São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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JANIO DE FREITAS

Penúltimos sinais

A uma semana das eleições e a cinco dias do encerramento da campanha, parecem já politicamente superados os centímetros que, na sondagem eleitorado, ainda separam Luiz Inácio Lula da Silva da vitória no primeiro turno. Mesmo sem considerar o voto útil espontâneo, que tende a se manifestar nas vésperas das votações, a adesão de peemedebistas e pefelistas, nos últimos dias, emite sinais de volume muito maior do que o noticiário pôde captar.
Sinal também expressivo é o emitido pelos comandos das campanhas de José Serra e Ciro Gomes. As divergências agudas entre os políticos e os marqueteiros de Serra não se contêm mais no comando da campanha, que de comando, mesmo, nada teve. Por menos que desejem fazê-lo, por motivos óbvios, as críticas transmitem a idéia de situação irremediável, diante da qual a cada um convém lançar logo as culpas para longe.
Mas os chamados líderes do PSDB e do PMDB não podem isentar-se de responsabilidade alguma, caso José Serra não chegue ao segundo turno. Michel Temer, Geddell Vieira Lima & cia. não se moveram, jamais, pela candidatura que impuseram ao PMDB. José Aníbal, Alberto Goldman e outros que no PSDB agora acusam a tática da agressividade, aplicada por Nizan Guanaes à propaganda de Serra, foram seus defensores e incentivadores até há pouco. Inclusive publicamente, com entrevistas e comentários que ficaram impressos e gravados.
O próprio Nizan Guanaes antecipa-se em explicações públicas que, se poderiam lhe convir, e não chegam a fazê-lo, assumem um ar de balanço em nada conveniente ao candidato. Soa até grotesca a afirmação de que Serra, ele sim, é a vítima dos ataques na campanha, desferidos pelos demais candidatos. A virulência foi adotada por Nizan Guanaes, à sua maneira. Se não resultou e se até reverteu contra Serra, é o velho desentendimento entre o mau feitiço e os feiticeiros.

O presente
Quando o governo deu a primeira indicação de que pagaria integralmente os títulos cambias prestes a vencer, o dólar estava abaixo de R$ 2,80, apesar da especulação que explorava a liderança da candidatura Lula da Silva. Bancos e outros detentores daqueles títulos começaram a forçar a elevação do dólar: os títulos cambiais são pagos pelo governo com base no valor do dólar na véspera do resgate.
A puxada do dólar elevou-o a R$ 3,76 e, só por esse acréscimo desde o desnecessário aviso de resgate integral, ou seja, sem prorrogação total ou parcial, o governo aumentou em mais de R$ 1 bilhão o lucro dos detentores de títulos vincendos na semana passada.
Na terça-feira vencem mais "papagaios" indexados ao dólar, no montante de US$ 1,25 bilhão. Mesmo com o comunicado de que só 30% serão quitados, o dólar foi puxado na sexta-feira ao valor recorde de R$ 3,88. Durante toda a semana, até faltava dólar.
Nos dias 17 e 23 de outubro vencem mais US$ 3,62 bilhões e US$ 1,52 bilhão de títulos corrigidos pelo dólar. Já se sabe o que esperar, se o governo continuar se omitindo nas providências devidas para identificar e reprimir os puxadores do dólar -e das tantas consequências desastrosas para o país.
Diante disso, Pedro Malan diz em Washington, a propósito da elevação forçada do dólar no Brasil, que "há muitos anos" aprendeu serem "os mercados dirigidos por uma combinação de cobiça contagiosa, medo e ignorância".
Está definido o Brasil atual: um país entregue à direção, sem restrições governamentais, dos "mercados" que o próprio ministro da Fazenda diz dirigidos pela cobiça.


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