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ANÁLISE
Acordo impõe jogo duplo para o país
do enviado especial ao Rio
Abrir o maior mercado do mundo, o dos 15 países da União Européia, para a produção brasileira (e
do Mercosul), objetivo brasileiro
no processo ontem lançado, não
significa que, já na semana que
vem, começarão a brotar empregos para absorver os 10 milhões de
desempregados que o Datafolha
constatou em sua mais recente
pesquisa.
Não é assim, em primeiro lugar,
porque as negociações nem têm
data para de fato começar. Só em
novembro sairá, eventualmente,
um calendário.
Segundo porque tampouco está
definido o momento em que elas
vão terminar.
Terceiro (e principal) porque o
efeito, sobre o emprego no Brasil,
pode ser exatamente o inverso.
Efeito
Tanto no Brasil como na Argentina, a abertura dos mercados iniciada a partir dos anos 90 acabou
gerando efeito perverso: os produtores locais não conseguiram enfrentar a concorrência externa e,
muitos, quebraram.
Outros acabaram vendendo seus
negócios para firmas estrangeiras
que, invariavelmente, reduzem os
quadros, em busca da eficiência
para competir tanto no próprio
mercado como no exterior.
Brasil e Argentina registram, hoje, índices recordes de desemprego, que, embora não possam ser
atribuídos unicamente à abertura,
se devem em parte a ela.
Agora, o dilema que se coloca para as economias mais pobres, como as do Sul, é simples: querem
abrir o mercado europeu de bens
agrícolas e alimentares, itens em
que Brasil e Argentina são realmente competitivos.
Mas, como em qualquer negociação, têm de dar algo em troca. E a
troca pode ser desvantajosa.
Onda liberalizante
Por importantes que sejam tais
áreas, os empregos por elas gerados são, de modo geral, de remuneração mais baixa do que aqueles
nos setores de ponta da economia.
Logo, conseguir a abertura da Europa em troca de uma nova onda
liberalizante no Sul pode ter como
consequência criar empregos na
área agrícola-alimentar (de baixos
salários) e eliminá-los na ponta da
indústria e dos serviços sofisticados, pela entrada de firmas estrangeiras que buscam mais a eficiência que o atendimento de carências
sociais.
Como equilibrar as duas pontas é
uma questão que não se resolve só
na mesa de negociações internacionais.
Depende de políticas internas
que não estão nem remotamente
desenhadas, ao menos não com a
urgência pedida pela iminência de
negociações em três ambientes
(com Europa, com EUA e com o
resto do planeta, na Rodada do Milênio).
(CR)
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