São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2007

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JANIO DE FREITAS

O jogo das traições


Diante da conta da oposição, que diz ter votos para extinguir a CPMF, a reação do governo ficou longe do que seria esperável


SEI QUE A paciência exausta entregou a CPMF ao setor do "seja o que Deus quiser", mas surgiu uma situação que merece ser observada por um momento, ainda que como diversão. Um cara ou coroa no joguinho do ilusionismo político.
A oposição de repente afirma contar com votos para extinguir a CPMF, segundo verificações algo cabalísticas dos demistas, ou seja, dos velhos conhecidos do PFL fantasiado de DEM. E decide facilitar a chegada da CPMF à votação decisiva. Com 33 votos contrários, ao governo restariam no máximo 48: um abaixo do necessário para manter a mão da CPMF em nossos bolsos. Só aí já é de estranhar esse risco no valor de R$ 40 bilhões.
Diante da conta oposicionista e do caminho aberto à votação, a reação do governo ficou longe do que seria esperável sob tamanha ameaça. Mais estranheza, portanto. E, ainda, sabe-se que tanto na tal base governista há contrários à CPMF como entre os oposicionistas há favoráveis. Não é necessária muita perspicácia para perceber na mesa duas hipóteses:
1 - A oposição proclama-se em vantagem e parte para a votação, perde e alega que, com a margem muito estreita, bastou o mínimo de traição para assegurar a permanência da CPMF. Tudo feito conforme acordo com o governo, como querem os governadores José Serra, Aécio Neves, Yedas Crusius e outras eminências do PSDB.
2 - O governo já comprou votos bastantes para vencer, mas senadores que se mostram simpáticos a um lado e ao outro quando não falam em público, e são vários, já derrubaram MP e até novo ministério criado por Lula, com votos indiscutíveis da base governista. Nesse caso, o governo está pagando para ser o último a saber.

Quem dera
O Amazonas é um rio de surpresas. Um redemoinho inesperado, uma onda forte e transversal à correnteza, troncos em quantidade, os problemas se sucedem. Mas não é isso que faz do Amazonas um sugadouro de barcos e de vidas. É a precariedade extrema da maioria das embarcações de transporte coletivo, que naufragam com freqüência tão intensa que fez desses desastres, desde muito tempo, fatos corriqueiros. Uma embarcação que levava 60 pessoas já registrou o primeiro naufrágio da semana, com a conseqüência habitual de passageiros tragados no roldão do rio.
Se não for desviar suas atenções do submarino nuclear, talvez o ministro Nelson Jobim pudesse lembrar-se de equipar e ativar a Marinha para o cumprimento do seu dever de fiscalizar a navegação, seja marítima ou fluvial, e suas condições. Com início dessa novidade no Amazonas e afluentes. Mas reconheçamos que imaginar a atenção ministerial desviada do submarino nuclear para vidas humanas, e ainda mais de gente humilde, é quase alucinação.

Explica-se
Muitos acham esquisita a inclusão do Brasil entre os países com alto Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH. Ora, isso é coisa de quem não notou quanto o país foi puxado a tanto pelas condições nas cadeias, em especial as do Pará e as de Minas; nas favelas do Rio e nas noites dos mendigos inflamáveis da cidade de São Paulo.


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