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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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CRIME ORGANIZADO

Parte do dinheiro vem da Assembléia Legislativa de Mato Grosso, que deve à empresa de João Arcanjo

Justiça bloqueia R$ 25,6 mi de "comendador"

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O juiz Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara Federal de Cuiabá (MT), decidiu nesta semana colocar sob custódia da Justiça Federal R$ 25.665.887,82 do ex-policial civil João Arcanjo Ribeiro, 52, de suas empresas e de sua mulher, Silvia Chirata.
Arcanjo é acusado de liderar uma das maiores organizações criminosas do país, com sede em Mato Grosso.
Se o ex-policial for condenado, o dinheiro pode ficar definitivamente com a União e deverá ser gasto em projetos para a segurança pública.
Do valor total de R$ 25,6 milhões, R$ 8.462.122,54 são em dinheiro. A quantia, que estava em bancos privados será depositada, por ordem do juiz, em uma agência da Caixa Econômica Federal na conta da Justiça Federal.
Também sob custódia e guardados em cofre estão cheques que somam R$ 548.765,28.
Na decisão, o juiz Silva ainda entendeu que a Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso deve R$ 16.655.000 à Confiança Factoring, empresa de Arcanjo supostamente usada em esquema de lavagem de dinheiro.
A quantia corresponde a notas promissórias e a um cheque também sob custódia da Justiça, o que totaliza os R$ 25,6 milhões.
Não foi incluído o patrimônio do ex-policial, como um avião, fazendas, um shopping em Rondonópolis (MT), jóias, imóveis e as empresas de factoring.
Conhecido como "comendador", Arcanjo está preso desde abril em Montevidéu, Uruguai, por uso de documento falso. No Brasil, ele responde a processos por lavagem de dinheiro, sonegação de R$ 842 milhões, formação de quadrilha e assassinatos.
O juiz federal determinou ainda que o Deutsche Bank e o BankBoston sejam notificados para dar informações sobre contas bancárias de Arcanjo.
Documentos recebidos em agosto pelo juiz apontam que Arcanjo movimentou pelo menos US$ 69,8 milhões nas agências do Deutsche Bank e do Bankboston em Montevidéu e em Nova York (EUA) de setembro de 1999 a dezembro de 2002.

Assembléia
Os R$ 16,6 milhões que, segundo a Justiça Federal, a Assembléia Legislativa de Mato Grosso deve à empresa de factoring de Arcanjo correspondem a 23 notas promissórias no valor de R$ 15,6 milhões e a um cheque de R$ 1 milhão.
Até a semana passada, a Justiça relacionava 22 promissórias no valor de R$ 15,2 milhões assinadas pelo presidente da Assembléia, José Geraldo Riva (PTB), e pelo deputado licenciado Humberto Bosaipo (sem partido).
A Justiça determinou que o dinheiro fosse devolvido no prazo de 24 horas, porque a quantia faz parte dos bens bloqueados de Arcanjo. O TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, em Brasília, suspendeu a decisão no dia 17.
Um relatório do Banco Central aponta que a Assembléia Legislativa pagou R$ 65,2 milhões de 1998 a dezembro de 2002 para a Confiança Factoring.
Em junho, durante um depoimento na Justiça, o ex-gerente da factoring Nilson Teixeira disse que o dinheiro foi usado para pagar dívidas com fornecedores e com deputados e as despesas de campanhas eleitorais.


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