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Em discurso na abertura da Cimeira, presidente afirma que
investimento externo não pode ser "foco gerador de instabilidade ou
mecanismo de concentração de renda" e pede "globalização solidária"
FHC ataca capital que não gera progresso
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial ao Rio
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, ao abrir
a reunião de cúpula entre União
Européia e América Latina e Caribe, que é preciso encontrar meios
para garantir que "os fluxos de capital sejam instrumento de progresso, e não o foco gerador de instabilidade ou simples mecanismo
de concentração de renda".
Líderes de 15 países europeus e
33 da América Latina e do Caribe
se reúnem de novo hoje para sessões de trabalho, ao fim das quais
assinarão a Declaração do Rio.
Ao tratar dos fluxos de capital,
FHC abordou um dos pontos principais da agenda do encontro.
A discussão sobre "a nova arquitetura financeira internacional"
deve mobilizar os 49 líderes (48 nacionais mais o da Comissão Européia). A citação de FHC é um ataque ao capital especulativo.
Desde as recentes crises da Ásia e
da Rússia, nos últimos dois anos,
debate-se a possibilidade de admitir que governos nacionais controlem os fluxos desse tipo de capital,
injetado em países que oferecem
altas taxas de remuneração para
atraí-lo e retirados deles aos primeiros indícios de instabilidade.
No seu discurso de abertura (leia
íntegra na pág. 1-6), FHC apresentou a posição do Brasil sobre muitos dos temas que constarão do documento final. Em relação a alguns
deles, o presidente manifestou
opinião contrária à dos países europeus, como a questão dos Bálcãs.
"A crise do Kosovo deixa-nos a
lição de que a paz duradoura passa
necessariamente pela ONU" (Organização das Nações Unidas).
Países da Europa Ocidental e os
EUA atacaram a Iugoslávia sem
mandato da ONU. Apesar de seu
discurso de ontem, o Brasil não votou no Conselho de Segurança da
ONU contra essa intervenção.
FHC fez críticas indiretas à hegemonia dos EUA na geopolítica
mundial pós-Guerra Fria. "O que
fizermos juntos ajudará a definir
os contornos da ordem internacional no século 21 (...), na qual a aspiração à liderança não seja concebível sem aspiração à liberdade".
Mas, de novo sem citar nomes,
também criticou políticas da própria União Européia: "(...) O protecionismo aberto ou disfarçado, a
discriminação, o unilateralismo, a
voracidade especulativa dos mercados contribuem para debilitar as
relações econômicas".
Num bom golpe retórico, afirmou que "a globalização é um processo irreversível, mas ( ...) deve
valer para todos. Não pode ser dádiva para os ricos e privação para
os pobres. Transformar a globalização assimétrica em globalização
solidária é uma questão de justiça e
de aspiração democrática".
Além dessas declarações sobre
temas que podem ser considerados divisores dos dois blocos geográficos reunidos no Rio, FHC falou sobre assuntos a respeito dos
quais há total convergência. Por
exemplo: fortalecimento da democracia e esforço para aumentar o
bem-estar e "promover o desenvolvimento integral da pessoa".
A Declaração do Rio, como quase todos os documentos desse gênero, será abrangente e genérico.
Será uma carta de boas intenções
vagas, sem especificar métodos ou
prazos para o cumprimento de
seus objetivos consensuais.
Mas estabelecerá "mecanismos
de seguimento" para que os resultados da Cúpula do Rio não caiam
no completo esquecimento.
Comissão formada por seis países latino-americanos e quatro da
Europa será criada para dar continuidade à aproximação entre as
duas regiões.
É possível que se estabeleça data
e local para uma próxima reunião
de cúpula. Há consenso para que a
sede do próximo encontro seja a
Espanha.
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