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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CORREGEDORIA
Emerson Palmieri afirma que dinheiro repassado pelo PT ao PTB na campanha eleitoral de 2004 ainda pode estar guardado
R$ 4 mi podem estar em cofre, diz petebista
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O tesoureiro informal do PTB,
Emerson Palmieri, disse ontem à
Corregedoria da Câmara dos Deputados que os R$ 4 milhões que
teriam sido repassados pelo PT ao
PTB em 2004 ainda podem estar
no cofre do partido, em Brasília.
Deputados federais tentaram
promover uma busca e apreensão
ainda ontem na sede do PTB, mas
não encontraram respaldo regimental para essa ação.
De acordo com relato dos deputados que presenciaram o depoimento, feito a portas fechadas,
Palmieri se mostrou bastante nervoso e caiu em contradições várias vezes sobre detalhes das circunstâncias que envolveram o suposto acordo eleitoral entre o PT e o PTB em 2004.
Subproduto do escândalo do
"mensalão" -a acusação de que
deputados federais do PP e do PL
recebiam uma mesada do PT para
votar com o governo-, o acordo
envolveria o repasse de R$ 20 milhões do PT para o PTB como forma de reforçar o caixa de candidatos petebistas em 2004. No ano
passado, o PTB apoiou candidatos do PT a prefeito em várias capitais (como São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba).
Segundo o deputado federal
Roberto Jefferson (PTB-RJ), só R$
4 milhões dos R$ 20 milhões prometidos chegaram. Ele diz que, ao
lado de Palmieri, recebeu o dinheiro na sede do PTB em duas
remessas entregues pelo publicitário Marcos Valério Fernandes
de Souza, acusado pelo deputado
de ser o operador do "mensalão".
Jefferson nega-se entretanto a
dizer o que fez com o dinheiro sob
o argumento de que não recebeu
recibo do PT. A direção nacional
do PT e Marcos Valério negam a
existência desse acordo.
Sem apreensão
Assim que terminou o depoimento de Palmieri -que não falou com a imprensa-, os cinco
deputados que integram a comissão de sindicância da Corregedoria consultaram a área técnica da
Casa sobre a possibilidade de determinar à Polícia Federal a busca
e apreensão na sede do PTB, mas
foram informados que só uma
Comissão Parlamentar de Inquérito teria esse poder.
Ainda de acordo com deputados, Palmieri se atrapalhou em
detalhes -como dizer não ter
contado o dinheiro, mas depois
afirmar ter conferido a entrega-,
mas apresentou datas de recebimento e formas que coincidem
com as informações prestadas
também ontem pela ex-secretária
de Marcos Valério, Fernanda Karina Ramos Somaggio.
Além do tesoureiro informal do
PTB, outras sete pessoas falaram
ontem e mais duas falariam até o
final da noite. Entre elas, estavam
os ministros Ciro Gomes (Integração Nacional) e Walfrido Mares Guia (Turismo), que confirmaram terem ouvido relato de
Roberto Jefferson sobre a existência do "mensalão".
O depoimento de Ciro Gomes
durou apenas seis minutos. Ciro
afirmou que Jefferson, à época
presidente do partido, levou o caso a ele durante uma conversa
"sobre outros assuntos", "há cerca de um ano e meio ou coisa parecida".
Ele afirmou que na ocasião em
que ouviu o relato, questionou
Jefferson sobre a existência de
provas da veracidade do esquema
e, diante da negativa do deputado,
decidiu não levar o caso adiante.
"Se houvesse evidência me sentiria obrigado a andar com isso,
mas, se não, assumiria uma história que não tem nenhum fundamento", afirmou. Ciro diz não
acreditar que haja o esquema do
"mensalão", ressalvando que
considera "verossímil" apenas a
possibilidade de acordo eleitoral
entre os partidos que envolva dinheiro.
O ministro do Turismo, que é
do PTB, "procurou manter sintonia com o que Jefferson falou",
conforme relato de um dos integrantes da comissão. Walfrido
confirmou que o "grave relato"
foi feito durante um vôo para Belo
Horizonte e disse que desaconselhou Jefferson a aceitar a suposta
oferta. Ele negou à comissão ter
conhecimento do repasse de R$ 4
milhões. Ontem, Walfrido não
quis dar entrevista.
Também foram ouvidos na
Corregedoria da Câmara os deputados Luiz Piauhylino (PDT-PE) e
Joaquim Francisco (PTB-PE).
Piauhylino foi acusado por Jefferson de ter saído do PTB por não
ter recebido dinheiro para a campanha. À comissão, Piauhylino
disse que faltou dinheiro em Pernambuco, mas negou saber do repasse financeiro entre os partidos.
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