São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 2000

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QUESTÃO INDÍGENA

Instituição pede ajuda à Polícia Federal para impedir conflito dos índios ashaninkas com madeireiros

Funai tenta impedir confronto no Acre

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CRUZEIRO DO SUL

A Funai encaminhou ontem ao diretor-geral da Polícia Federal, Agílio Monteiro Filho, um pedido para que até domingo sejam enviados, por helicóptero, um delegado e agentes da PF ao município de Marechal Thaumaturgo, próximo à fronteira com o Peru.
A Funai quer que os policiais federais cheguem à área dos índios ashaninkas antes de um eventual confronto entre indígenas e madeireiros peruanos. O administrador da Funai no Acre, Antonio Pereira Neto, teme que o confronto estoure daqui a três dias.
Os agentes da PF e da Funai devem sobrevoar o local de helicóptero só na próxima terça-feira.
Amanhã, segundo a Funai, pelo menos 15 índios armados com espingardas calibre 20, usadas em caçadas, sairão da aldeia Apiwtxa, que fica na área indígena Kampa, no rio Amônia, rumo à área do rio Amoninha, hoje ocupada por cerca de 300 peruanos. De barco, a viagem dura cerca de dois dias.
"Os índios devem estar preparados, pois sabem que vão encontrar os peruanos fortemente armados. Ninguém vai para uma região dessa despreparado para confrontos", disse Pereira Neto.
Em março passado, a Funai acreana havia alertado sua direção em Brasília, o governador Jorge Viana (PT) e o Exército sobre os riscos que os ashaninkas estariam correndo caso a construção de uma estrada clandestina, usada por peruanos na exploração de madeira, não fosse paralisada.
"Se nossa denúncia tivesse sido apurada, os fatos atuais não estariam ocorrendo." Pereira Neto conversou ontem com membros da Embaixada do Peru no Brasil, e eles disseram que a polícia peruana irá investigar e reprimir a exploração irregular de madeira na fronteira entre Brasil e Peru.
Nos últimos dias, os líderes indígenas estão preocupados também com a divisão entre os próprios índios. Parte dos ashaninkas é favorável à exploração de madeiras nobres na região, como mogno e cedro, para trabalhar para os peruanos como mão-de-obra remunerada. A outra parte dos índios, incluindo os líderes, teme que, em troca de dinheiro, a tribo perca sua identidade.
De acordo com Francisco Pianko, 33, filho mais velho do chefe ashaninka Antônio, o clima é tenso na tribo, tanto em relação à invasão dos peruanos como também pelos conflitos internos.
Segundo Pianko, a tribo está cercada, e a maioria das árvores já foi derrubada. "Com máquinas pesadas e motosserras, eles já criaram estradas que invadiram o território ashaninka, derrubaram as árvores e estão apenas aguardando a retirada da madeira."


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