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EM OBRAS
Niemeyer quer manter piso original do palácio
Restauração do Alvorada prevê uso de madeira protegida pelo Ibama
EDUARDO SCOLESE
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A restauração de todo o piso térreo do Palácio da Alvorada está
prevista para ser feita com uma
madeira cuja extração é proibida
pela legislação brasileira. A comercialização do jacarandá-da-bahia, árvore nativa do país, está
vedada desde 1992 por uma portaria do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis).
Entre os responsáveis pela restauração, a questão da madeira é
encarada atualmente como um
problema maior do que os entraves burocráticos que impedem o
início das obras. Inaugurado em
1958, o Palácio da Alvorada faz
parte do patrimônio da União.
O arquiteto Oscar Niemeyer,
autor do projeto original do palácio e também um dos responsáveis pelo projeto de reforma, faz
questão de que os materiais da
obra sigam o plano original. Devido a problemas hidráulicos, todo
o piso do Alvorada, de jacarandá-da-bahia, está comprometido e
terá de ser substituído na obra.
Uma opção, que conta com a
forte resistência de Niemeyer, seria trocar o piso por um outro tipo
de madeira. O arquiteto não só
quer manter o que já há de jacarandá como deseja trocar o piso
de ipê da biblioteca do palácio pelo da madeira mais nobre e rara.
Técnicos que trabalham no projeto de restauração dizem que há
apenas uma saída: uma apreensão da madeira feita pelo Ibama,
que poderia doar o produto à restauração do Alvorada. Atualmente, segundo o Ibama, não existe
estoque desse tipo de madeira. O
metro cúbico do jacarandá pode
ultrapassar US$ 1.200 (cerca de R$
3.360) no mercado internacional.
De acordo com a entidade, vinculada ao Ministério do Meio
Ambiente, não há registro de
apreensões de jacarandá realizadas nos últimos anos. Apesar disso, há notícia de uma apreensão
de 33 toneladas da madeira na Espanha. A carga teria sido importada ilegalmente do Brasil no começo deste mês. A mercadoria foi
avaliada em mais de R$ 10 milhões. O Ibama disse que está investigando o caso, mas que a madeira não pode voltar para o país a
não ser que a Espanha resolva arcar com os custos.
A legislação atual diz que a extração e a comercialização da madeira é crime que pode levar à prisão. A multa varia entre R$ 200 e
R$ 500 por metro cúbico de madeira apreendida.
Além do piso do Alvorada, a capela do palácio, também projetada por Niemeyer, tem jacarandá
como revestimento.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva está desde o dia 4 na Granja
do Torto para que a residência
oficial seja restaurada.
A obra será custeada por empresários, sob a organização da
Abdib (Associação Brasileira da
Infra-Estrutura e das Indústrias
de Base), e custará R$ 16 milhões.
Na semana passada, a Abdib
disse que a obra começaria até o
final do mês, prazo que irá se esgotar neste domingo. Além da
questão da madeira a ser usada,
entraves burocráticos, como o tipo de acordo que será firmado entre a União e as patrocinadoras,
ainda estão pendentes.
A árvore (Dalbergia nigra), que
mede de 15 a 25 metros, existe
principalmente nos Estados da
Bahia e do Espírito Santo. Como
já foi muito explorada, é tida
atualmente como espécie ameaçada de extinção. O valor alto comercial da madeira vem da sua
qualidade e durabilidade.
A Folha entrou em contato com
o escritório de Oscar Niemeyer,
mas sua secretária afirmou que
ele estava viajando e que só voltaria no dia 8. Procuradas pela reportagem nas últimas duas semanas, a Abdib e a Secom (Secretária
de Comunicação de Governo)
disseram não poder dar informações até que sejam feitos os acertos finais da obra e que seja realizada uma entrevista para divulgar
os dados à imprensa.
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