|
Texto Anterior | Índice
RAZÃO DE VOTO
Fotos da história
MAURO FRANCISCO PAULINO
Esta foi a eleição da informação. O volume de notícias,
debates, entrevistas e comentários sobre a disputa presidencial
foi tão expressivo que mesmo o cidadão menos interessado em política recebeu estímulos suficientes para despertá-lo à reflexão. E
uma parte significativa do noticiário foi produzido a partir de resultados e interpretações das pesquisas de opinião pública, fartamente divulgadas.
Dentre os avanços verificados
em diversos aspectos desta eleição, há que se reconhecer também a melhora no tratamento
dado pela mídia às informações
fornecidas pelas pesquisas eleitorais. Houve uma aproximação
maior entre redações e institutos
o que resultou em interpretações
mais cuidadosas de resultados,
em especial no segundo semestre.
Houve menos generalizações e
maior discernimento para avaliar as características de cada instituto.
Além da concorrência entre os
que produzem as pesquisas, é a
imprensa que irá, cada vez mais,
regular a atuação daqueles que
optam por divulgar seus resultados. A comparação entre institutos passa a levar em conta também posturas e clareza quanto
aos financiadores, à metodologia,
à interpretação correta dos números e aos limites impostos pelo
método. Práticas como a realização de pesquisas com objetivo de
alavancar candidaturas ou fornecer resultados obtidos a partir de
métodos inadequados passaram
a ser identificados por um número maior de pessoas com reflexos
na credibilidade dos institutos.
Vêm perdendo espaço hábitos
como análises premonitórias e
utilização de métodos ou interpretações inadequadas para conclusões subjetivas. Os antigos magos e oráculos quase não foram
citados. Prevaleceu a visão da
pesquisa de opinião pública enquanto ferramenta estratégica
para ajudar a compreender o processo eleitoral sob o ponto de vista
do eleitor e a agregar informação
para a composição do seu voto.
Há que se lembrar sempre que as
pesquisas são fotogramas de momentos específicos, com limites estatísticos naturais inerentes ao
processo de amostragem.
Dessa forma foi possível revelar
informações que, sem pesquisas,
não existiriam. Foi possível saber
que Lula liderou a eleição de ponta a ponta desde janeiro de 2001,
sendo ameaçado em apenas dois
momentos: em fevereiro deste
ano, por Roseana e em julho, por
Ciro. Sem essas revelações, talvez
o termo "desconstrução" e sua
prática não viessem à tona. Revelaram que o desejo de mudança
em relação ao governo, preponderante na sociedade, daria o tom.
Mostraram o efeito do palanque
eletrônico na definição do voto.
Explicitaram a disputa acirrada
pela segunda colocação com alternâncias provocadas, principalmente, pela influência cada vez
maior da opinião feminina.
Após o início do horário eleitoral o Datafolha mostrou a diminuição do pessimismo em relação
ao ambiente econômico, em especial quanto ao aumento do desemprego e do crescimento da inflação. O efeito da campanha começava a gerar otimismo.
Às vésperas do primeiro turno,
as pesquisas mostraram o crescimento dos candidatos do PT nos
Estados, alavancados pela vitória
iminente de Lula para presidente.
No segundo turno, captaram o refluxo da onda petista.
Essas informações, relevantes
para a história desta eleição, ajudaram os eleitores no processo de
definição do voto e na percepção
da cidadania. É a contribuição
que pesquisas feitas com apuro
técnico e divulgadas de forma
adequada têm a acrescentar à sociedade e à democracia.
MAURO FRANCISCO PAULINO é diretor-geral do Datafolha
Texto Anterior: Europa: Virada à esquerda é ressaltada Índice
|