São Paulo, Terça-feira, 29 de Junho de 1999
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ANÁLISE
Acordo impõe jogo duplo para o país

do enviado especial ao Rio

Abrir o maior mercado do mundo, o dos 15 países da União Européia, para a produção brasileira (e do Mercosul), objetivo brasileiro no processo ontem lançado, não significa que, já na semana que vem, começarão a brotar empregos para absorver os 10 milhões de desempregados que o Datafolha constatou em sua mais recente pesquisa.
Não é assim, em primeiro lugar, porque as negociações nem têm data para de fato começar. Só em novembro sairá, eventualmente, um calendário.
Segundo porque tampouco está definido o momento em que elas vão terminar.
Terceiro (e principal) porque o efeito, sobre o emprego no Brasil, pode ser exatamente o inverso.

Efeito
Tanto no Brasil como na Argentina, a abertura dos mercados iniciada a partir dos anos 90 acabou gerando efeito perverso: os produtores locais não conseguiram enfrentar a concorrência externa e, muitos, quebraram.
Outros acabaram vendendo seus negócios para firmas estrangeiras que, invariavelmente, reduzem os quadros, em busca da eficiência para competir tanto no próprio mercado como no exterior.
Brasil e Argentina registram, hoje, índices recordes de desemprego, que, embora não possam ser atribuídos unicamente à abertura, se devem em parte a ela.
Agora, o dilema que se coloca para as economias mais pobres, como as do Sul, é simples: querem abrir o mercado europeu de bens agrícolas e alimentares, itens em que Brasil e Argentina são realmente competitivos.
Mas, como em qualquer negociação, têm de dar algo em troca. E a troca pode ser desvantajosa.

Onda liberalizante
Por importantes que sejam tais áreas, os empregos por elas gerados são, de modo geral, de remuneração mais baixa do que aqueles nos setores de ponta da economia. Logo, conseguir a abertura da Europa em troca de uma nova onda liberalizante no Sul pode ter como consequência criar empregos na área agrícola-alimentar (de baixos salários) e eliminá-los na ponta da indústria e dos serviços sofisticados, pela entrada de firmas estrangeiras que buscam mais a eficiência que o atendimento de carências sociais.
Como equilibrar as duas pontas é uma questão que não se resolve só na mesa de negociações internacionais.
Depende de políticas internas que não estão nem remotamente desenhadas, ao menos não com a urgência pedida pela iminência de negociações em três ambientes (com Europa, com EUA e com o resto do planeta, na Rodada do Milênio). (CR)


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