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ELIO GASPARI
FFHH é a novidade no PSDB
O PSDB sofre um processo de autocombustão. Elegeu dois dos seus melhores quadros e, apesar disso, está em chamas
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A PARTIR DE AMANHÃ haverá
uma novidade política na praça. Chama-se Fernando Henrique Cardoso. FFHH chegou a uma posição semelhante à dos grandes ex-presidentes americanos. Bill Clinton
e Jimmy Carter são pontos de referência para suas sociedades. O mesmo sucede na Espanha com o ex-primeiro ministro Felipe González e sucedeu na Alemanha com Willy Brandt (1913-1992) nos anos 70.
Em todos os casos, quem não gostava desses personagens, continuou
não gostando, mas reconheceu neles
uma autoridade moral. Quando
FFHH dissocia-se do encanto golpista da oposição por um terceiro turno,
credencia-se para conter o eventual
golpismo da constituinte petista.
O PSDB passa por um processo de
autocombustão. Elegeu dois dos seus
melhores quadros (José Serra e Aécio
Neves) para os governos de São Paulo
e Minas e, mesmo assim, está em chamas. Aécio namora a idéia de uma
reunião de governadores que atropelará o Congresso, acertando com o
Planalto novas leis tributárias e políticas. Há quatro anos Lula fez exatamente isso para alavancar a reforma
tributária. Deu em nada. No caso da
reforma política, o segredo é não dar
detalhes. Voto distrital misto? Com
lista? Aberta ou fechada? No seu estágio atual o que há é um projeto que
tunga a patuléia (o financiamento
público das campanhas) para reduzir
o alcance do voto.
Está no baralho a carta da indicação de FFHH para a presidência do
PSDB. Pode ser boa idéia, mas terão
que provar ao monarca que esse posto é maior que a simples exercício de
ser Fernando Henrique Cardoso.
O primeiro empenho de FFHH será achar um daquelas velhas ilustrações que mostram dois burros atados
a uma corda e dois montes de feno.
Como a corda é curta, se cada um quiser fizer força para comer logo o seu
monte, será impedido pelo outro. Se
os burros se unirem, comerão todo o
feno que quiserem. Obtidas as ilustrações, mandará uma para José Serra e a outra para Aécio Neves.
A VIDA DE MELLON É AULA DE CAPITALISMO
Saiu nos Estados Unidos um
livro que mostra como em Pindorama faltam capitalismo e
verdadeiros capitalistas. Chama-se "Mellon, an American
Life", é caro (US$ 40, incluindo
o frete), pesado (621 páginas
em quase dois quilos) e conta a
vida de um banqueiro chato. Ali
entende-se a desdita de Andrew Mellon (1855-1937), um
magnata que tocou a casa bancária da família, tornou-se um
dos homens mais ricos do Estados Unidos e foi secretário do
Tesouro por 11 anos, de 1921 a
1932. Poucos tiveram tanto poder antes dele, nenhum depois.
Mellon foi um símbolo da
plutocracia americano que
acreditava na seleção natural
pelo trabalho e pelo talento. Tinha horror a políticos e sindicatos. Pensando bem, tinha
horror a quase tudo, menos dinheiro, fusões e monopólios.
Não seria capaz de distinguir
Chopin de Cole Porter.
Mellon danou-se em 1929,
quando a economia americana
entrou na maior crise de sua
história. Aos 73 anos, estava no
esplendor. Se é possível responsabilizar três ou quatro
pessoas pelos efeitos do desastre financeiro de 1929, ele foi
uma delas. Encarnou um liberalismo que veio a ser conhecido como a "escola liquidacionista". Viveu a crise sem entendê-la.
Danou-se de novo quando os
americanos elegeram um presidente que propunha ajuda
aos desempregados e a intervenção do Estado para tirar o
país da ruína. Chamava-se
Franklin Roosevelt. Para Mellon a crise era o jogo jogado do
capitalismo. Para Roosevelt, se
o jogo não mudasse, acabava.
Roosevelt jogou a Receita Federal em cima de Mellon. Meteram-lhe um processo espalhafatoso e humilhante. Quando o banqueiro foi absolvido,
estava morto.
É possível que esse homem
solitário e frio tenha desenvolvido um só afeto: quadros caros. Tornou-se um dos maiores
colecionadores do mundo.
Num só lance, comprou 25 pinturas (inclusive a Alba Madona
de Rafael) à custa privataria secreta da coleção do Hermitage,
promovida por Stálin.
Vilipendiado, um dia foi tomar chá com Roosevelt na Casa
Branca. Tratou da entrega de
sua coleção ao povo americano,
com a condição de que se erguesse em Washington a National Gallery, sem referência
ao seu nome. Quem entra hoje
naquele esplêndido museu,
mal percebe que há uma sala
com poltronas logo à direita,
com um retrato do banqueiro e
de outros grandes doadores.
Muita gente ainda acredita que
Mellon deu os quadros para se
livrar do fisco. O autor da biografia, o historiador inglês David Cannadine, informa: não há
um mísero papel que sustente
essa tese. O que há é um ensinamento de um colega de Mellon,
o banqueiro John P. Morgan:
"As pessoas sempre fazem as
coisas por dois motivos, o bom
e o verdadeiro".
Mellon foi um grande capitalista, de um tempo revogado
pelas lições de Roosevelt: "O
teste do progresso não está no
aumento da abundância daqueles que têm muito, mas em
prover o suficiente para quem
tem muito pouco".
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