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ELIO GASPARI
Trocam-se dois paradigmas
teóricos por uma vaga de gari
Faltando pouco para que
Lula dê conta do primeiro
ano de governo do terceiro mandato do professor Fernando Henrique Cardoso e o 11º do mandarinato da ekipekonômica, ele é
bem-vindo de volta ao blablablá
de esquerda.
Discursando na abertura da
reunião da Internacional Socialista, ele disse o seguinte:
"Refletimos, criticamente, sobre muitos paradigmas teóricos
que recebemos e, sem cair no
pragmatismo, procuramos criar
um movimento que fosse capaz
de enfrentar, de forma criativa,
não-dogmática, os grandes desafios do nosso país".
O governo de Lula terminará o
ano com nota dez em disciplina
fiscal e zero em crescimento econômico. É uma escolha. Governo
esquizofrênico. Nele, o comissário José Dirceu reclama da "herança maldita" enquanto o presidente anda por Brasília no
bendito Omega australiano que
herdou de FFHH.
Quando Lula retorna ao blablablá incompreensível, nada de
novo acontece sob o céu de Pindorama. O problema surge
quando o comissário Dirceu
aparece, no mesmo dia, com o
blablablá compreensível. Ele disse o seguinte:
"Nos últimos anos, o país infelizmente viciou uma camada
importante da sociedade a viver
de renda e de taxas de juros reais
de 12% ou 15%, o que inviabiliza
o pagamento e a sustentação
dessa dívida pública".
Como diria o ex-deputado Hildebrando Pascoal, vamos por
partes:
1) País não se vicia, assim como
ninguém se vicia em juros. Quem
oferece taxas de 12% de juros
reais aos maganos é o governo
presidido por Lula. O doutor
Henrique Meirelles não paga taxas lunares porque Lula tem pena dos viciados em juros. Quem
se comporta como um viciado é o
governo, não o país.
2) Quem tem "camada importante" é pavê. O comissário Dirceu sabe que oito em cada dez
trabalhadores brasileiros ganham menos de três salários mínimos. Nenhum deles está na boca rica dos juros. Pela quantidade, essa camada é desprezível,
mas o comissário certamente fala de importância no sentido
qualitativo. Tem razão. É uma
turma tão qualificada que leva o
governo do qual o doutor faz
parte a desejar isentá-la de
CPMF nas transações de seu papelório. (Isentar desempregado,
nem pensar.)
3) Finalmente, o comissário diz
que essa combinação de perversidades "inviabiliza o pagamento e a sustentação dessa dívida
pública". Bingo. Coisa semelhante já foi dita por economistas laureados e diretores do FMI.
Pena que o PT-Federal tenha
perdido um ano lambuzando-se
nos elogios da banca e estimulando a crença segundo a qual o
Brasil será, ainda por um bom
tempo, lugar certo para se vir
buscar os maiores juros do mundo. (Ave Bradesco. Pariu um lucro de R$ 1,6 bilhão nos primeiros nove meses de Lula. Um aumento de 20,1% sobre o seu desempenho no mesmo período,
durante o tucanato).
A persistência do desemprego,
da queda da renda do trabalhador, bem como o declínio das
vendas do comércio indicam que
o espetáculo do crescimento talvez só ocorra nas grandes festas
petistas que se planejam para o
réveillon baiano. Esses maus resultados devem-se, em parte, ao
fato de Lula ter-se achegado aos
almofadões da banca como um
surpreendente mascote. O dinheiro que pode ir para o investimento fica nos juros porque sabe
que essa é a opção preferencial
da ekipekonômica. Os empresários não saem da toca dos juros
porque têm medo que lhes aconteça o que sucedeu aos que investiram entre 1996 e 2001: ruína.
Empresas arruinaram-se porque, de forma consistente e previsível, sempre que a economia
brasileira entrou em dificuldades, todas as medidas tomadas
pelo governo de FFHH (durante
oito anos) e pelo de Lula (durante um ano) cuidaram de proteger
o dinheiro da banca. Esse é o paradigma prático.
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