São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006

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Planam utilizava senhas de ministério, diz ex-assessora

Testemunha diz que congressistas passavam dados à empresa da máfia dos sanguessugas

Com acesso ao sistema do governo, empresa teria feito projetos para a compra de ambulâncias e simulado a existência de concorrentes


HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Assessora do Ministério da Saúde de agosto de 2005 até maio, quando foi presa, Maria da Penha Lino, 52, afirmou à Justiça Federal que "os próprios gabinetes dos parlamentares" passavam senhas para a Planam -empresa envolvida na máfia dos sanguessugas- elaborar no sistema do ministério projetos destinados à compra de ambulâncias.
Tais senhas permitiam que a Planam apresentasse preços superfaturados e vendesse ambulâncias "que nem sempre espelhavam as necessidades" dos municípios ou entidades que as compravam. O depoimento da ex-assessora à Justiça ocorreu no dia 19 em Cuiabá, mas não foi divulgado porque o processo está em segredo de Justiça.
O procurador da República Mário Lúcio Avelar disse que o esquema, responsável desde 2001 pelo desvio de R$ 110 milhões, pagava propina a parlamentares que faziam emendas ao Orçamento para comprar ambulâncias superfaturadas.
Maria da Penha, que obteve a liberdade na semana passada, disse ter trabalhado no escritório da Planam em Brasília de março de 2004 a março de 2005. Ela isentou o Ministério da Saúde e nega participação no esquema quando era assessora. À Justiça, ela não listou os envolvidos nem disse quais parlamentares forneciam senhas. À PF, em maio, disse que havia 283 congressistas envolvidos.
O dono da Planam é Darci José Vedoin, 60, preso em Cuiabá, sede da empresa. À Justiça, no dia 20, ele negou a propina aos políticos e disse que "percorria os gabinetes dos parlamentares, sensibilizando-os da necessidade de investimento na área e apresentando a sua empresa na área de comercialização de unidades móveis de saúde".
Disse que pegou emprestado dinheiro do ex-deputado Bispo Rodrigues (RJ), mas não "se recorda" do valor nem se pagou a dívida, e não se lembra do "porquê de um depósito em favor" do ex-deputado Ronivon Santiago (AC). Os dois políticos foram presos sob suspeita de envolvimento no esquema, mas conseguiram habeas corpus.
Segundo Maria da Penha, houve propina. De acordo com ela, Vedoin lhe disse que não era preciso "fazer contato com as entidades beneficiadas" porque "as emendas parlamentares tinham sido compradas".
Ela disse que as senhas do ministério para elaboração de projetos vinham dos "gabinetes dos parlamentares". Relata que a Planam, usando um dos códigos, apresentou ao ministério três orçamentos de empresas-fantasmas para convencer que praticava preços de mercado. "Os pré-projetos eram elaborados pelas próprias entidades beneficiadas [com emendas]. As senhas não eram repassadas pelos parlamentares, mas sim pelos municípios", diz Vedoin.
A CPI dos Sanguessugas aprovou ontem a convocação e a quebra dos sigilos fiscal, telefônico e bancário dos dirigentes da Planam. No primeiro dia de votação da CPI, fortaleceu-se a tendência de que parlamentares não serão ouvidos. O presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), disse que "ouvir 30 a 40 depoimentos é impossível". Ele quer fazer um relatório prévio para que os acusados possam enviar as defesas por escrito.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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