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São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2003

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TERCEIRO MUNDO

Governo avalia que reforçar liderança brasileira no continente é mais importante que o comércio em si

Lula quer favorecer África em acordos

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá discutir acordos de livre comércio do Brasil com Angola e Moçambique durante sua viagem a cinco países da África, que deve começar no próximo domingo.
Segundo o diretor do Departamento de África do Itamaraty, embaixador Pedro Mota, "o Brasil quer abrir fronteiras para produtos africanos", e essa negociação será "fatalmente desequilibrada para favorecer a África".
Ou seja: a intenção do governo brasileiro é fazer acordos comerciais camaradas com os países africanos, porque mais importante do que o próprio comércio é o efeito político, como parte do esforço do país em busca de maior liderança no mundo.
Para Mota, uma maior presença brasileira na África "reforça as bases de negociação do Brasil com os países do Norte, num momento em que o governo brasileiro pretende ter mais influência no cenário mundial".
Além de Angola e Moçambique, Lula irá a São Tomé e Príncipe, à Namíbia e à África do Sul. Este último, prioritário na política externa brasileira, é integrante da Sacu (na sigla em inglês, União Aduaneira da África Austral), que já desenvolve acordos de livre comércio com o Mercosul.
Lula levará projetos de cooperação em áreas fundamentais para os africanos: educação, agricultura, saúde, carvão, petróleo e defesa naval. Estão previstos mais de 40 acordos nessas áreas.
Estarão com o presidente representantes da ANP (Agência Nacional do Petróleo), do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do Banco do Brasil, que vai inaugurar um escritório em Angola.
Estão previstos 160 empresários na comitiva presidencial, para tentar incrementar o comércio do Brasil com o continente africano. O total do comércio do país com a África, somando as importações e as exportações, é de aproximadamente US$ 5 bilhões por ano, o que representa menos de 5% do intercâmbio comercial brasileiro com o mundo.

Vale do Rio Doce
Um dos maiores projetos que Lula defenderá durante a viagem será a exploração de carvão pela Companhia Vale do Rio Doce na região de Moatize, em Moçambique. A primeira etapa, de US$ 700 milhões, prevê o aproveitamento do carvão, a revitalização do porto e a reconstrução da linha férrea de escoamento do produto.
Se for adiante, poderá chegar a um total de US$ 5 bilhões, com a inclusão de uma hidrelétrica e uma siderúrgica na mesma área. Na mesma linha de aproximação política, Lula assumirá um discurso de "expiação de culpa" em relação à África, fornecedora de escravos para o Brasil no passado, e oferecerá tecnologia para a produção de medicamentos genéricos contra a Aids.
Em Angola, segundo a diretora substituta da Divisão de África 2 do Itamaraty, secretária Irene Vida Gala, há projetos do Incor (Instituto do Coração, de São Paulo) e da rede Sarah Kubitschek, o maior centro de aparelho motor da América Latina.


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