|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pós-Marcha
PÓS-MARCHA Saída de Malan não é exigência para mudar economia, diz Tasso
"Sou do PSDB, vou apoiar o presidente até o fim"
-Folha - Os políticos dizem isso
em público. Mas, privadamente,
discutem abertamente as alternativas. No PSDB, por exemplo,
mencionam-se os nomes de Covas, o seu e o de José Serra.
Tasso - Isso é loucura.
Folha - Sabendo que sua lealdade ao presidente lhe impede de antecipar o debate
sucessório e
supondo que
sua vivência
política tenha
lhe ensinado
que quem sai
na chuva com
tanta antecedência pode
pegar pneumonia, vou perguntar diferente: o que aconteceria
no Brasil se um sujeito com a cabeça de Tasso Jereissati assumisse a Presidência?
Tasso - Não vou cair nessa sua
armadilha. Qualquer um teria
enormes dificuldades para governar o Brasil no atual modelo político, sem mudança nas regras de
convivência política entre o Executivo e o Legislativo. Eu próprio
teria muitas dificuldades em fazer
tudo aquilo que eu sonharia fazer.
Folha - Seu amigo Ciro Gomes
tenta apresentar-se ao eleitorado como uma alternativa presidencial responsável: mais firme
e decidido do que FHC e mais
confiável do que Lula e Brizola.
O senhor acha que esse discurso
pode emplacar?
Tasso - Acho que as chances são
grandes. Mantido o quadro atual,
as chances são muito grandes. O
Ciro tem uma identificação com o
Plano Real, tem experiências anteriores importantes e, portanto,
possui chances inegáveis de crescer.
Folha - O senhor chegaria a
classificá-lo como favorito?
Tasso - Não, porque, como disse, qualquer especulação neste
momento é precipitada. E quero
deixar claro
que sou do
PSDB, apoiarei
o candidato do
partido e, independentemente de índices de
popularidade,
vou apoiar o
presidente Fernando Henrique até o fim.
Folha - E
quanto ao senador Antonio Carlos Magalhães, que se apresenta
com um discurso que valoriza a
autoridade, tem chances?
Tasso - Acho que sim. Como eu
estava dizendo, a população percebe as deficiências do atual sistema político.
Ela percebe e é
contra. Um homem com o
perfil de autoridade do Antonio Carlos,
continuando
os problemas
atuais, pode
crescer. Quero
deixar claro
que não estou
dizendo que o presidente Fernando Henrique não tem autoridade.
Apenas esse relacionamento
complicado com o Congresso leva a essa percepção.
Folha - Além de Ciro e ACM, há
o nome de Lula e uma dúvida
em relação ao PMDB, talvez seja
Itamar Franco. E quanto ao seu
partido? Quem será o o candidato do PSDB?
Tasso - O PSDB leva uma vantagem. Temos bons nomes e nenhum deles se coloca como única
alternativa do partido. Isso é muito importante.
Folha - Se
pudéssemos
voltar no tempo, como o
PSDB deveria
ter se comportado diante da
perspectiva de
reeleição de
Fernando
Henrique?
Tasso - Começaria propondo, durante a
campanha eleitoral, uma proposta de programa de governo, avalizada pela população, de profunda
reforma política. Encaminharia
no primeiro dia. E com certeza teria feito, também durante a campanha, uma reflexão melhor
sobre o que
não deu certo
no modelo
econômico.
Folha - Há
tempo para alterar o modelo econômico
ainda no atual
governo?
Tasso - Acho
que há e tenho certeza que o presidente reflete sobre isso já há algum tempo. Não sei se para mudar o modelo econômico, mas para, pelo menos, corrigir rumos do
modelo econômico.
Folha - A mudança de modelo
teria de passar pela troca de comando na economia? O ministro
Malan precisaria sair?
Tasso - Não necessariamente.
Folha - O sr. acha que a marcha promovida pela oposição
em Brasília na quinta-feira reforça essa sua visão de que é
preciso alterar
o modelo econômico?
Tasso - Evidentemente
que aquilo reforça o que digo. São sinais
que precisam
ser tomados
como sinais da
sociedade, importantes. O
governo não pode ignorar. E creio
que não está ignorando. Mas penso também que as lideranças tentaram pintar naquela manifestação um quadro que não existe.
Querem criar um clima que não
existe. Precisamos observar o que
é de fato bom para o país.
Folha - O senhor se refere à retórica da manifestação, que incluiu a defesa do impeachment
e expressões como "fora FHC"?
Tasso - Esse negócio de impeachment do presidente, essa
história de que o país está vivendo
o pior dos mundos, o caos total,
uma calamidade pública. Isso é
maluquice, não existe. A oposição
precisa ter maturidade para fazer
oposição, mas não tentando piorar as coisas. Não se pode tomar
as dificuldades, que são muitas,
para exagerar, tentando levar a
um nível de dificuldades ainda
maior, que não existe.
Texto Anterior: Tasso propõe mudar modelo econômico Próximo Texto: Escuta em arapongas amplia mistério Índice
|