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ALTA ESPIONAGEM
Em nota, empresa afirmou que aparelho apreendido pela PF era usado para rastreamento de escutas
Kroll diz que equipamento não faz grampo
ANDRÉA MICHAEL
EM SÃO PAULO
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em nota divulgada no início da
noite de ontem, a Kroll afirmou
que os equipamentos apreendidos pela Polícia Federal na sede da
empresa em São Paulo durante a
Operação Chacal eram usados para rastreamento, e não realização,
de grampos telefônicos.
A PF se baseou na localização
desses equipamentos para lavrar
o auto de prisão em flagrante de
cinco funcionários da Kroll, entre
os quais, dois diretores.
Na entrevista concedida anteontem, o delegado da PF de Brasília e porta-voz da operação, Romero Menezes, havia dito que,
"pela experiência" da polícia, tais
equipamentos "podem ser utilizados em escutas telefônicas".
Pela lei que trata do assunto,
apenas autoridades da polícia e
representantes do Ministério Público podem realizar interceptações telefônicas, e sempre com ordem judicial.
De acordo com a nota da Kroll,
foram apreendidos três aparelhos: o Riserbond 1270A, que pode constatar "a existência de
grampos telefônicos", o Boomerang NJD-5, que "tem como objetivo detectar a presença de microfones e câmeras ocultas em determinado ambiente" e o ETA 3A,
"utilizado para detectar falhas telefônicas que poderiam representar possíveis sinais de grampo".
"A venda destes equipamentos
é totalmente legal e pública, e os
mesmos são comercializados inclusive na internet. Qualquer perito pode convictamente afirmar
que estes aparelhos não executam
grampos", diz a nota da Kroll.
Segundo a empresa, os serviços
de rastreamento de possíveis
grampos são legais e até oferecidos pela empresa, para clientes,
em seu site na internet.
Os cinco funcionários da empresa presos anteontem também
afirmaram, em seus depoimentos
à Polícia Federal, que o equipamento apreendido era usado para
rastrear grampos telefônicos e escutas ambientais.
Estão presos na custódia da Superintendência da PF em São
Paulo Vander Giordano (gerente
de casos), Eduardo Gomide (diretor de serviços financeiros), Julia
da Cunha (investigadora), Rodrigo Ventura e Ricardo Sanches
(operadores e equipamentos eletrônicos).
Pedido da defesa
Os executivos Giordano e Gomide disseram à PF que o equipamento, que inclui fios, maletas e
aparelhos celulares, não pertenceria à Kroll, mas a seus clientes.
Ambos reafirmaram que as práticas de investigação adotadas pela
empresa respeitam a legislação
brasileira, descartando qualquer
possibilidade de realização de escuta telefônica.
Julia da Cunha, que coordena
uma equipe de investigadores da
Kroll também negou a prática de
irregularidades.
Por volta das 15h de ontem, os
advogados dos presos pediram o
relaxamento da prisão dos funcionários, na 5ª Vara Criminal da
Justiça Federal, em São Paulo. O
pedido está sob análise do Ministério Público Federal. Até o início
da noite de ontem, não havia decisão a respeito.
A Folha consultou um especialista em trabalhos de proteção a
grampos telefônicos e ambientais.
Com base na análise de dez fotografias que mostram os aparelhos
apreendidos na Kroll, o técnico
afirmou que pelo menos dois deles não podem ser usados para
realização de interceptações.
Ele não soube identificar os outros aparelhos.
Segundo o especialista, a maleta
preta apreendida, identificada
por uma plaqueta como sendo do
modelo ETA-3A, é usada para
medir a tensão da linha telefônica
e, em tese, funciona como um rastreador de possíveis grampos. Caso exista um grampo na linha, a
tensão será menor que a padrão.
A reportagem localizou um
equipamento semelhante, à venda na internet, por R$ 24,9 mil.
Foco
A PF iniciou formalmente ontem, com o envio à Justiça Federal
de autos de prisão, um inquérito
específico, cujo foco é investigar
as práticas da Kroll e da Brasil Telecom e em que medida houve conivência entre elas na prática de
supostas irregularidades.
A Brasil Telecom contratou a
Kroll para investigar a Telecom
Italia, empresa com a qual trava
batalhas judiciais.
Até a Operação Chacal, todos os
procedimentos relacionados ao
caso eram tomados no âmbito de
um inquérito instaurado no início
do ano para apurar eventuais irregularidades praticadas pela Parmalat, que faliu em janeiro.
O novo inquérito, que começa
com os cinco pedidos de prisão,
será encaminhado pela Justiça ao
Ministério Público Federal, que
decidirá se propõe ou não denúncia contra os presos e demais alvos da Operação Chacal.
Além da Kroll, a PF cumpriu
mandados judiciais nos escritórios e nas residências dos principais executivos da Brasil Telecom,
Carla Cicco, e do Opportunity,
Daniel Dantas. A prisão de ambos
já fora pedida pela PF e negada
pela Justiça.
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