São Paulo, Terça-feira, 29 de Junho de 1999
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Em discurso na abertura da Cimeira, presidente afirma que investimento externo não pode ser "foco gerador de instabilidade ou mecanismo de concentração de renda" e pede "globalização solidária"
FHC ataca capital que não gera progresso

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial ao Rio

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, ao abrir a reunião de cúpula entre União Européia e América Latina e Caribe, que é preciso encontrar meios para garantir que "os fluxos de capital sejam instrumento de progresso, e não o foco gerador de instabilidade ou simples mecanismo de concentração de renda".
Líderes de 15 países europeus e 33 da América Latina e do Caribe se reúnem de novo hoje para sessões de trabalho, ao fim das quais assinarão a Declaração do Rio.
Ao tratar dos fluxos de capital, FHC abordou um dos pontos principais da agenda do encontro.
A discussão sobre "a nova arquitetura financeira internacional" deve mobilizar os 49 líderes (48 nacionais mais o da Comissão Européia). A citação de FHC é um ataque ao capital especulativo.
Desde as recentes crises da Ásia e da Rússia, nos últimos dois anos, debate-se a possibilidade de admitir que governos nacionais controlem os fluxos desse tipo de capital, injetado em países que oferecem altas taxas de remuneração para atraí-lo e retirados deles aos primeiros indícios de instabilidade.
No seu discurso de abertura (leia íntegra na pág. 1-6), FHC apresentou a posição do Brasil sobre muitos dos temas que constarão do documento final. Em relação a alguns deles, o presidente manifestou opinião contrária à dos países europeus, como a questão dos Bálcãs.
"A crise do Kosovo deixa-nos a lição de que a paz duradoura passa necessariamente pela ONU" (Organização das Nações Unidas).
Países da Europa Ocidental e os EUA atacaram a Iugoslávia sem mandato da ONU. Apesar de seu discurso de ontem, o Brasil não votou no Conselho de Segurança da ONU contra essa intervenção.
FHC fez críticas indiretas à hegemonia dos EUA na geopolítica mundial pós-Guerra Fria. "O que fizermos juntos ajudará a definir os contornos da ordem internacional no século 21 (...), na qual a aspiração à liderança não seja concebível sem aspiração à liberdade".
Mas, de novo sem citar nomes, também criticou políticas da própria União Européia: "(...) O protecionismo aberto ou disfarçado, a discriminação, o unilateralismo, a voracidade especulativa dos mercados contribuem para debilitar as relações econômicas".
Num bom golpe retórico, afirmou que "a globalização é um processo irreversível, mas ( ...) deve valer para todos. Não pode ser dádiva para os ricos e privação para os pobres. Transformar a globalização assimétrica em globalização solidária é uma questão de justiça e de aspiração democrática".
Além dessas declarações sobre temas que podem ser considerados divisores dos dois blocos geográficos reunidos no Rio, FHC falou sobre assuntos a respeito dos quais há total convergência. Por exemplo: fortalecimento da democracia e esforço para aumentar o bem-estar e "promover o desenvolvimento integral da pessoa".
A Declaração do Rio, como quase todos os documentos desse gênero, será abrangente e genérico.
Será uma carta de boas intenções vagas, sem especificar métodos ou prazos para o cumprimento de seus objetivos consensuais.
Mas estabelecerá "mecanismos de seguimento" para que os resultados da Cúpula do Rio não caiam no completo esquecimento.
Comissão formada por seis países latino-americanos e quatro da Europa será criada para dar continuidade à aproximação entre as duas regiões.
É possível que se estabeleça data e local para uma próxima reunião de cúpula. Há consenso para que a sede do próximo encontro seja a Espanha.


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