|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dúvida cerca uso do PAC contra tráfico no Rio
Governo estadual ainda não definiu as linhas de ação para alcançar o objetivo do programa de reduzir a violência em favelas
Lula anuncia na amanhã
no morro do Cantagalo a
liberação de R$ 1,07 bilhão para quatro favelas sob
o domínio de traficantes
MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO
Um dos objetivos confessos
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nas favelas cariocas é "a obtenção da
paz e a redução drástica da violência". Mas ainda é uma incógnita como o governo do Rio alcançará esta meta.
As quatro favelas escolhidas
para as obras -Complexo do
Alemão, Manguinhos, Pavão/
Pavãozinho/Cantagalo e Rocinha- são dominadas pelo tráfico (as três primeiras pelo Comando Vermelho e a Rocinha
pela ADA) e em todas houve
conflitos com a polícia ao longo
deste ano. O mais grave ocorreu
no Complexo do Alemão (zona
Norte), sitiado desde maio e
onde desde então já morreram
mais de 60 pessoas. Mas na sexta a polícia foi recebida a tiros
quando tentou entrar no morro
do Cantagalo, em Ipanema, zona Sul, onde o começo das
obras está previsto para amanhã com a presença de Lula.
Os projetos do PAC para os
quatro conjuntos de favelas estão orçados em R$ 1,07 bilhão.
O Ministério da Justiça e o
governo fluminense criaram no
dia 13 um grupo executivo para
acompanhar os investimentos
do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com
Cidadania) no Estado, mas ainda não foram definidas as linhas de ação. O que está acertado é que também acompanhará
a questão de segurança nas favelas do PAC.
A Folha apurou que há duas
estratégias em discussão. A primeira advoga que há condições
de começar as obras e aos poucos empreender ações policiais
até dominar o tráfico e recuperar as favelas. Segue a idéia de
que o governo deve entrar primeiro com benefícios e ações
sociais para ganhar a confiança
da população e enfraquecer o
tráfico. A outra opção é a favor
de primeiro se resolver o problema policial, ou seja, dominar ou expulsar o tráfico antes
de as obras começarem.
As licitações para a contratação das empreiteiras que tocarão os projetos estão marcadas
para 26 de dezembro. As obras,
portanto, só poderão começar
em janeiro ou fevereiro, com
exceção do Pavão/Pavãozinho/Cantagalo, cujo projeto e
licitação são anteriores ao PAC
e foram por ele assimilados.
O governador Sérgio Cabral
demonstrou publicamente
preocupação com a segurança
quando pediu, em setembro,
que os moradores ajudassem
os técnicos e não se intimidassem com a bandidagem.
Em entrevista à Folha, em
outubro, o governador chegou
a manifestar a intenção de acabar com o domínio do tráfico,
mas depois enviou uma nota
em que afirmava que trabalha
para o fim deste domínio, mas
que não tem a ilusão de que vai
acabar com ele em uma data
pré-determinada.
A política de segurança pública adotada pelo governo é a
do enfrentamento. Este tipo de
política provoca a hostilidade
em relação à polícia e até agora
não resultou na libertação de
comunidades. Um dos pilares
das intervenções nas quatro favelas selecionadas pelo PAC é a
abertura e alargamento de ruas
e a construção de obras que
marquem a presença do Estado. Algumas destas obras estão
sendo vistas por moradores
apenas como intervenções para facilitar a entrada da polícia.
Colaborou MÁRCIA BRASIL da Sucursal do Rio
Texto Anterior: Pesquisa: Jovens citam política como maior vergonha Próximo Texto: Consenso entre traficantes rivais permite teleférico Índice
|