São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CORREGEDORIA

Emerson Palmieri afirma que dinheiro repassado pelo PT ao PTB na campanha eleitoral de 2004 ainda pode estar guardado

R$ 4 mi podem estar em cofre, diz petebista

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, disse ontem à Corregedoria da Câmara dos Deputados que os R$ 4 milhões que teriam sido repassados pelo PT ao PTB em 2004 ainda podem estar no cofre do partido, em Brasília.
Deputados federais tentaram promover uma busca e apreensão ainda ontem na sede do PTB, mas não encontraram respaldo regimental para essa ação.
De acordo com relato dos deputados que presenciaram o depoimento, feito a portas fechadas, Palmieri se mostrou bastante nervoso e caiu em contradições várias vezes sobre detalhes das circunstâncias que envolveram o suposto acordo eleitoral entre o PT e o PTB em 2004.
Subproduto do escândalo do "mensalão" -a acusação de que deputados federais do PP e do PL recebiam uma mesada do PT para votar com o governo-, o acordo envolveria o repasse de R$ 20 milhões do PT para o PTB como forma de reforçar o caixa de candidatos petebistas em 2004. No ano passado, o PTB apoiou candidatos do PT a prefeito em várias capitais (como São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba).
Segundo o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), só R$ 4 milhões dos R$ 20 milhões prometidos chegaram. Ele diz que, ao lado de Palmieri, recebeu o dinheiro na sede do PTB em duas remessas entregues pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado pelo deputado de ser o operador do "mensalão".
Jefferson nega-se entretanto a dizer o que fez com o dinheiro sob o argumento de que não recebeu recibo do PT. A direção nacional do PT e Marcos Valério negam a existência desse acordo.

Sem apreensão
Assim que terminou o depoimento de Palmieri -que não falou com a imprensa-, os cinco deputados que integram a comissão de sindicância da Corregedoria consultaram a área técnica da Casa sobre a possibilidade de determinar à Polícia Federal a busca e apreensão na sede do PTB, mas foram informados que só uma Comissão Parlamentar de Inquérito teria esse poder.
Ainda de acordo com deputados, Palmieri se atrapalhou em detalhes -como dizer não ter contado o dinheiro, mas depois afirmar ter conferido a entrega-, mas apresentou datas de recebimento e formas que coincidem com as informações prestadas também ontem pela ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina Ramos Somaggio.
Além do tesoureiro informal do PTB, outras sete pessoas falaram ontem e mais duas falariam até o final da noite. Entre elas, estavam os ministros Ciro Gomes (Integração Nacional) e Walfrido Mares Guia (Turismo), que confirmaram terem ouvido relato de Roberto Jefferson sobre a existência do "mensalão".
O depoimento de Ciro Gomes durou apenas seis minutos. Ciro afirmou que Jefferson, à época presidente do partido, levou o caso a ele durante uma conversa "sobre outros assuntos", "há cerca de um ano e meio ou coisa parecida".
Ele afirmou que na ocasião em que ouviu o relato, questionou Jefferson sobre a existência de provas da veracidade do esquema e, diante da negativa do deputado, decidiu não levar o caso adiante.
"Se houvesse evidência me sentiria obrigado a andar com isso, mas, se não, assumiria uma história que não tem nenhum fundamento", afirmou. Ciro diz não acreditar que haja o esquema do "mensalão", ressalvando que considera "verossímil" apenas a possibilidade de acordo eleitoral entre os partidos que envolva dinheiro.
O ministro do Turismo, que é do PTB, "procurou manter sintonia com o que Jefferson falou", conforme relato de um dos integrantes da comissão. Walfrido confirmou que o "grave relato" foi feito durante um vôo para Belo Horizonte e disse que desaconselhou Jefferson a aceitar a suposta oferta. Ele negou à comissão ter conhecimento do repasse de R$ 4 milhões. Ontem, Walfrido não quis dar entrevista.
Também foram ouvidos na Corregedoria da Câmara os deputados Luiz Piauhylino (PDT-PE) e Joaquim Francisco (PTB-PE). Piauhylino foi acusado por Jefferson de ter saído do PTB por não ter recebido dinheiro para a campanha. À comissão, Piauhylino disse que faltou dinheiro em Pernambuco, mas negou saber do repasse financeiro entre os partidos.


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