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Máfia subornou funcionário de associação de municípios
Em Mato Grosso, onde esquema atingiu mais cidades, servidor seria elo com prefeitos
Segundo Vedoin, maioria dos prefeitos não recebeu propina; se não permitissem fraude, deputados diziam que cancelariam emendas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cooptação de funcionário ligado à associação de municípios, pagamento de propina a
prefeitos e licitação direcionada para a compra de ambulâncias e equipamentos hospitalares com o conhecimento de servidores municipais estão entre
as formas de atuação nas prefeituras relatadas por Luiz Antonio Trevisan Vedoin em seu
depoimento à Justiça Federal.
Acusado de ser o chefe da
quadrilha dos sanguessugas,
Vedoin cita dezenas de casos de
prefeitos e ex-ocupantes do
cargo que teriam recebido dinheiro após licitações, pagas
com emendas parlamentares.
No entanto, a maioria dos
prefeitos, segundo o empresário, teria conhecimento da licitação direcionada, mas não recebeu dinheiro. Já os parlamentares autores das emendas
ficavam, ainda de acordo com
Vedoin, com um valor equivalente a 10% do total liberado.
"Se os municípios não aceitassem as condições impostas
pelos parlamentares, perdiam
o dinheiro da emenda", diz a
transcrição do depoimento.
As fraudes atingiram pelo
menos 493 cidades em 22 Estados, sendo que o maior número
de municípios citados está em
Mato Grosso (110).
É nesse Estado que Vedoin
afirma que o esquema teve a
ajuda de uma pessoa chamada
Wagner, da AMM (Associação
Mato-grossense dos Municípios). Wagner seria o responsável pela intermediação com
prefeituras beneficiadas para
que elas aceitassem direcionar
a venda para empresas ligadas
ao esquema, como a Planam.
Em contrapartida, o funcionário recebia um percentual
sobre o valor total dos recursos
usados na licitação.
A relação da ex-servidora do
Ministério da Saúde Maria da
Penha Lino com as prefeituras
é detalhada no depoimento.
"Maria da Penha teria acertado
com o acusado Wagner, da
AMM, 10% sobre o valor dos recursos a título de participação
na obtenção dos recursos para
os municípios."
Ele continua dizendo que o
"acusado Wagner seria o responsável pela intermediação
dos municípios beneficiados".
A assessoria de imprensa da
AMM informou não ter informações sobre Wagner, mas que
ele não trabalha na entidade.
Propina a prefeitos
Vedoin também envolve o
presidente da AMM, José Aparecido dos Santos, que é prefeito de Nova Marilândia. O empresário diz que Santos teria
recebido R$ 18 mil em 2001,
após quatro vendas feitas por
empresas ligadas ao grupo.
Por meio da assessoria da
AMM, Santos contestou as afirmações e disse nunca ter recebido dinheiro da Planam. "Não
tenho nenhuma participação
nesse esquema e vou solicitar a
cópia do depoimento do senhor
Luiz Antonio Vedoin para tomar as providências judiciais
cabíveis", afirmou o prefeito
por meio de nota.
Outro caso citado por Vedoin
é o do prefeito de Colíder (MT),
Celso Paulo Banazeski, que teria recebido R$ 18.400 em dinheiro após licitações em 2004
envolvendo emendas no valor
de R$ 104 mil e R$ 80 mil.
Também por meio da assessoria da AMM, Banazeski afirmou ter sido pego de surpresa
com a citação. Negou acordo ou
negociação com a empresa.
Em alguns trechos, Vedoin
não diz o nome do prefeito,
apenas o período em que houve
o repasse e o valor. Exemplo
disso é Vinhedo (SP). O empresário diz que, entre agosto e setembro de 2005, o próprio prefeito de Vinhedo pediu pessoalmente o pagamento de 10% sobre o valor licitado. O dinheiro
-R$ 39 mil- teria sido pago ao
assessor jurídico da cidade.
A pedido
"O próprio prefeito de Vinhedo, entre agosto e setembro de
2005, pediu pessoalmente ao
interrogando e ao Ronildo [um
dos acusados de integrar a máfia] o pagamento de 10% sobre
o valor licitado. Que o interrogando e o Ronildo entregaram
pessoalmente os R$ 39 mil ao
doutor Celso, assessor jurídico
do município. Que a entrega se
deu a pedido do prefeito."
O prefeito João Carlos Donato nega ter tido contato com
Vedoin. O prefeito informou
que a licitação para a compra de
equipamentos a que se refere o
empresário é de 2004. A assessoria de imprensa do prefeito
disse que ele já solicitou à Justiça acesso ao depoimento, mas o
juiz Jeferson Schneider, da 2ª
Vara da Justiça Federal, em
Mato Grosso, negou o pedido.
No Paraná, segundo Estado
com mais prefeituras envolvidas (50), Vedoin afirma que
não houve pagamento a nenhum dos servidores ou prefeitos, embora todas as licitações
estivessem direcionadas.
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