São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 2005

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ELIO GASPARI

O manual anticrise de FFHH

Em fevereiro do ano passado, quando o pesadelo se chamava Waldomiro Diniz, FFHH listou um receituário para ajudar os presidentes de países, pensões ou padarias, a enfrentar crises. O príncipe tucano sabe do que fala. Durante oito anos de governo, jamais expandiu uma dificuldade. A crise entrava na sua sala e saia menor, acabrunhada.
A patuléia que paga os impostos de onde saem os mensalões y otras cositas más pode comparar as sugestões de FFHH com a insensatez aparelhada de Lula. São do ex-presidente as idéias gerais. Ele não tem nada a ver com os comentários.
A crise tem dono - É do presidente. Às vezes só ele sabe o tamanho do buraco e por que ele apareceu ali. Gerência de crise não se delega. Se Lula tivesse assumido a gerência da crise Waldomiro Diniz, o men$alão teria morrido.
Não brigue com a crise - Fuja do conselheiro que quer o sangue dos adversários. Lula desligou o ventilador do Planalto quando livrou-se do comissário José Dirceu.
O perigo das idéias - Na adversidade, deve-se tomar distância das pessoas que têm muitas idéias. Tem gente que é capaz de propor uma coisa de manhã e o oposto à tarde. João Paulo Cunha, por exemplo.
Os palpites são infelizes - As pessoas sentem-se bem dando palpites. Cabe ao presidente fazê-los sentir-se bem, mas só. Alguns companheiros deram o palpite de que Lula devia discursar em Luziânia na semana passada. Desastre.
Segredo dura 72 horas - Numa hora dessas, o presidente deve conversar sem maiores cautelas com umas cinco pessoas. Há gente que vaza em 48 horas e há aqueles que merecem mais confiança. Estes vazam em 72 horas. Palácio sem vazamento é fantasia. No Planalto de Lula vazam até os seus comentários sobre os vazadores. Sua vítima predileta é o senador Aloizio Mercadante.
O dono do urso - O tipo mais perigoso é aquele que se credencia como intérprete do pensamento do rei. Ele é capaz de soltar leviandades que podem até alterar o curso dos acontecimentos. Felizmente, os donos do urso de Lula dividem-se entre os que acabam no cemitério do olvido ou no hospício do ressentimento.
Toda crise tem um custo - Desde a primeira hora, o presidente sabe que a crise terá um custo. Trata-se de saber que ele deverá ser pago. Olhando-se para trás, vê-se que toda tentativa de regatear acaba aumentando o tamanho do prejuízo. Se Lula tivesse cortado a luz do comissário Delúbio, estaria dormindo melhor.
O rei tem a cara da crise - Diante da primeira visão do buraco, o presidente precisa de uma idéia fixa: para onde eu vou quando tiver resolvido esse problema. Uma coisa é certa: o rosto do rei é o rosto da crise. Ele precisa ser a imagem da tranqüilidade. Essa parte é a mais dura.
A esses pontos de FFHH junte-se mais um: a percepção do momento perdido. Atribui-se ao marechal Castello Branco a capacidade de ter (ou aceitar) grandes idéias, sempre com uma semana de atraso. Quando o gerente de uma crise acha que não é a hora de fazer uma determinada coisa, deve-se perguntar: "Será que daqui a dez dias eu não vou precisar fazer isso, e será tarde demais?".


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