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ANÁLISE
PT e FHC têm aliados
externos semelhantes
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Enquanto o presidente Fernando Henrique Cardoso prepara-se
para receber o primeiro-ministro
britânico, o trabalhista Tony
Blair, o líder até agora na corrida
sucessória, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já tem agendado para outubro um encontro em Paris com
Lionel Jospin, primeiro-ministro
francês.
De alguma maneira, é a transposição, para o terreno das relações internacionais, do estreitamento de diferenças entre tucanos e petistas. Afinal, tanto Blair
como Jospin são líderes de partidos que pertencem à Internacional Socialista e se envolveram,
ambos, nas discussões de cúpula
sobre a "Terceira Via".
Trata-se de um rótulo inventado por Blair para designar políticas que se distanciariam tanto do
liberalismo puro e duro de uma
Margaret Thatcher, por exemplo,
como das tendências estatizantes
da velha social-democracia européia.
Jospin nunca ficou à vontade
com a expressão "Terceira Via", o
que ajudou a mudar o rótulo para
"Governança Progressista", que
continua valendo.
Mas as diferenças entre Jospin e
Blair, aliados preferenciais do
Partido dos Trabalhadores e de
FHC, respectivamente, vão algo
além de rótulos.
Mais esquerdista
O premiê francês é tido como o
mais esquerdista dos governantes
da social-democracia que ocupam o poder em três dos quatro
principais países da Europa (a exceção é a Itália).
A introdução das 35 horas semanais de trabalho é a principal
política citada por petistas brasileiros para tentar provar que Jospin é mais social-democrata que
Blair.
Na prática, é realmente difícil
fazer a distinção. Se, de fato, Jospin encampou uma bandeira das
centrais sindicais, como as 35 horas, foi também o governante
francês que mais privatizações
promoveu até hoje. E Blair introduziu, por exemplo, o salário mínimo, anátema nos tempos do liberalismo.
"A administração Blair, contra
todas as minhas previsões pré-1997 [ano em que Blair venceu as
eleições", montou um pacote coerente de política social, que é diferente tanto de seus predecessores
conservadores e trabalhistas
quanto de outros países europeus", escreve Howard Glennerster, professor de política social da
London School of Economics, para o caudaloso livro "The Blair Effect", que tem 665 páginas de análise, tema por tema, dos quatro
primeiros anos de Blair (reeleito
em junho).
Reunião em setembro
Prova adicional de que as diferenças não são tantas assim, Blair,
Jospin e FHC estarão juntos de
novo em setembro, na Suécia, na
terceira sessão de cúpula da "Governança Progressista".
As duas primeiras foram na Itália e na Alemanha, mas não passaram de uma espécie de seminário
acadêmico de alto nível.
Agora, a idéia é descer a experiências concretas de "progressismo" na maneira de governar, distribuídas por sete áreas: requalificação profissional e educação
continuada (tema especialmente
caro a Blair); saúde; violência;
multiculturalismo; desenvolvimento sustentável; "digital divide", a brecha entre os que estão
conectados à internet e às novas
tecnologias e os que não estão; e
intercâmbio internacional.
É até possível, mas não é certo,
que PT e FHC, Blair e Jospin, tenham propostas diferentes em cada um desses capítulos. Mas não
há como discordar de que se trata
da agenda óbvia e inescapável de
qualquer governante, do mundo
rico ou do mundo pobre. O que
ajuda a diminuir as distâncias entre as propostas.
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