São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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VOZ DA IGREJA

Para presidente da entidade, abertura é necessária para "reconhecimento dos injustiçados"

CNBB aprova difusão de documentos secretos

Sérgio Lima/Folha Imagem
Dom Odilo Pedro Scherer, dom Geraldo Magella Agnelo e dom Antônio Celso de Queiroz, da CNBB, ontem, durante coletiva


ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao dizer que só um governo corajoso "abrirá arquivos da ditadura", a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) defendeu ontem a divulgação de documentos secretos do regime militar (1964-1985).
Segundo dom Geraldo Majella Agnelo, presidente da CNBB, a abertura de arquivos é necessária para que "as pessoas que foram injustiçadas recebam reconhecimento". "Não queremos levar ninguém aos tribunais, mas a democracia cresce com a busca de justiça para todos", diz.
Dom Antônio Celso de Queirós, vice-presidente da CNBB, disse que há "grupos influentes na sociedade que se opõem fortemente" à abertura dos arquivos. "Eu compreendo que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, em uma atitude corporativista, se julguem ofendidos. Mas acho que é preciso ter coragem de se olhar os próprios erros, que não foram erros das pessoas de hoje".
O conselho permanente da CNBB fez uma "análise de conjuntura" e discutiu temas como a questão indígena, a cassação no STF (Supremo Tribunal Federal) da liminar que permitia a interrupção da gravidez de fetos anencefálicos e a aprovação no Senado do plantio de grãos transgênicos.
Dom Geraldo fez apelo público para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decida "o quanto antes" pela homologação da reserva Raposa Serra do Sol. Para ele, a entidade está "sensível" à situação enfrentada pelas comunidades indígenas.
O presidente da CNBB falou ainda que a decisão do STF de cassar a liminar que permitia a interrupção da gravidez de fetos anencefálicos "não foi vista como uma vitória". "Foi uma decisão sábia. Não queremos a decisão de apenas um ministro, mas que seja feito um estudo", disse.
Segundo dom Geraldo, a CNBB quer estimular que cristãos especialistas em bioética mostrem sua posição na sociedade-contrária a questões da anencefalia ou o uso de embriões em pesquisas.
"O cristão tem um duplo motivo para trabalhar [por estas questões]: o ético e a fé. Ele sabe qual é o valor da vida, vida esta que já existe no embrião", disse dom Celso de Queirós.
Dom Geraldo se mostrou ainda preocupado com a possibilidade de que eles acabem sendo a "única opção" da população.


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