|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Delúbio desviou R$ 15 mi da Saúde, sugerem grampos
Relatório da PF diz que ex-tesoureiro e ex-ministro Humberto Costa lideravam esquemas
Investigações sobre fraudes em licitações indicam que irregularidades ocorriam também no governo de Fernando Henrique Cardoso
ANDRÉA MICHAEL
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Relatório da Polícia Federal
sobre a Operação Vampiro afirma que o esquema de fraudes a
licitações instalado no Ministério da Saúde era comandado
por dois grandes grupos: um ligado ao ex-ministro Humberto
Costa e outro ao ex-tesoureiro
do PT Delúbio Soares.
Encaminhado ao Ministério
Público no dia 15 de agosto, o
relatório reproduz trechos de
conversas telefônicas, gravadas
com autorização judicial, sugerindo que o grupo de Delúbio
"efetivamente alcançou, aproximadamente, R$ 15 milhões
com o esquema".
Numa das gravações, afirma
o relatório, os lobistas Eduardo
Passos Pedrosa e Laerte de Arruda Correa fazem comentários, em fevereiro de 2004, sobre "a prestação de contas de
valores arrecadados junto às
empresas licitantes por intermédio de lobistas consorciados". Laerte e Pedrosa estão
entre os 17 empresários e servidores que foram presos pela PF
em maio de 2004, como resultado da Operação Vampiro, que
investigou denúncias de fraudes em licitação para compra
de hemoderivados -medicamentos para hemofílicos- no
Ministério da Saúde. Na época,
a investigação foi feita a pedido
do próprio ministério, depois
de receber uma denúncia de
uma empresa do setor.
Entre os 130 depoimentos
colhidos pela PF, há várias referências sobre as relações entre
o lobista Laerte e Delúbio. Para
o também lobista Francisco
Danúbio Honorato, outro dos
presos na Operação Vampiro,
Laerte teria autorização do ex-tesoureiro para arrecadar recursos para os petistas na campanha presidencial de 2002.
O relatório da PF cita uma
carta, apreendida pelo órgão na
casa de Luiz Cláudio Gomes da
Silva, ex-coordenador de Logística do ministério, nomeado
por Costa. Nela, um empresário de Brasília "faz reclamação
de extorsão praticada pelos lobistas Francisco Danúbio Honorato e Pedro Henrique [Macedo, também indiciados], que
solicitaram 10% do faturamento do contrato para uma espécie de fundo para pagar dívidas
de campanha do PT ou do atual
ministro da Saúde, Humberto
Costa." Na carta, segundo o relatório da PF, o empresário diz
que sofreu ameaças de represálias caso não pagasse a propina.
Costa e Delúbio estão entre
as 42 pessoas indiciadas pela
PF sob acusação de praticar
fraude a licitações, crimes contra a ordem econômica, corrupção ativa e passiva, violação
de sigilo funcional, tráfico de
influência e formação de quadrilha, entre outros delitos, no
âmbito da Saúde.
O relatório registra que as
fraudes não se limitaram ao governo petista, apontando também na lista de indiciados os
empresários Platão Fischer Puhler e Edilamar Gonçalves, ex-funcionários do Ministério da
Saúde durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Ele
era diretor do Departamento
de Programas Estratégicos em
Saúde. Ela, coordenadora-geral
de Gestão de Programas da Secretaria Executiva do órgão.
Para a PF, tais atribuições
lhes permitiam "direcionar os
procedimentos de compra, beneficiando as empresas associadas ao grupo". Depois de deixar o ministério, teriam prestado consultoria a empresas, "visando a subsidiar a manutenção do plano [de irregularidades] montado".
Em depoimento à PF, Edilamar afirmou que, em viagem à
Alemanha para visitar a fábrica
da Octapharma, ela e Platão
"ouviram de Paulo Lalanda
[funcionário da empresa] que
Delúbio ou um emissário do governo haviam visitado a empresa para negociar fornecimentos
de produtos no Brasil".
Na ocasião, o grupo dava os
passos finais, segundo a PF, para obter comissão ilegal sobre
uma compra de medicamentos
de R$ 15 milhões pelo Ministério da Saúde, da empresa Novo
Nordisk. Ainda com base nas
escutas, teria havido o seguinte
parcelamento da propina:
1) 10% de comissão sobre o
valor bruto da compra ficaria
para os lobistas Laerte e Lourenço Rommel;
2) Outros 6%, calculados sobre o valor do negócio descontado o ICMS, seriam divididos
para o restante da organização
-cerca de R$ 724 mil.
3) Uma parcela de R$ 120 mil
"foi repassada ao grupo ligado
ao tesoureiro do Partido dos
Trabalhadores".
A PF monitorou a chegada do
dinheiro a Brasília, em 22 de janeiro de 2004. No mesmo dia,
ainda com base no relatório policial, a parcela de R$ 120 mil
"foi entregue no endereço comercial de Laerte", um apartamento no bairro da Asa Sul, na
capital federal.
E-mail apreendido pela PF
na sede da Novo Nordisk confirma os percentuais de 10% e
de 6% destinados a pagar comissão ao grupo.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frases Índice
|