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MEMÓRIA
Callado foi ao Vietnã do Norte cobrir a guerra
DO ENVIADO AO PONTAL
Quando o governo de
Franco Montoro (1983-1986) convidou Antonio
Callado para escrever sobre
o Pontal, sabia que teria um
relato favorável às desapropriações. Numa outra vez
que escrevera sobre a questão agrária, em 1959, o autor manifestou solidariedade às Ligas Camponesas,
movimento que lutou pela
reforma agrária em Pernambuco e foi desmantelado pelo regime militar
(1964-1985).
Callado se formou em direito, mas nunca exerceu a
profissão. No jornalismo,
era assumidamente engajado. Foi o único jornalista latino-americano não-cubano a reportar a Guerra do
Vietnã a partir do Vietnã do
Norte. "Não fui ao Vietnã
para descobrir quem tinha
razão. Isso eu já sabia. Fui lá
para entender como os
vietnamitas haviam conseguido, comendo arroz e caldo de peixe, forças para
derrotar, em 1954, a potência militar que era a França
e, em 1968, levar os americanos à mesa de conferências", disse ele numa entrevista posterior. O título do
livro que escreveu sobre o
conflito -"Vietnã do Norte - Advertência aos Agressores"- é revelador de
qual partido ele tomou.
Callado também trabalhou na cobertura da Segunda Guerra Mundial, no
serviço brasileiro da BBC,
em Londres, e na Rádio Difusão Francesa, em Paris.
No Brasil, foi um dos primeiros jornalistas a estar no
Xingu. Foi redator-chefe do
"Correio da Manhã" e da
"Enciclopédia Barsa", editorialista do "Jornal do Brasil" e colunista da Folha.
Foi preso várias vezes durante o regime militar
(1964-1985) -numa delas,
foi obrigado a carregar um
pôster de Che Guevara que
tinha em sua casa.
Entre seus livros, "Quarup", de 1967, é o mais conhecido, mas "Reflexos do
Baile", de 1976, é considerada pelo próprio Callado sua
principal obra. Em 1994, o
escritor foi eleito para a
Academia Brasileira de Letras, na cadeira de Austregésilo de Athayde.
No fim da vida, Callado
disse ter "perdido completamente o interesse em
operações políticas no Brasil". "Não tenho a menor
esperança de ver coisas diferentes na minha frente",
afirmou ele em entrevista à
Folha publicada dois dias
antes da sua morte, em 28
de janeiro de 1997, aos 80
anos.
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