São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Máfia subornou funcionário de associação de municípios

Em Mato Grosso, onde esquema atingiu mais cidades, servidor seria elo com prefeitos

Segundo Vedoin, maioria dos prefeitos não recebeu propina; se não permitissem fraude, deputados diziam que cancelariam emendas


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cooptação de funcionário ligado à associação de municípios, pagamento de propina a prefeitos e licitação direcionada para a compra de ambulâncias e equipamentos hospitalares com o conhecimento de servidores municipais estão entre as formas de atuação nas prefeituras relatadas por Luiz Antonio Trevisan Vedoin em seu depoimento à Justiça Federal.
Acusado de ser o chefe da quadrilha dos sanguessugas, Vedoin cita dezenas de casos de prefeitos e ex-ocupantes do cargo que teriam recebido dinheiro após licitações, pagas com emendas parlamentares.
No entanto, a maioria dos prefeitos, segundo o empresário, teria conhecimento da licitação direcionada, mas não recebeu dinheiro. Já os parlamentares autores das emendas ficavam, ainda de acordo com Vedoin, com um valor equivalente a 10% do total liberado.
"Se os municípios não aceitassem as condições impostas pelos parlamentares, perdiam o dinheiro da emenda", diz a transcrição do depoimento.
As fraudes atingiram pelo menos 493 cidades em 22 Estados, sendo que o maior número de municípios citados está em Mato Grosso (110).
É nesse Estado que Vedoin afirma que o esquema teve a ajuda de uma pessoa chamada Wagner, da AMM (Associação Mato-grossense dos Municípios). Wagner seria o responsável pela intermediação com prefeituras beneficiadas para que elas aceitassem direcionar a venda para empresas ligadas ao esquema, como a Planam.
Em contrapartida, o funcionário recebia um percentual sobre o valor total dos recursos usados na licitação.
A relação da ex-servidora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino com as prefeituras é detalhada no depoimento. "Maria da Penha teria acertado com o acusado Wagner, da AMM, 10% sobre o valor dos recursos a título de participação na obtenção dos recursos para os municípios."
Ele continua dizendo que o "acusado Wagner seria o responsável pela intermediação dos municípios beneficiados".
A assessoria de imprensa da AMM informou não ter informações sobre Wagner, mas que ele não trabalha na entidade.

Propina a prefeitos
Vedoin também envolve o presidente da AMM, José Aparecido dos Santos, que é prefeito de Nova Marilândia. O empresário diz que Santos teria recebido R$ 18 mil em 2001, após quatro vendas feitas por empresas ligadas ao grupo.
Por meio da assessoria da AMM, Santos contestou as afirmações e disse nunca ter recebido dinheiro da Planam. "Não tenho nenhuma participação nesse esquema e vou solicitar a cópia do depoimento do senhor Luiz Antonio Vedoin para tomar as providências judiciais cabíveis", afirmou o prefeito por meio de nota.
Outro caso citado por Vedoin é o do prefeito de Colíder (MT), Celso Paulo Banazeski, que teria recebido R$ 18.400 em dinheiro após licitações em 2004 envolvendo emendas no valor de R$ 104 mil e R$ 80 mil.
Também por meio da assessoria da AMM, Banazeski afirmou ter sido pego de surpresa com a citação. Negou acordo ou negociação com a empresa.
Em alguns trechos, Vedoin não diz o nome do prefeito, apenas o período em que houve o repasse e o valor. Exemplo disso é Vinhedo (SP). O empresário diz que, entre agosto e setembro de 2005, o próprio prefeito de Vinhedo pediu pessoalmente o pagamento de 10% sobre o valor licitado. O dinheiro -R$ 39 mil- teria sido pago ao assessor jurídico da cidade.

A pedido
"O próprio prefeito de Vinhedo, entre agosto e setembro de 2005, pediu pessoalmente ao interrogando e ao Ronildo [um dos acusados de integrar a máfia] o pagamento de 10% sobre o valor licitado. Que o interrogando e o Ronildo entregaram pessoalmente os R$ 39 mil ao doutor Celso, assessor jurídico do município. Que a entrega se deu a pedido do prefeito."
O prefeito João Carlos Donato nega ter tido contato com Vedoin. O prefeito informou que a licitação para a compra de equipamentos a que se refere o empresário é de 2004. A assessoria de imprensa do prefeito disse que ele já solicitou à Justiça acesso ao depoimento, mas o juiz Jeferson Schneider, da 2ª Vara da Justiça Federal, em Mato Grosso, negou o pedido.
No Paraná, segundo Estado com mais prefeituras envolvidas (50), Vedoin afirma que não houve pagamento a nenhum dos servidores ou prefeitos, embora todas as licitações estivessem direcionadas.


Texto Anterior: Para deputado, empresário quer "salvo-conduto"
Próximo Texto: Ex-ministro fez emendas que somam R$ 829,6 mil para ambulâncias, diz ONG
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.