São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Kroll extrapolou demais", declara um ex-investigador da empresa

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Esse negócio de arapongagem, de entrar no meio de uma disputa entre sócios de uma empresa, está completamente fora do âmbito em que a Kroll deveria atuar", diz James Wygand, 61, o investigador privado norte-americano que introduziu no Brasil, em 1995, a firma que ficou famosa por rastrear fortunas ilegais no exterior.
"Quando eu estava na companhia, não havia, sob hipótese alguma, a possibilidade de grampo", diz. Pelo que leu nos jornais, Wygand acha que a Kroll "extrapolou demais" quando o caso atingiu pessoas do governo.
Ele se refere ao monitoramento de reunião secreta do presidente do Banco do Brasil, Cassio Casseb, com executivos da Telecom Italia, em Portugal, e às acusações de "violação sistemática" de direitos, como a interceptação de telefonemas e e-mails do ministro Luiz Gushiken (Comunicação).
"Não posso julgar se fizeram isso. Mas a Kroll é acusada de um crime muito sério. De certa forma, isso já faz com que a empresa tenha a sua ética comprometida", diz. Wygand hoje tem sua própria empresa, a Risk Solutions Group, com sede em São Paulo.
Ele diz que a investigação privada tem limites: "Se alguém alega que o sócio levou US$ 5 milhões, verifica-se se houve o roubo e tenta-se localizar o dinheiro. Se for necessário violar o sigilo, haverá então elementos para pedir judicialmente que isso seja feito."

Ações frustradas
Versão privada da CIA (agência de inteligência dos EUA), a Kroll Associates foi fundada por Jules Kroll, um ex-investigador do FBI (Federal Bureau of Investigations), dos Estados Unidos.
A Kroll rastreou no exterior os bens de PC Farias, tesoureiro de campanha do candidato a presidente da República Fernando Collor de Mello. Em 1998, tentou recuperar, sem sucesso, US$ 181,6 milhões desviados do Noroeste.
Em 1998, a Kroll foi alvo de apuração da Polícia Federal por causa de investigação que realizou para checar a autenticidade dos papéis do chamado "Dossiê Caribe" -suposta chantagem contra o governo FHC. O diretor da Kroll, Eduardo Sampaio, acareado com o repórter da Folha, refez o depoimento em que apresentara a sua versão da entrevista.
Em 2000, a Kroll evitou comentar informação do "Financial Times" dando conta de que a firma de investigação havia sido vítima de fraude, no Brasil, na sociedade com a O'Gara, firma especializada em blindagem de veículos.


Texto Anterior: Alta espionagem: Disputa começou com o leilão da Telebrás
Próximo Texto: Documentos ocupam dois aviões da PF
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.