São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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Adesão a petista é localizada

COLUNISTA DA FOLHA

Oded Grajew, empresário que sempre foi ligado ao PT, festeja: "Nunca vi isso antes".
O "isso" refere-se ao que Oded considera uma onda de adesões de empresários dos mais diferentes setores a Luiz Inácio Lula da Silva, que historicamente foi a besta-fera do empresariado.
Depois que Eugênio Staub (Gradiente), eleitor histórico do PSDB, anunciou apoio a Lula, parecia mesmo que Lula poderia começar a tratar os empresários de "companheirada".
Não é bem assim. O melhor resumo do estado atual das relações PT/empresários está em frase de Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo: "Não há nenhum empresário de porte, dos poucos que existem no setor, propenso a votar no Lula, mas também não tem ninguém com medo".
Na ponta da redução do medo ao PT, pode-se contabilizar, por exemplo, o fato de que Fábio Barbosa, presidente do ABN Amro, esteve presente na segunda-feira a uma reunião convocada pelo PT.
Para o PT, foi sinal de adesão. Não é bem assim: "Converso com quem me chamar", diz ele.
O que levou o empresariado a uma guinada, ainda que relativa, para um partido que, se ganhasse em 89, empurraria 800 mil empresários para fora do país, conforme frase pronunciada por Mario Amato, presidente da Fiesp à época? "É preciso distinguir entre os que estão de olho no BNDES e os que sempre acreditaram", diz um economista que prefere não ter seu nome divulgado.
É uma alusão ao suposto (ou real) oportunismo de setores empresariais que gostam de aderir ao vencedor em perspectiva.
Nega Guido Mantega, um dos principais economistas do PT: "De fato, nos dois ou três últimos meses, houve uma mudança de atitudes do empresariado, a partir do amadurecimento de nossas propostas. Mas não é porque o PT vai ganhar. É que vão se rompendo as resistências".
Pode ser, mas há também motivos bastante concretos para que empresários adiram ao PT.
Staub, por exemplo, vinha articulando com o Ministério do Desenvolvimento um projeto em que empresas de alta tecnologia se instalariam no Brasil para usá-lo como plataforma de exportações.
Seriam beneficiadas pela alíquota elevada para importação de componentes de informática e telecomunicações (14%). Acontece que o ministro Pedro Malan (Fazenda), anunciou a redução das alíquotas, torpedeando o projeto.
O que o PT tem a ver com isso? Simples: "O setor de eletroeletrônicos causa grande déficit. Logo, a substituição de importações [que o PT defende] vai centrar fogo nesse setor", diz Mantega.
Acrescenta: "A tarifa de importação vai ser mantida, mas essa idéia já havia sido anunciada antes de conhecer o Staub". (CLÓVIS ROSSI)



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