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Dois presos dão detalhes de caso e são soltos
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA
A Justiça Federal em Roraima
autorizou ontem a soltura de duas
das 43 pessoas presas desde a última quarta-feira na cadeia pública
de Boa Vista por terem colaborado com as investigações do chamado "escândalo dos gafanhotos", que pode ter desviado recursos públicos da ordem de R$ 230
milhões, em quatro anos.
Os depoimentos dos acusados
de participação no esquema começaram ontem. Entre as pessoas
que serão ouvidas está o ex-governador Neudo Campos, 55,
(PP), tido pela força-tarefa que
apura as fraudes como o mentor
dos atos de corrupção. Ele foi preso em Brasília há três dias e nega
as acusações. Por uma questão de
estratégia das investigações, deverá ser o último a prestar esclarecimentos sobre o caso.
As pessoas que estão se dispondo a contar o que sabem sobre o
caso estão tendo preferência para
serem ouvidas, segundo a Polícia
Federal, e poderão ser beneficiadas, inclusive, com abrandamento de pena em caso de futuras
condenações.
O prazo da prisão do ex-governador expira no domingo e é renovável por mais cinco dias.
A fraude que está sendo apurada em 40 inquéritos consistia no
desvio de dinheiro da folha de pagamento do Estado por meio de
funcionários-fantasmas, chamados de "gafanhotos", que comiam
os recursos públicos. A maior
parte do salários dos supostos servidores estaduais, aliciados por 60
procuradores, iria parar no bolso
de 30 autoridades roraimenses.
Os crimes vão de peculato até formação de quadrilha.
Os advogados de Campos tentaram adiantar o depoimento, sem
êxito, alegando falta de segurança
na cadeia pública onde ele está,
construída na gestão do próprio
ex-governador, de 1995 a 2002.
"Como algumas pessoas resolveram colaborar dando detalhes
que corroboram com as investigações, achamos por bem pedir a
soltura. O objetivo das prisões é
justamente ajudar na coleta de
provas", afirmou o delegado Julio
César Baida, que preside os inquéritos. O teor dos depoimentos
e o nome das pessoas liberadas
não foram revelados.
Até ontem à tarde, 11 pedidos de
habeas corpus em favor dos presos tinham sido encaminhados ao
TRF (Tribunal Regional Federal),
em Brasília, mas nenhum havia
sido concedido.
Um esquema especial de segurança aos procuradores da República que fazem parte da força-tarefa foi montado com a participação, inclusive, de agentes da segurança da Procuradoria Geral da
República.
A Justiça considera 13 pessoas
foragidas, entre elas o ex-diretor
da Polícia Judiciária Ângelo Paiva.
Das 57 prisões expedidas, 43 foram efetivadas até ontem. Um dos
envolvidos morreu há 15 dias.
Por intermédio de um assessor,
o ex-governador Neudo Campos
declarou, na última quinta, de
dentro da cadeia pública, que está
sendo "injustiçado" e que "não
entende o motivo de sua prisão".
"Estou com a consciência tranquila de que sempre procurei fazer o melhor para Roraima e isso
atingiu interesses contrários à minha administração. Vou provar
que não devo nada", afirmou.
(JAIRO MARQUES)
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