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"Já estou com a corda no pescoço", diz Gedimar à CPI
Questionado sobre a origem do dinheiro, petista fala que não pode "agora puxar a corda"
Preso com dinheiro do dossiê, ex-agente da PF
afirma que foi a hotel por ordem de Lorenzetti e
declara que sofreu tortura
LEONARDO SOUZA
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Preso com o R$ 1,75 milhão
usado na negociação do dossiê
contra tucanos, o ex-agente da
Polícia Federal Gedimar Passos disse ontem, em depoimento à CPI dos Sanguessugas, que
foi ao hotel Ibis, em São Paulo,
por ordem de Jorge Lorenzetti,
chefe do chamado núcleo de inteligência da campanha de Lula. Ele não quis responder
quem lhe repassou os recursos.
Gedimar é o quinto "aloprado", como Lula apelidou os envolvidos no caso ao tentar desvincular-se dele, a negar à CPI
saber a origem do dinheiro.
Também depôs ontem à CPI
o ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante ao
governo de São Paulo, Hamilton Lacerda, suspeito de ter levado a mala com o dinheiro aos
hotel onde estavam Gedimar e
Valdebran Padilha, emissário
da família Vedoin, chefe dos
sanguessugas.
"Eu já estou com a corda no
pescoço. Eu não posso agora
puxar a corda", disse Gedimar
em resposta ao deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que insistia em saber o nome de quem
havia lhe repassado o dinheiro.
Num depoimento com muitas contradições, Gedimar contou que fora escalado por Lorenzetti apenas para avaliar a
documentação, sem nunca terem conversado sobre pagamento. Ele disse, porém, que
nas três ocasiões em que esteve
com Luiz Antonio e Darci Vedoin, os dois pediram dinheiro.
Primeiro, o valor caiu de R$
20 milhões para R$ 10 milhões
e, depois, para R$ 2 milhões.
Gedimar disse que reportou a
Lorenzetti as exigências feitas
pelos Vedoin, mas negou que tivesse havido negociação.
O delegado da PF Diógenes
Curado está convencido de que
foi Lacerda quem levou o dinheiro para Gedimar.
No primeiro depoimento que
prestou à PF, Gedimar havia dito que uma pessoa que se apresentou como André foi quem
lhe repassou as sacolas com o
dinheiro. Ontem, mais uma
vez, Gedimar disse que não o
conhecia e que não saberia dizer quem lhe havia orientado.
"Essa versão é incompatível
com sua formação [agente da
PF]. É inverossímil", ressaltou
Gabeira. "Excelência, já estou
indiciado", retrucou Gedimar.
Ele confirmou a versão de
Lacerda, que disse ter ido ao
hotel para levar roupas para
Gedimar e boletos de contribuição da campanha de Lula.
No depoimento à PF, Gedimar havia identificado Freud
Godoy, amigo e assessor especial de Lula que se afastou com
o escândalo, como a pessoa que
havia autorizado o pagamento.
Depois voltou atrás, dizendo
que havia sido coagido pelo delegado que o prendeu no hotel,
Edmílson Bruno, a dar um nome de um importante petista.
Ontem, ele chegou a dizer
que foi torturado pela PF. Disse
que, ao ser levado para Cuiabá,
foi preso numa cela do presídio
Pascoal Ramos com água até os
joelhos. Questionado se teria
sofrido torturas também na PF
de São Paulo, disse: "Todo
mundo sabe que há dois tipos
de tortura, a física e a psicológica", disse Gedimar, que chegou
a exibir as canelas, para mostrar que contraiu micose na cadeia em Cuiabá.
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