São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

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Segurança admite saques em contas da Skymaster

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Francisco Marques Carioca, 42, segurança da empresa Cortez Câmbio e Turismo, admitiu ontem em depoimento à CPI dos Correios ter efetuado 27 saques nas contas da empresa de aviação Skymaster, prestadora de serviço de correio aéreo noturno dos Correios, que totalizam R$ 1,036 milhão, no período de fevereiro de 2000 a julho de 2001.
Segundo Carioca, os saques foram feitos em agências em Manaus, sempre a mando de um suposto advogado informal da Skymaster chamado Marcus Valerius Pinto de Macedo, que hoje ele diz "não saber se está mais gordo ou mais magro".
Carioca afirmou que recebia R$ 50 entregues após cada visita ao banco pelo advogado e disse que não se preocupou em fazer os saques porque "não imaginava de onde vinha o dinheiro". Disse também que, inicialmente, sua função seria escoltar o advogado nas as operações bancárias, mas que aceitou receber os pagamentos em seu nome para ganhar R$ 50.
No depoimento, Carioca chegou a mudar sua versão. Primeiro, disse que só conhecia o nome da empresa Skymaster pela TV. Mas em seguida, após ser confrontado com uma lista dos saques feitos por ele em posse da CPI, decidiu revelar os encontros com o advogado.
"Eu encontrava com ele no banco e sacava os cheques para ele. Fazia os saques porque era inocente", disse Carioca. "Pelo fato de ele ser advogado eu o respeitava, prevaleciam os R$ 50."
Carioca disse ter conhecido Pinto de Macedo em uma boate, na qual "fazia bicos" de segurança, em Manaus, e que combinava as datas dos saques no próprio local.
Ele disse "não se lembrar" para onde o advogado levava as quantias, que algumas vezes somavam mais de R$ 150 mil embalados em sacolas. "O que me interessa guardo na memória, mas o que não interessa esqueci."
Para o sub-relator de contratos da CPI, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), as operações podem revelar uma fatia dos R$ 30 milhões sacados das contas da Skymaster de origem suspeita. "Ele omitiu visivelmente para onde foi o dinheiro, o que reforça a tese que pode ser dinheiro de corrupção."
A CPI investiga se o dinheiro sacado por Carioca era oriundo de propina paga pela Skymaster aos Correios. Também suspeita que a Cortez poderia servir para "lavar" o dinheiro ou remetê-lo ao exterior. Os principais indícios são coincidências encontradas na quebra dos sigilos bancários das empresas com as datas dos saques nas contas da Skymaster e negociações com a estatal.
Por exemplo: dois dos 27 saques feitos por Carioca, nos valores de R$ R$ 36 mil e R$ 165 mil, foram efetuados logo após uma dispensa de licitação dos Correios que favoreceu a Skymaster. A negociação ocorreu no dia 26 de junho, e os saques nos dias 27 e 28 daquele mês.
A Skymaster diz desconhecer qualquer funcionário ou advogado chamado Marcus Valerius Pinto de Macedo. Sobre a existência dos saques, disse que é preciso uma verificação minuciosa.
Após o depoimento, a CPI aprovou a convocação de Pinto de Macedo e uma acareação entre ele e Carioca.


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