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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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MEMÓRIA

Callado foi ao Vietnã do Norte cobrir a guerra

DO ENVIADO AO PONTAL

Quando o governo de Franco Montoro (1983-1986) convidou Antonio Callado para escrever sobre o Pontal, sabia que teria um relato favorável às desapropriações. Numa outra vez que escrevera sobre a questão agrária, em 1959, o autor manifestou solidariedade às Ligas Camponesas, movimento que lutou pela reforma agrária em Pernambuco e foi desmantelado pelo regime militar (1964-1985).
Callado se formou em direito, mas nunca exerceu a profissão. No jornalismo, era assumidamente engajado. Foi o único jornalista latino-americano não-cubano a reportar a Guerra do Vietnã a partir do Vietnã do Norte. "Não fui ao Vietnã para descobrir quem tinha razão. Isso eu já sabia. Fui lá para entender como os vietnamitas haviam conseguido, comendo arroz e caldo de peixe, forças para derrotar, em 1954, a potência militar que era a França e, em 1968, levar os americanos à mesa de conferências", disse ele numa entrevista posterior. O título do livro que escreveu sobre o conflito -"Vietnã do Norte - Advertência aos Agressores"- é revelador de qual partido ele tomou.
Callado também trabalhou na cobertura da Segunda Guerra Mundial, no serviço brasileiro da BBC, em Londres, e na Rádio Difusão Francesa, em Paris.
No Brasil, foi um dos primeiros jornalistas a estar no Xingu. Foi redator-chefe do "Correio da Manhã" e da "Enciclopédia Barsa", editorialista do "Jornal do Brasil" e colunista da Folha. Foi preso várias vezes durante o regime militar (1964-1985) -numa delas, foi obrigado a carregar um pôster de Che Guevara que tinha em sua casa.
Entre seus livros, "Quarup", de 1967, é o mais conhecido, mas "Reflexos do Baile", de 1976, é considerada pelo próprio Callado sua principal obra. Em 1994, o escritor foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira de Austregésilo de Athayde.
No fim da vida, Callado disse ter "perdido completamente o interesse em operações políticas no Brasil". "Não tenho a menor esperança de ver coisas diferentes na minha frente", afirmou ele em entrevista à Folha publicada dois dias antes da sua morte, em 28 de janeiro de 1997, aos 80 anos.


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