São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2006

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Renata Lo Prete

Perdas e danos

MESMO COM a dúvida a pairar sobre a disputa presidencial, é possível fazer um balanço preliminar de lideranças que deverão sair derrotadas desta eleição. Entre elas estão figuras de proa da campanha de Geraldo Alckmin e da oposição a Lula.
Tome-se o caso do presidente do PSDB, Tasso Jereissati. Com a vitória do irmão Cid (PSB) para o governo e o estoque de votos que o levará à Câmara, o lulista Ciro Gomes será o novo chefe político do Ceará. A parceria Ciro-Tasso sobreviverá, mas com inversão da hierarquia entre os dois.
Também na Bahia há uma troca de guarda em curso. A provável derrota do candidato escolhido por Antonio Carlos Magalhães para disputar o Senado e a perspectiva de um terceiro mandato de governador para Paulo Souto deixarão claro quem tem a força hoje no Estado e no PFL local.
O presidente da sigla, Jorge Bornhausen, elegerá o filho deputado e, indicam pesquisas, o senador por Santa Catarina. Mas ficará ele mesmo sem mandato, o que não contribuirá para manter o tamanho de sua influência no PFL nacional.
Enfraquecidos em seus Estados, Tasso, ACM e Bornhausen precisariam da vitória de Alckmin para se fortalecer em Brasília. Se a vantagem de Lula sobre os adversários não diminuir até domingo, a ponto de garantir a realização do segundo turno, os três estarão fadados a um "downsizing".
O interessante é que Tasso, ACM e Bornhausen são nomes sempre lembrados quando se prevê o inferno para Lula num segundo mandato, em especial agora que há uma encrenca -a do dossiê- destinada a sobreviver ao dia 1º, seja porque o governo claramente opera para retardar as conclusões da investigação, seja pela ação contra a candidatura em andamento no TSE.
Ninguém ouve, porém, a expressão "perda de mandato" na boca dos oposicionistas vitoriosos desta eleição. Desde que foi revelada a parceria de negócios entre o PT e os Vedoin, tanto José Serra -o alvo do dossiê- quanto Aécio Neves se manifestam sempre uma oitava abaixo, pelo menos, do tom utilizado pelos tucanos e pefelistas envolvidos na campanha de Alckmin.
Para os dois, a vida continua, e 2010 está logo aí. Isso não significa que a vida de Lula será fácil em caso de vitória. As dificuldades serão muitas, mas, hoje, derivam menos da oposição e mais das tranqueiras que o presidente leva de herança do primeiro mandato -dos escândalos em aberto à necessidade de ceder tudo e mais um pouco ao PMDB, para revolta do PT, outro derrotado nesta eleição. Ainda que o partido não perca espaço significativo no Congresso, no governo perderá. É das poucas certezas que se pode ter.


RENATA LO PRETE é editora do Painel

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