São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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RETA FINAL

Em reunião com empresários, Lula anuncia que procurará Serra, Ciro e Garotinho para discutir "pacto suprapartidário"

Lula diz que, se eleito, quer ouvir adversários

Antonio Scorza - 26.set.02/France Presse
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, durante comício no Rio de Janeiro


FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Caso seja eleito presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse ontem que irá procurar seus adversários na disputa, José Serra (PSDB), Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS), para tratar da constituição do novo governo.
O recado foi dado pelos petistas após reunião de três horas de Lula com cerca de 30 empresários, banqueiros, sindicalistas e economistas em um hotel em São Paulo.
"Eles [os adversários] têm representatividade na sociedade e deverão ser procurados por Lula dentro da proposta de formar um acordo nacional o mais amplo possível", declarou o deputado federal Aloizio Mercadante (SP) na saída do encontro.
Linha semelhante foi adotada pelo presidente nacional do partido, José Dirceu. "Imagino que isso [a conversa" ocorrerá, sim", afirmou após o encontro.
Na reunião, os petistas falaram em "pacto suprapartidário", com o maior número de forças políticas, para governar o Brasil, no que receberam a aprovação do empresariado presente.
O encontro, que deveria ter sido reservado, foi convocado por Lula entre anteontem e ontem. Seguiu o modelo de outra reunião que o presidenciável organizou na véspera de um encontro que teve com o presidente Fernando Henrique Cardoso, em agosto, no Palácio do Planalto.
Entre os representantes de bancos, estavam no encontro Fábio Barbosa (ABN Amro), Miguel Jorge (Santander), Fernando Moreira Salles (Unibanco) e Roberto Teixeira da Costa (Sul America). Pelos empresários, Viviane Senna (Instituto Ayrton Senna) , Paulo Skaf (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Mário Bernardini (diretor da Fiesp), Roger Agnelli (Vale do Rio Doce), Roberto Rodrigues (Associação Brasileira do Agronegócio), Eduardo Carvalho (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo) e Daniel Feffer (Suzano), entre outros.
Do setor financeiro, Raymundo Magliano, presidente da Bovespa, e Jair Ribeiro (JP Morgan) tomaram parte. Havia ainda representantes da Hewlett Packard, da Natura e do Sindicato da Indústria Farmacêutica. Eugênio Staub (Gradiente), que declarou apoio ao petista, foi convidado, mas não compareceu por estar nos EUA.
Segundo os petistas, Lula chamou o encontro para discutir a conjuntura. "Discutiu-se produção, aumento da exportação e enfrentamento da questão social", disse Mercadante.
A reunião foi permeada por promessas do presidenciável de que vai ouvir os setores empresarial e financeiro na hora de formular políticas econômicas.
Ele reafirmou a disposição de fazer "mudanças com segurança", na tentativa de neutralizar a desconfiança do mercado financeiro com sua candidatura.
Lula prometeu que, logo após sua eventual vitória, dará indicações claras dos rumos do novo governo e de quem irá compor sua equipe econômica.

Indicação de nomes
Não houve cobrança explícita por nomes para a área econômica, mas, segundo um empresário que pediu para não ser identificado, o PT deu mostras de que, eleito presidente, Lula indicará sua equipe econômica "praticamente no dia seguinte".
Dirceu, no entanto, seguiu linha mais cautelosa. "O que vai haver no início do eventual governo é a definição clara da política econômica a ser adotada. Não estamos fazendo prognóstico sobre a indicação de nomes", declarou.
Quebrando a linha do PT de tentar evitar o clima de "já ganhou", Dirceu afirmou que "há uma tendência clara, apontada pelas pesquisas, de vitória de Lula no primeiro turno". Em seguida, retocou o discurso. "Mas minha tarefa a todo momento é trabalhar levando em conta a existência de segundo turno", afirmou.
O presidente petista adiantou também que Lula, se eleito, vai viajar ao exterior. As primeiras visitas, segundo disse, seriam à Argentina e aos EUA.

Definição rápida
Lula, na saída do evento, declarou que a reunião serviu para "ouvir o que a sociedade brasileira pensa". "Isso é necessário de modo a que o Brasil possa o mais rapidamente possível recuperar o curso do desenvolvimento."
Apesar de não ter tido o caráter de "reunião de apoio", o encontro contou com a presença de diversos empresários simpatizantes da candidatura -alguns abertamente, outros preferindo não declarar isso publicamente.
Um dos mais entusiasmados era Paulo Skaf, que defendeu o voto em Lula argumentando que o mercado financeiro está turbulento em parte em razão da indefinição política. "Desejo a vitória do Lula já no primeiro turno, que teria o bônus de economizar ao país três semanas de tormenta", disse.
Já Eduardo Carvalho (Unica) elogiou a disposição de Lula "em escutar todo mundo".


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