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JULGAMENTO DO MENSALÃO
Planalto não esperava derrota tão grande no plenário do Supremo
Avaliação, nos bastidores, é que decisão do STF equivale a uma condenação política; Dirceu perde condições para pedir anistia
Ex-ministro da Casa Civil disse a amigos que perdeu votos favoráveis no STF por causa da divulgação de mensagens entre ministros
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Na avaliação do Planalto e do
ex-ministro José Dirceu, a decisão do STF foi uma grande
derrota. Equivaleria a uma condenação política da maior Corte de Justiça à atuação do Executivo no esquema de compra
de apoio congressual ao governo Lula detalhado na denúncia.
Ao desabafar com amigos,
Dirceu disse que a campanha
por uma anistia no Congresso
(anulação da cassação de mandato) não tem como prosperar
agora. O Planalto pensa o mesmo. Oficialmente, o governo
não comentou o julgamento.
A decisão deve influenciar os
debates e o clima do 3º Congresso do partido, que começa
na sexta, mas dificilmente afetará resoluções fundamentais.
Ontem os dirigentes já se articulavam para evitar que a decisão domine o debate e cause
constrangimentos ao presidente Lula e aos demais dirigentes.
Para integrantes do governo
e para Dirceu, o STF levou mais
em conta aspectos políticos do
que jurídicos no julgamento.
Evidência disso, avaliam eles,
foi o resultado das votações a
respeito das acusações de corrupção ativa e de formação de
quadrilha contra o ex-ministro.
A primeira decisão foi tomada por unanimidade. Na segunda, só Ricardo Lewandowski,
dos dez ministros, não aceitou
a acusação de formação de quadrilha. O placar dessas decisões
surpreendeu auxiliares de Lula
e do próprio Dirceu. A acusação
de formação de quadrilha é
considerada politicamente danosa por Dirceu e Lula.
A Folha apurou com aliados
do ex-ministro que, na avaliação dele, a divulgação de troca
de mensagens entre os ministros Lewandowski e Cármen
Lúcia o prejudicou. Nesse troca, houve insinuação de que o
ministro Eros Grau poderia dar
um veredicto favorável ao governo em troca da nomeação
de Carlos Alberto Direito para
o STF. Grau negou a troca.
Para o ex-ministro, Grau teria ficado em posição frágil. O
mesmo teria acontecido em relação aos ministros Gilmar
Mendes e Cezar Peluso. Os três
são padrinhos da indicação de
Direito para o STF. Dirceu avaliou que "perdeu votos" porque
ministros que poderiam decidir a seu favor teriam resolvido
ficar bem perante a opinião pública. Também teriam atendido a pedido feito nos bastidores pela presidente do STF,
Ellen Gracie, para que um racha público fosse evitado.
Lula e o presidente do PT,
Ricardo Berzoini, deverão
mencionar o tema nos discursos de abertura. Uma moção de
apoio a Dirceu e aos outros
acusados deverá ser proposta.
"Todos os debates que temos
feito já contavam com a possibilidade de a denúncia ser aceita. Posição do STF não vai mudar posição de delegado do
Congresso do PT", disse Paulo
Ferreira, tesoureiro da sigla.
Há grupos que defendem
avaliação mais crítica do papel
desempenhado por petistas na
crise do mensalão. "Vai dar para dar um tom mais alto aos debates que queremos mencionar", disse o deputado Walter
Pinheiro, da ala Mensagem ao
Partido, da qual faz parte o ministro Tarso Genro (Justiça).
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