São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS

Assessores dos deputados Janene (PP) e Valdemar (PL) têm nomes escritos em faxes com indicativo das quantias que podiam retirar

CPI vê indícios de que funcionária sacava para parlamentares

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Correios encontrou ontem indícios de que era para deputados e seus assessores a maior parte do dinheiro sacado pela diretora financeira da SMPB, Simone Reis Vasconcelos, de uma conta da agência no Banco Rural, em Brasília.
As cópias de faxes e de e-mails encontrados no material remetido na terça feira pelo STF (Supremo Tribunal Federal) à CPI contém anotações manuscritas nos processos referentes aos R$ 5,595 milhões retirados em dinheiro por Simone nos anos de 2003 e 2004 da conta da SPMB Comunicação no Banco Rural.
Esses faxes e e-mails eram enviados de Belo Horizonte para Brasília. Eram alertas para que a agência do Banco Rural na capital federal se preparasse para os saques de quantias altas em dinheiro, reservando o numerário.
No verso de quatro desses faxes há as seguintes anotações escritas a mão:
1) saque de 17.dez.2003, de R$ 350 mil: "Jacinto Lamas 100; Roberto Pinho 100; Célio 100";
2) saque de 7.jan.2004, de R$ 450 mil: "Irmão de Jacinto Lamas 350; Alexandre 100";
3) saque de 13.jan.2004, de R$ 300 mil: "José Luis 50; Jacinto Lamas 200";
4) saque de 20.jan.2004, de R$ 400 mil: "João Cláudio 200; Jacinto Lamas 200".
Para o deputado ACM Neto (PFL-BA), essas anotações manuscritas indicam parcialmente para quem a diretora financeira da SMPB entregava o dinheiro. "Se a Simone vier com outra versão ao depor na CPI terá dificuldades para sustentá-la. Está claro que parte desse dinheiro sacado por ela ia para o esquema de deputados", afirma Neto.
O ex-tesoureiro do Banco José Francisco de Almeida Rego havia revelado em depoimento à PF que Simone deixava na agência uma lista de pessoas que poderiam retirar o dinheiro.
Dos nomes que aparecem manuscritos no verso nesses faxes, a CPI dos Correios acredita ter identificado três. Jacinto Lamas é o ex-tesoureiro nacional do PL, ligado ao presidente nacional da sigla, deputado Valdemar Costa Neto (SP).
Até o momento, a CPI havia apurado saques num total de R$ 1,65 milhão por Lamas da conta da SMPB no Banco Rural de Brasília. A serem confirmados os repasses realizados a ele por Simone, a quantia subiria para R$ 2,3 milhões -considerando-se que o dinheiro retirado pela pessoa identificada como "irmão de Jacinto Lamas" tenha sido repassado para o então tesoureiro do PL.
A segunda pessoa que a CPI acredita ter identificado é "João Cláudio". Seria João Cláudio Carvalho Genu, ex-chefe de gabinete do deputado José Janene (PP-PR). Janene é líder do partido na Câmara.
Até agora, havia registros confirmados de R$ 850 mil em saques realizados por Genu. Os novos dados, se confirmados, farão o valor saltar para R$ 1,25 milhão.
O terceiro identificado pela CPI é "Roberto Pinho". Seria Roberto da Costa Pinho, ex-assessor do ministro da Cultura, Gilberto Gil. Pinho já tinha sacado R$ 350 mil. Com o que teria recebido de Simone, o valor recebido por Pinho subiria para R$ 450 mil. Pinho também trabalhou em 2002 como coordenador de marketing da campanha ao Senado de Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI dos Correios.
"Alexandre", "José Luís" e "Célio" não foram identificados pela CPI. Existe um José Luís entre os sacadores, José Luís Alves, assessor do ex-ministro dos Transportes e hoje prefeito de Uberaba, Anderson Adauto.
A Polícia Federal tem os originais desses faxes. Na semana que vem, deve começar a apresentar a perícia que está sendo realizada nos documentos, todos apreendidos no Banco Rural, em Belo Horizonte. A idéia é fazer exames grafotécnicos para identificar o autor das anotações manuscritas.


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