São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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LEGISLATIVO

Candidatos inscrevem registros esdrúxulos nos tribunais eleitorais atrás de visibilidade e reconhecimento nas urnas

Meu nome é...

CLÁUDIA CROITOR
LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado Bruce Willis (PGT) apresentou ontem na Câmara um projeto com o apoio de Manoel Tio do Doce (PSB). A proposta teve trâmite rápido, mesmo com as emendas da bancada liderada por Fernando Comilão (PGT), da qual fazem parte Amendoim (PC do B) e Batata (PSDB). O entrave ocorreu no plenário, com a oposição de Zico (PSC), Nadir Fofinho (PL) e Ó Clemente! (PHS).
Parece gozação, mas, se a tática de muitos candidatos der certo nestas eleições, o Congresso e as Assembléias de todo o país podem ter deputados com nomes tão curiosos como os do parágrafo acima. Para chamar a atenção ou não desperdiçar o nome como é conhecido, boa parte dos candidatos usa apelidos e até slogans para se registrar nos TREs (Tribunais Regionais Eleitorais).
Assim, ao digitar na urna eletrônica o número de seus escolhidos, o eleitor poderá se depara com nomes como Hamuche 100% Você (PPB), Quem? Professor Armando (PDT) e Rufino o Popular Azeitona (PRTB).
O candidato a deputado federal Everaldo Santos (PST) tem oito segundos no horário eleitoral de Pernambuco e só consegue falar: "Ninguém dá jeito na situação, por isso vote em Ninguém!". Ninguém, no caso, é seu "nome de guerra". Nas ruas, ao ouvir de uma pessoa a frase "Não voto em ninguém", responde: "Vote sim, sou Ninguém, vale a pena".
Famoso nos quartéis de Juiz de Fora como mágico, Murilo Raimundo de Freitas aproveitou a fama para se registrar como candidato a deputado federal: Murilo O Mágico (PAN). Alguns de seus "colegas" de circo também estão à procura de votos, como Ademar o Palhaço Gordurinha (PGT), o Palhaço Bola (PT) e o enigmático Linguiça do Circo (PTB).
A ocupação é, aliás, um dos critérios mais usados na hora de compor um nome de candidato. Exemplos não faltam, como Ronne do Raio-X (PAN) e Jajá Motoboy (PMDB). "Doutor" e "professor" são os mais frequentes: só em São Paulo, 113 se registraram como doutor, e 85, como professor. Há ainda padres, pastores, delegados, coronéis...
Alguns usam o nome de outras pessoas para serem reconhecidos. É o caso de Arlete Souza, candidata a deputada federal pelo PPS, que se inscreveu no TRE como Arlete Mãe do Guilherme. A história é triste: Arlete ficou conhecida no movimento de mães de desaparecidos como mãe de Guilherme, que sumiu há 11 anos.
Geni Rafael da Silva, que tenta uma vaga como deputada estadual pelo PTB, registrou-se como Geni do Willians Rafael. Willians é seu marido, candidato ao Senado pelo mesmo partido. Já Alice Novaes (PTB) aparecerá na urna eletrônica como Alice Novaes Irmã do Deputado Tiago.
Há quem se aproveite de uma suposta semelhança com alguém famoso -ou quase. A carioca Edileusa Andrade se candidatou a deputada federal pelo PFL como Edileusa Sai de Baixo, como a personagem do extinto humorístico da Globo, que quis proibir o uso do nome. "Pedi, quase chorei e acabaram deixando".
Também Jonas Fontoura Santana (PTB) se tornou o Seu Madruga, candidato à Assembléia paulista. "Sou a cara dele", diz, sobre o personagem do seriado mexicano "Chaves". Detalhe: seu Madruga, o do seriado, odeia trabalhar.


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