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Cientistas políticos prevêem dificuldades na relação de Lula com governadores
RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO
Cientistas políticos ouvidos pela
Folha prevêem dificuldades nas
negociações entre o próximo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva,
e os governos estaduais. A principal delas, avaliam, será a busca de
um acordo para realizar a reforma tributária.
O fato de o PT não governar nenhum grande Estado do ponto de
vista econômico é visto como um
agravante por Rogério Schmitt,
da Escola de Sociologia e Política
de São Paulo.
Para Fernando Limongi, do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise
e Planejamento), e Maria Hermínia Tavares de Almeida, da USP,
as dificuldades independem do
número de Estados que o PT governará.
Limongi afirma que a vitória
eleitoral do PT em apenas três Estados -Acre, Piauí e Mato Grosso do Sul- "significa muito pouco" e tem pouca influência nas dificuldades que Lula enfrentará no
seu governo.
"O que importa mesmo é a coalizão partidária na Câmara e no
Senado", afirma.
A atuação dessa coalizão de sustentação do governo petista, a depender de pesquisa realizada pelo
cientista político, não será influenciada pelos governadores.
No trabalho "Poder de Agenda
em Regimes Presidenciais: Governadores e Partidos Políticos no
Congresso", Limongi analisa a
atuação dos parlamentares em
votações que envolvem interesses
estaduais específicos e conclui
que sua votação é orientada fundamentalmente pelos partidos, e
não pelos governadores.
A negociação direta de Lula
com os governos estaduais, por
sua vez, não estaria sujeita a diferenças partidárias, segundo o pesquisador.
Logo, o fato de o PT ter feito
poucos governadores não criaria
maiores entraves à já difícil negociação sobre reforma tributária,
que supõe a redistribuição de tributos, com ganhos e perdas.
"Se você abre essa caixa [da reforma tributária], não fecha mais.
Ninguém quer perder e, no momento da negociação, não sabe se
está ganhando ou perdendo. Por
isso, [governadores e prefeitos]
resistem a mudanças", diz Limongi.
Maria Hermínia Tavares de Almeida afirma que, se o PT tivesse
feito governadores em Estados
importantes economicamente, as
dificuldades provavelmente seriam as mesmas. "Um dos críticos
mais fortes [do governo Fernando Henrique Cardoso] quanto à
questão tributária foi o governador Mário Covas", exemplifica.
Rogério Schmitt defende que os
governadores têm, sim, influência
sobre suas bancadas, e que ao PT
fará falta o controle de Estados
importantes como Minas Gerais e
São Paulo ao tentar negociar a reforma.
"Isso torna maiores os custos de
negociação com os governadores
e as bancadas desses Estados."
Para ele, a reforma dificilmente
poderá ser realizada no primeiro
ano de governo, quando "as costuras políticas ainda estarão sendo montadas e o PT não contará
com um rolo compressor" necessário para aprová-la.
Com o agravante, avalia, que as
dificuldades também seriam
grandes no segundo ano de mandato. Haverá eleições municipais
em 2004, "e a ninguém interessará
mexer com interesses", afirma
Schmitt.
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