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TRANSIÇÃO
Tucano prega oposição light, apoio pontual no Congresso e diz que Lula deve ignorar patrulha de radicais petistas
"PT não recebeu cheque em branco", diz Aécio
KENNEDY ALENCAR
EM SÃO PAULO
Governador eleito de Minas e
presidente da Câmara, o tucano
Aécio Neves diz que "o PT não recebeu um cheque em branco" e
impõe condições para o PSDB dar
apoio pontual no Congresso a
Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo Aécio, que encontrará
Lula hoje em Brasília às 14h, o presidente eleito deve ignorar o "patrulhamento das alas radicais do
PT e o assédio de setores arcaicos
à esquerda e à direita".
O tucano mineiro, que sai das
eleições como um dos políticos
mais influentes do PSDB e cotado
para disputar a Presidência em
2006, diz que o seu o partido deve
"unificar o discurso e fazer uma
oposição responsável, sem participação no governo". Ontem, Aécio conversou com os outros seis
governadores eleitos do PSDB e
marcou uma reunião para os próximos dias, provavelmente na semana que vem, em Brasília. Num
recado aos tucanos ligados a Serra
que defendem oposição mais dura a Lula, diz que não permitirá
um "terceiro turno" das eleições e
que "o PSDB será um só".
Defensor de uma agenda a ser
"elaborada imediatamente" pelo
presidente e os governadores eleitos, Aécio também se diz disposto
a colocar em pauta projetos de interesse do governo petista. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Folha - A ala do PSDB mais identificada com José Serra, o candidato
do seu partido que foi derrotado,
defende uma oposição dura a Lula.
O sr. fala em oposição responsável.
Qual deve ser o caminho do PSDB?
Aécio - Conversei hoje [ontem]
com os outros seis governadores
eleitos pelo PSDB. Nos reuniremos em breve para unificar o discurso do partido. O PSDB será um
só. As urnas nos colocaram na
oposição no plano federal. Como
temos responsabilidade com o
país, não podemos fazer ao PT o
mesmo tipo de oposição equivocada que o PT fez ao PSDB, aquela
que via vícios de origem em todas
as nossas propostas. Devemos
apoiar as propostas boas, sem
participar do governo. Isso, porém, dependerá dos sinais que o
PT e o Lula derem ao PSDB e à sociedade. O PT não recebeu um
cheque em branco. É só ver a
quantidade de governadores eleitos pelo PSDB [7] e o PMDB [5],
partidos que apoiaram Serra.
Folha - Quais devem ser esses sinais?
Aécio - Ou Lula entende a dimensão da confiança que recebeu
do país e constrói um governo
acima do patrulhamento das alas
radicais do PT e do assédio de setores arcaicos à esquerda e à direita, ou se submete a eles e comete
um erro, começando mal. Se optar pelo primeiro caminho, me
disporei a tentar garantir sua governabilidade.
Folha - Como o sr. ajudaria Lula?
Aécio - Ajudando-o a articular
uma união nacional, com participação dos governadores eleitos,
para fazer uma agenda mínima
consensual para ser votada logo.
A agenda teria três pontos: 1)
aprovar uma reforma tributária
no prazo de seis meses; 2) o presidente e os governadores devem
ter projetos conjuntos e emergenciais de geração de emprego com
estímulo creditício a alguns setores; e 3) aprovar no Congresso em
2003 três tópicos da reforma política, financiamento público de
campanha, fidelidade partidária e
voto distrital misto.
Folha - O candidato do seu partido, José Serra, perdeu a eleição
com um discurso duro, dizendo que
Lula pode levar o Brasil à "ruína" e
se transformar num "estelionato
eleitoral". Como levar o PSDB a dar
a tal governabilidade a Lula?
Aécio - Vou trabalhar com vigor
para não haver um terceiro turno
das eleições. A crise econômica é
muito grave, o que exigirá união
da classe política. Do contrário,
toda a sociedade pagará.
Folha - Sua posição, de apoio
pontual sem participação no governo, não é de ajudar sem se contagiar com um eventual fracasso?
Isso faz parte do projeto para disputar a Presidência em 2006?
Aécio - Nunca briguei para ser
candidato a governador de Minas
nem brigarei para ser candidato a
presidente. Não tenho obsessão
na política. O eventual fracasso de
Lula será o fracasso do Brasil. O
PT ganhou a eleição. Deve ter o
direito de governar. Não participar do governo é uma forma de
não amesquinhar a política.
Folha - Por que Serra perdeu?
Aécio - Esta nunca foi uma eleição fácil para nós. A história reconhecerá com mais isenção os méritos do governo Fernando Henrique Cardoso. O difícil momento
internacional, agravando nossas
dificuldades econômicas, foi o
maior responsável por esse desejo
de mudança no plano federal. O
Serra honrou o PSDB. Teve um
comportamento digno.
Folha - Lula já disse que gostaria
de se encontrar com o sr. assim que
acabasse a eleição. O encontro está
marcado?
Aécio - O Lula deve me visitar
hoje às 14h. É uma atitude de
apreço à Câmara.
Folha - O PT está preocupado em
não perder receitas em 2003. Quer
votar a manutenção da alíquota do
Imposto de Renda Pessoa Física de
27,5%. O sr. fará a pauta da Câmara
junto com o PT?
Aécio - Nas próximas três semanas, devemos limpar a pauta da
Câmara. Nas quatro semanas
posteriores, ouvirei o presidente
eleito para formular a pauta e votar as matérias de interesse dele.
Se ele quiser votar o projeto dos
27,5%, estarei disposto a ajudá-lo.
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