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Planam utilizava senhas de ministério, diz ex-assessora
Testemunha diz que congressistas passavam dados à empresa da máfia dos sanguessugas
Com acesso ao sistema do
governo, empresa teria feito
projetos para a compra de
ambulâncias e simulado a
existência de concorrentes
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Assessora do Ministério da
Saúde de agosto de 2005 até
maio, quando foi presa, Maria
da Penha Lino, 52, afirmou à
Justiça Federal que "os próprios gabinetes dos parlamentares" passavam senhas para a
Planam -empresa envolvida
na máfia dos sanguessugas-
elaborar no sistema do ministério projetos destinados à
compra de ambulâncias.
Tais senhas permitiam que a
Planam apresentasse preços
superfaturados e vendesse ambulâncias "que nem sempre espelhavam as necessidades" dos
municípios ou entidades que as
compravam. O depoimento da
ex-assessora à Justiça ocorreu
no dia 19 em Cuiabá, mas não
foi divulgado porque o processo está em segredo de Justiça.
O procurador da República
Mário Lúcio Avelar disse que o
esquema, responsável desde
2001 pelo desvio de R$ 110 milhões, pagava propina a parlamentares que faziam emendas
ao Orçamento para comprar
ambulâncias superfaturadas.
Maria da Penha, que obteve a
liberdade na semana passada,
disse ter trabalhado no escritório da Planam em Brasília de
março de 2004 a março de
2005. Ela isentou o Ministério
da Saúde e nega participação no
esquema quando era assessora.
À Justiça, ela não listou os envolvidos nem disse quais parlamentares forneciam senhas. À
PF, em maio, disse que havia
283 congressistas envolvidos.
O dono da Planam é Darci José Vedoin, 60, preso em Cuiabá,
sede da empresa. À Justiça, no
dia 20, ele negou a propina aos
políticos e disse que "percorria
os gabinetes dos parlamentares, sensibilizando-os da necessidade de investimento na área
e apresentando a sua empresa
na área de comercialização de
unidades móveis de saúde".
Disse que pegou emprestado
dinheiro do ex-deputado Bispo
Rodrigues (RJ), mas não "se recorda" do valor nem se pagou a
dívida, e não se lembra do "porquê de um depósito em favor"
do ex-deputado Ronivon Santiago (AC). Os dois políticos foram presos sob suspeita de envolvimento no esquema, mas
conseguiram habeas corpus.
Segundo Maria da Penha,
houve propina. De acordo com
ela, Vedoin lhe disse que não
era preciso "fazer contato com
as entidades beneficiadas" porque "as emendas parlamentares tinham sido compradas".
Ela disse que as senhas do
ministério para elaboração de
projetos vinham dos "gabinetes
dos parlamentares". Relata que
a Planam, usando um dos códigos, apresentou ao ministério
três orçamentos de empresas-fantasmas para convencer que
praticava preços de mercado.
"Os pré-projetos eram elaborados pelas próprias entidades
beneficiadas [com emendas].
As senhas não eram repassadas
pelos parlamentares, mas sim
pelos municípios", diz Vedoin.
A CPI dos Sanguessugas
aprovou ontem a convocação e
a quebra dos sigilos fiscal, telefônico e bancário dos dirigentes da Planam. No primeiro dia
de votação da CPI, fortaleceu-se a tendência de que parlamentares não serão ouvidos. O
presidente da CPI, deputado
Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), disse que "ouvir 30 a 40
depoimentos é impossível". Ele
quer fazer um relatório prévio
para que os acusados possam
enviar as defesas por escrito.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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