São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Perto do fim da linha

No Brasil, a Globo e as demais prosseguiam ontem com a cobertura da Operação Chacal concentrada na empresa de investigação Kroll.
Mas os dois principais jornais de economia do mundo, o americano "The Wall Street Journal" e o britânico "Financial Times", só queriam saber do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity e do Citigroup, representado por Dantas no país.
Para o "WSJ", a operação é só o fato "mais recente da maior batalha" empresarial do Brasil -que opõe o Opportunity, "parceiro-chave do Citigroup", à Telecom Italia em torno do controle da Brasil Telecom.
O jornal descreve Dantas como "envolvido em numerosas disputas judiciais". E diz que, até aqui, "o Citigroup ficou ao seu lado, mas os últimos acontecimentos vêm num momento em que o Citigroup está cambaleante com um tumulto de escorregões éticos pelo mundo todo".
O "FT" vai pela mesma linha, sob o título "A saga da Brasil Telecom está perto do fim da linha", afirmando que as ações policiais de anteontem "podem marcar o começo do fim na longa disputa pela Brasil Telecom".
Segundo o jornal, a Telecom Italia "pode ser ajudada [em sua disputa com o Opportunity] pela pressão crescente sobre o Citigroup para que limpe sua imagem. No último mês, o grupo recebeu ordem para fechar sua operação bancária no Japão. Ele também se desculpou por ter interrompido o mercado de ações europeu e colocou US$ 5,2 bilhões para cobrir ações legais".
A operação policial no Brasil, diz o "FT", "deve se somar a esse desconforto".
De volta ao "WSJ", que encerrou perfilando assim o banqueiro Daniel Dantas:
- Para o senhor Dantas, os últimos acontecimentos resumem a mudança em sua sorte. Conhecido a certa altura como o mais habilidoso gerente de fundos do Brasil, ele viu o Opportunity se tornar sinônimo de controvérsia e batalhas legais.

SEM ACORDO

slate.com/Reprodução
Dia após dia, a cobertura nos EUA expõe o desalento com as pesquisas que se contradizem. Ontem a Slate tentou explicar por que há tanta diferença (ilustração ao lado). Começa assim:
- As últimas pesquisas mostram Bush na frente. Ou Kerry na frente. Ou empate. Faça sua aposta.
"New York Times" e "Los Angeles Times" já dedicaram reportagens. E ontem o "Washington Post" fez a sua, de ângulo humano: a angústia dos próprios pesquisadores. Num quadro assim, surgiu com imensa repercussão um blog (Mystery Pollster, pesquisador misterioso) voltado a explicar "por que os pesquisadores não se entendem".

O VEREDICTO

Reprodução
A revista britânica "The Economist" deu capa ontem à sua dúvida: "O incompetente [Bush] ou o incoerente [Kerry]?" E divulgou, "com o coração pesado", seu "veredicto eleitoral": prefere John Kerry

Lula se move
O presidente petista falou, afinal, sobre a abertura dos arquivos da ditadura. No que foi descrito como uma "conversa informal" com Tereza Cruvinel, de "O Globo", Lula "comprometeu-se pela primeira vez com a abertura dos registros". Dele:
- Vamos enfrentar essa questão com todo cuidado e responsabilidade. Isso não se resolve com grito de lá ou de cá... É preciso responsabilidade para com a democracia, que custou tanto a todos nós. Mas fiquem todos certos que encontraremos uma solução, na hora certa e da forma certa.

Satisfação
Também ontem, como destacaram o UOL e outros sites, Clarice, viúva de Vladimir Herzog, viu toda a seqüência de fotos e encerrou a questão: o homem retratado não é, de fato, o jornalista. De Clarice, ao site iG:
- Não importa que não era, o fato político ocorreu. Deve haver uma satisfação para a sociedade. O Vlado cumpriu, mais uma vez, um papel importantíssimo.

Brasil x Argentina
A "Economist" distribuiu conselhos ontem ao Mercosul, depois do insucesso das negociações com a União Européia.
Dizendo que "a culpa é dos dois lados", sublinhou que os europeus ofereceram pouca abertura em agricultura, mas que os integrantes do Mercosul são "temerosos de competição e divididos entre eles mesmos".
Para a revista, Brasil e Argentina precisam vencer o "protecionismo que usam um contra o outro", o "secretariado fraco" do Mercosul e a "coordenação que é pobre em tudo, das negociações comerciais ao apoio à indústria".

Mercosul lento
Todd Benson, correspondente do "New York Times" em São Paulo, publicou avaliação bastante parecida, quanto ao incipiente Mercosul e à divisão de Argentina e Brasil. Registrou, da porta-voz da União Européia:
- O Mercosul está construindo a si mesmo enquanto negocia conosco. Por sua própria natureza, ele torna lento o processo.


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