São Paulo, domingo, 29 de julho de 2001

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ANÁLISE

PT e FHC têm aliados externos semelhantes

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Enquanto o presidente Fernando Henrique Cardoso prepara-se para receber o primeiro-ministro britânico, o trabalhista Tony Blair, o líder até agora na corrida sucessória, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já tem agendado para outubro um encontro em Paris com Lionel Jospin, primeiro-ministro francês.
De alguma maneira, é a transposição, para o terreno das relações internacionais, do estreitamento de diferenças entre tucanos e petistas. Afinal, tanto Blair como Jospin são líderes de partidos que pertencem à Internacional Socialista e se envolveram, ambos, nas discussões de cúpula sobre a "Terceira Via".
Trata-se de um rótulo inventado por Blair para designar políticas que se distanciariam tanto do liberalismo puro e duro de uma Margaret Thatcher, por exemplo, como das tendências estatizantes da velha social-democracia européia.
Jospin nunca ficou à vontade com a expressão "Terceira Via", o que ajudou a mudar o rótulo para "Governança Progressista", que continua valendo.
Mas as diferenças entre Jospin e Blair, aliados preferenciais do Partido dos Trabalhadores e de FHC, respectivamente, vão algo além de rótulos.

Mais esquerdista
O premiê francês é tido como o mais esquerdista dos governantes da social-democracia que ocupam o poder em três dos quatro principais países da Europa (a exceção é a Itália).
A introdução das 35 horas semanais de trabalho é a principal política citada por petistas brasileiros para tentar provar que Jospin é mais social-democrata que Blair.
Na prática, é realmente difícil fazer a distinção. Se, de fato, Jospin encampou uma bandeira das centrais sindicais, como as 35 horas, foi também o governante francês que mais privatizações promoveu até hoje. E Blair introduziu, por exemplo, o salário mínimo, anátema nos tempos do liberalismo.
"A administração Blair, contra todas as minhas previsões pré-1997 [ano em que Blair venceu as eleições", montou um pacote coerente de política social, que é diferente tanto de seus predecessores conservadores e trabalhistas quanto de outros países europeus", escreve Howard Glennerster, professor de política social da London School of Economics, para o caudaloso livro "The Blair Effect", que tem 665 páginas de análise, tema por tema, dos quatro primeiros anos de Blair (reeleito em junho).

Reunião em setembro
Prova adicional de que as diferenças não são tantas assim, Blair, Jospin e FHC estarão juntos de novo em setembro, na Suécia, na terceira sessão de cúpula da "Governança Progressista".
As duas primeiras foram na Itália e na Alemanha, mas não passaram de uma espécie de seminário acadêmico de alto nível.
Agora, a idéia é descer a experiências concretas de "progressismo" na maneira de governar, distribuídas por sete áreas: requalificação profissional e educação continuada (tema especialmente caro a Blair); saúde; violência; multiculturalismo; desenvolvimento sustentável; "digital divide", a brecha entre os que estão conectados à internet e às novas tecnologias e os que não estão; e intercâmbio internacional.
É até possível, mas não é certo, que PT e FHC, Blair e Jospin, tenham propostas diferentes em cada um desses capítulos. Mas não há como discordar de que se trata da agenda óbvia e inescapável de qualquer governante, do mundo rico ou do mundo pobre. O que ajuda a diminuir as distâncias entre as propostas.



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