São Paulo, quarta-feira, 29 de agosto de 2007

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JULGAMENTO DO MENSALÃO

Planalto não esperava derrota tão grande no plenário do Supremo

Avaliação, nos bastidores, é que decisão do STF equivale a uma condenação política; Dirceu perde condições para pedir anistia

Ex-ministro da Casa Civil disse a amigos que perdeu votos favoráveis no STF por causa da divulgação de mensagens entre ministros

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Na avaliação do Planalto e do ex-ministro José Dirceu, a decisão do STF foi uma grande derrota. Equivaleria a uma condenação política da maior Corte de Justiça à atuação do Executivo no esquema de compra de apoio congressual ao governo Lula detalhado na denúncia.
Ao desabafar com amigos, Dirceu disse que a campanha por uma anistia no Congresso (anulação da cassação de mandato) não tem como prosperar agora. O Planalto pensa o mesmo. Oficialmente, o governo não comentou o julgamento.
A decisão deve influenciar os debates e o clima do 3º Congresso do partido, que começa na sexta, mas dificilmente afetará resoluções fundamentais. Ontem os dirigentes já se articulavam para evitar que a decisão domine o debate e cause constrangimentos ao presidente Lula e aos demais dirigentes.
Para integrantes do governo e para Dirceu, o STF levou mais em conta aspectos políticos do que jurídicos no julgamento. Evidência disso, avaliam eles, foi o resultado das votações a respeito das acusações de corrupção ativa e de formação de quadrilha contra o ex-ministro.
A primeira decisão foi tomada por unanimidade. Na segunda, só Ricardo Lewandowski, dos dez ministros, não aceitou a acusação de formação de quadrilha. O placar dessas decisões surpreendeu auxiliares de Lula e do próprio Dirceu. A acusação de formação de quadrilha é considerada politicamente danosa por Dirceu e Lula.
A Folha apurou com aliados do ex-ministro que, na avaliação dele, a divulgação de troca de mensagens entre os ministros Lewandowski e Cármen Lúcia o prejudicou. Nesse troca, houve insinuação de que o ministro Eros Grau poderia dar um veredicto favorável ao governo em troca da nomeação de Carlos Alberto Direito para o STF. Grau negou a troca.
Para o ex-ministro, Grau teria ficado em posição frágil. O mesmo teria acontecido em relação aos ministros Gilmar Mendes e Cezar Peluso. Os três são padrinhos da indicação de Direito para o STF. Dirceu avaliou que "perdeu votos" porque ministros que poderiam decidir a seu favor teriam resolvido ficar bem perante a opinião pública. Também teriam atendido a pedido feito nos bastidores pela presidente do STF, Ellen Gracie, para que um racha público fosse evitado.
Lula e o presidente do PT, Ricardo Berzoini, deverão mencionar o tema nos discursos de abertura. Uma moção de apoio a Dirceu e aos outros acusados deverá ser proposta.
"Todos os debates que temos feito já contavam com a possibilidade de a denúncia ser aceita. Posição do STF não vai mudar posição de delegado do Congresso do PT", disse Paulo Ferreira, tesoureiro da sigla.
Há grupos que defendem avaliação mais crítica do papel desempenhado por petistas na crise do mensalão. "Vai dar para dar um tom mais alto aos debates que queremos mencionar", disse o deputado Walter Pinheiro, da ala Mensagem ao Partido, da qual faz parte o ministro Tarso Genro (Justiça).


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