerra, e não é disso que
se trata. Segurança pública é para
defender a vida.
Folha - "Bandido bom é bandido
morto". O sr. assina embaixo dessa
frase?
Genoino - Não. Segurança é para
garantir a vida. O bandido tem de
ser preso, tem de temer a polícia,
tem de ser colocado em penitenciária de segurança máxima, sem
privilégio.
Folha - O que o sr. pensa da idéia
de que a defesa intransigente dos
direitos humanos é uma maneira
de proteger bandidos?
Genoino - É um equívoco. Uma
boa polícia preventiva, inteligente
e repressiva pode ser eficaz, sem
ferir os direitos humanos. Uma
polícia que violenta os direitos
humanos é mal preparada.
Folha - Melhoria na polícia, projetos sociais, intervenção para melhorar o emprego -tudo isso custa
dinheiro. Como é que você compatibiliza todos esses investimentos
com as limitações orçamentárias?
Genoino - O PT nunca praticou
irresponsabilidade fiscal. Nós não
vamos praticar farra fiscal para
resolver esse problema.
A questão de emprego em São
Paulo envolve muito mais uma
ação de governo do ponto de vista
da sua liderança política, da sua
articulação com a iniciativa privada, de usar os recursos do Estado
para priorizar as cadeias produtivas, as regiões econômicas.
Em relação à questão dos gastos, temos que estabelecer prioridades. Não se trata de aumentar a
carga tributária. Combatendo a
sonegação, nós podemos até diminuir os tributos mantendo a
mesma carga tributária, porque
São Paulo perde muito dinheiro
com a guerra fiscal.
Um governo consegue as coisas
quando ele mobiliza as forças que
representa. São Paulo é uma grande força. Você já viu o governador
de São Paulo se reunir com o empresariado de São Paulo para fazer um pleito em Brasília? Eu nunca vi e estou lá há 20 anos.
Folha - Na educação, você mexe
nessa separação por faixa etária
que o governador Covas fez e teoricamente aumentou o número de
horas de aula das crianças?
Genoino - O ensino fundamental
e médio de São Paulo precisa passar por uma mudança. O sistema
de ciclos tem que ser mantido.
Agora, esse sistema de avaliação
que está aí tem que ser mudado.
Folha - Mas isso é federal, não é?
Genoino - Pois é, mas nós queremos mudar a lei federal também.
Nós temos que manter um sistema de avaliação que leve em conta
o empenho, o interesse, o nível de
aprendizado. Temos que melhorar a estrutura para que o professor possa fazer essa avaliação. A
progressão continuada (mecanismo que elimina a repetência) produz analfabeto funcional.
Folha - A Marta, de alguma maneira, fazia as mesmas promessas,
guardadas diferenças de competência entre o prefeito e o governador.
Mas hoje, um ano e meio depois, as
pesquisas do Datafolha mostram
que ela é a prefeita com pior avaliação de todos os prefeitos que o Datafolha pesquisa. Você não acha
que o PT é, um pouco como dizem
de FHC, bom de gogó, mas ruim de
administração em São Paulo?
Genoino - O PT é bom de administração. Se, a partir de 1988, o
PT não estivesse administrando
prefeituras como São Paulo, como agora Porto Alegre, Belém,
Recife, Goiânia, Santo André, nós
não teríamos tanta inovação em
políticas sociais e econômicas.
No caso da Marta, ela pegou
uma prefeitura quebrada fisicamente, eticamente e financeiramente. Mas o governo dela está
mostrando que nós podemos governar sem caos, ao contrário do
que dizem os adversários.
Folha - Malufismo, para o sr., é sinônimo de...
Genoino - De uma política velha,
conservadora, ultrapassada, que
projeta os piores valores.
Folha - Covismo, para o sr. é sinônimo de...
Genoino - De privatizações, saneamento perverso e falta de iniciativa política no Estado mais
importante do país.
Folha - Numa frase, como o sr. define os seus principais adversários?
Genoino - Maluf é um político
ultrapassado, sem projeto sério
para o Estado de São Paulo. Alckmin é um político pequeno e lento
para o tamanho da responsabilidade de governar São Paulo.
Folha - Qual o maior mérito e qual
o maior defeito da gestão FHC?
Genoino - O maior mérito, na
questão dos direitos humanos, o
avanço nessa área. E o fato de o
país não ter tido crise institucional nestes últimos oito anos. Os
maiores defeitos foram o monetarismo financeiro da equipe econômica e o grau de miséria social
do povo brasileiro.
Colaborou FÁBIO ZANINI, da Reportagem Local
Texto Anterior: Genoino busca espaço em disputa bipolar Próximo Texto: Frase Índice
|