São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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ALTA ESPIONAGEM

Em nota, empresa afirmou que aparelho apreendido pela PF era usado para rastreamento de escutas

Kroll diz que equipamento não faz grampo

ANDRÉA MICHAEL
EM SÃO PAULO

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em nota divulgada no início da noite de ontem, a Kroll afirmou que os equipamentos apreendidos pela Polícia Federal na sede da empresa em São Paulo durante a Operação Chacal eram usados para rastreamento, e não realização, de grampos telefônicos.
A PF se baseou na localização desses equipamentos para lavrar o auto de prisão em flagrante de cinco funcionários da Kroll, entre os quais, dois diretores.
Na entrevista concedida anteontem, o delegado da PF de Brasília e porta-voz da operação, Romero Menezes, havia dito que, "pela experiência" da polícia, tais equipamentos "podem ser utilizados em escutas telefônicas".
Pela lei que trata do assunto, apenas autoridades da polícia e representantes do Ministério Público podem realizar interceptações telefônicas, e sempre com ordem judicial.
De acordo com a nota da Kroll, foram apreendidos três aparelhos: o Riserbond 1270A, que pode constatar "a existência de grampos telefônicos", o Boomerang NJD-5, que "tem como objetivo detectar a presença de microfones e câmeras ocultas em determinado ambiente" e o ETA 3A, "utilizado para detectar falhas telefônicas que poderiam representar possíveis sinais de grampo".
"A venda destes equipamentos é totalmente legal e pública, e os mesmos são comercializados inclusive na internet. Qualquer perito pode convictamente afirmar que estes aparelhos não executam grampos", diz a nota da Kroll.
Segundo a empresa, os serviços de rastreamento de possíveis grampos são legais e até oferecidos pela empresa, para clientes, em seu site na internet.
Os cinco funcionários da empresa presos anteontem também afirmaram, em seus depoimentos à Polícia Federal, que o equipamento apreendido era usado para rastrear grampos telefônicos e escutas ambientais.
Estão presos na custódia da Superintendência da PF em São Paulo Vander Giordano (gerente de casos), Eduardo Gomide (diretor de serviços financeiros), Julia da Cunha (investigadora), Rodrigo Ventura e Ricardo Sanches (operadores e equipamentos eletrônicos).

Pedido da defesa
Os executivos Giordano e Gomide disseram à PF que o equipamento, que inclui fios, maletas e aparelhos celulares, não pertenceria à Kroll, mas a seus clientes. Ambos reafirmaram que as práticas de investigação adotadas pela empresa respeitam a legislação brasileira, descartando qualquer possibilidade de realização de escuta telefônica.
Julia da Cunha, que coordena uma equipe de investigadores da Kroll também negou a prática de irregularidades.
Por volta das 15h de ontem, os advogados dos presos pediram o relaxamento da prisão dos funcionários, na 5ª Vara Criminal da Justiça Federal, em São Paulo. O pedido está sob análise do Ministério Público Federal. Até o início da noite de ontem, não havia decisão a respeito.
A Folha consultou um especialista em trabalhos de proteção a grampos telefônicos e ambientais. Com base na análise de dez fotografias que mostram os aparelhos apreendidos na Kroll, o técnico afirmou que pelo menos dois deles não podem ser usados para realização de interceptações.
Ele não soube identificar os outros aparelhos.
Segundo o especialista, a maleta preta apreendida, identificada por uma plaqueta como sendo do modelo ETA-3A, é usada para medir a tensão da linha telefônica e, em tese, funciona como um rastreador de possíveis grampos. Caso exista um grampo na linha, a tensão será menor que a padrão.
A reportagem localizou um equipamento semelhante, à venda na internet, por R$ 24,9 mil.

Foco
A PF iniciou formalmente ontem, com o envio à Justiça Federal de autos de prisão, um inquérito específico, cujo foco é investigar as práticas da Kroll e da Brasil Telecom e em que medida houve conivência entre elas na prática de supostas irregularidades.
A Brasil Telecom contratou a Kroll para investigar a Telecom Italia, empresa com a qual trava batalhas judiciais.
Até a Operação Chacal, todos os procedimentos relacionados ao caso eram tomados no âmbito de um inquérito instaurado no início do ano para apurar eventuais irregularidades praticadas pela Parmalat, que faliu em janeiro.
O novo inquérito, que começa com os cinco pedidos de prisão, será encaminhado pela Justiça ao Ministério Público Federal, que decidirá se propõe ou não denúncia contra os presos e demais alvos da Operação Chacal.
Além da Kroll, a PF cumpriu mandados judiciais nos escritórios e nas residências dos principais executivos da Brasil Telecom, Carla Cicco, e do Opportunity, Daniel Dantas. A prisão de ambos já fora pedida pela PF e negada pela Justiça.


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