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Programa especial permitia fraude
DO ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS
Os softwares DAMST e SEFPSIT1, feitos exclusivamente para
ocultar notas, foram os vetores do
esquema de sonegação fiscal que
lesou os cofres maranhenses em
pelo menos R$ 33,9 milhões. Os
programas foram instalados nos
computadores da Prodamar
(Companhia de Processamento
de Dados do Maranhão) em 1993,
no penúltimo ano do governo
Edison Lobão (1991-1994).
Os dois programas permitiam
aos fraudadores alterar o status
das notas fiscais entregues pelos
comerciantes ao entrar ou sair do
Maranhão por terra. O status é o
dígito que acompanha o número
da nota fiscal e indica se as mercadorias entram ou saem do Estado
e se o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) foi recolhido pelo fabricante
do produto transportado.
Somente os status de 1 a 4 e o 1/
RO são válidos. Com os softwares,
o dígito era alterado para 5 ou 9.
Como o programa oficial não reconhecia esses dois dígitos, as notas fiscais eram automaticamente
apagadas dos computadores. O
DAMST permitia a alteração do
status a partir da digitação de um
intervalo de números das notas
fiscais de um mesmo contribuinte. Com o SEFPSIT1, a troca do dígito era feita num determinado
intervalo de tempo. As notas também tinham de ser do mesmo
contribuinte.
O DAMST foi batizado com as
iniciais de parte do sobrenome de
seu criador, o analista de sistemas
Jorge Nunes da Matta. "O ST provavelmente refere-se a status",
afirma a delegada da polícia fazendária Maria Cristina Resende
Meneses. Da Matta, que confessou o crime no segundo depoimento à polícia, era funcionário
da Prodamar, cedido à Gerência
de Estado da Receita Estadual.
A digitação, segundo a delegada, era feita por Carlos Sérgio Pereira, funcionário da Prodamar
cedido ao Detran. O digitador foi
flagrado acessando o DAMST durante "monitoramento" feito pela
Auditoria Geral do Estado, na fase
preliminar da investigação.
No relatório final do inquérito,
de dezembro de 2000, a delegada
considerou "negligente" a possibilidade de acesso ao dados do
"Projeto Fronteira" a partir de
"qualquer computador do Estado
interligado em rede à Prodamar".
A venda dos serviços aos empresários interessados em fraudar
o fisco ficava a cargo do fiscal da
Receita estadual Antônio Alves
Braga, segundo Maria Cristina.
Braga e Pereira sempre negaram
o envolvimento no esquema. A
Folha não conseguiu localizá-los.
O envolvimento dos empresários na fraude foi comprovado
pelo exame dos livros fiscais das
empresas identificadas após a perícia dos computadores apreendidos na Prodamar. Em nenhum
deles havia registro das notas apagadas dos computadores do fisco.
A perícia foi feita pela Polícia Federal, durante oito meses. A fraude foi denunciada pela programadora Ana Dalva Silva, que fora
alertada por um anônimo.
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