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Líderes partidários se perpetuam no poder
Parlamentares correm atrás de assinaturas para garantir permanência; não há limitação constitucional para mandatos
José Agripino Maia (DEM)
e Arthur Virgílio (PSDB) lideram os dois maiores partidos da oposição no Senado há quase dez anos
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Tão cara às oposições, a alternância de poder não passa de
discurso entre a maioria dos líderes partidários do Congresso
-especialmente os da oposição. Nas duas Casas do Parlamento, a perpetuação no poder
é prática corrente. Há quase
uma década os senadores José
Agripino Maia (DEM-RN) e Arthur Virgílio (PSDB-AM) lideram os hoje dois maiores partidos da oposição no Senado.
Até agora, dez líderes, contando Câmara e Senado, já conseguiram assegurar a recondução ao cargo em 2009, número
que pode chegar a 15. Apenas
em oito houve mudança. Nesses casos, com exceção do PT e
do PSOL, os líderes que estão
de saída haviam sido reeleitos
várias vezes.
O recorde nas duas Casas legislativas é do senador Arthur
Virgílio. Contando o tempo em
que ele liderou a bancada do
PSDB na Câmara e depois no
Senado, já são 11 anos consecutivos no cargo. No Senado, ele
irá para o sétimo ano, que promete ser o último. "Sinto que
nós devemos estabelecer um
rodízio a partir de 2010 para
que outros tenham essa experiência", disse. Considerando-se apenas o tempo de liderança
no Senado, o senador Agripino
é o recordista. Ele está na liderança desde 2001 e já garantiu a
vaga para 2009 e 2010.
Não há limitação constitucional para mandatos de lideranças, e a maioria dos partidos
não veda a recondução. Aqueles que proíbem não seguem a
regra. O deputado Fernando
Coruja foi reeleito para o terceiro ano seguido para liderar a
bancada do PPS, embora esteja
no estatuto da sigla que o líder
deve ser escolhido "sob a forma
de rodízio anual".
No PSDB, quem faz as regras
são as bancadas. Na Câmara, a
recondução consecutiva é proibida, mas um grupo de 37 deputados, numa bancada de 58, já
tem assinaturas para mudar essa determinação e permitir a
reeleição do deputado José
Aníbal (SP) para mais um ano.
No DEM, vale a regra da Casa
à qual o parlamentar pertence.
Os regimentos da Câmara e do
Senado, porém, são omissos
quanto a isso. Considera-se que
é um assunto interno das siglas.
Apesar disso, a bancada da Câmara decidiu criar uma norma
depois de o deputado Inocêncio Oliveira (hoje no PR-PE) ter
ficado por sete anos consecutivos na liderança. Agora é um
ano para cada um. Em 2009,
quem responderá pelo partido
será Ronaldo Caiado (GO) e
não mais ACM Neto (BA).
O presidente do partido, Rodrigo Maia (RJ), defende o rodízio, mas não repete o argumento quando o assunto é o Senado. "Lá a bancada é menor,
há outros espaços de poder."
A falta de regras gera conflito. Todo final de ano, os líderes
que querem continuar no cargo
correm atrás de assinaturas para garantir a permanência.
Muitos parlamentares dizem
que assinam a lista constrangidos, temendo retaliações em
caso de reeleição. E assim muitos vão ficando na função, que
dá direito a estrutura, posição
privilegiada na hora de negociar cargos, votações e indicação de relatores para projetos,
além de espaço na imprensa.
Dos 20 líderes que mais tempo ficaram no poder, três viraram ministro, um governador,
um prefeito e dois presidentes
da Câmara. "Acho uma falta de
respeito. É difícil dizer não à
lista", disse a deputada Rita Camata (PMDB-ES). "Hoje é meia
dúzia que domina o processo
político. A alternância é importante, enriquece."
No PMDB da Câmara, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN) foi para o terceiro ano
na liderança. Antes dele, Geddel Vieira Lima (BA), atual ministro da Integração Nacional,
ficou seis anos. Alves rebate as
críticas de Camata. "Se ela quiser ser líder, é só apresentar as
assinaturas de apoio. Continuo
no cargo porque a bancada assim desejou". No Senado, Valdir Raupp (PMDB-RO) também tenta continuar por mais
um ano. Para isso, enfrentará
Renan Calheiros (AL), que tenta voltar ao posto.
Reeleição
O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), também tenta permanecer no cargo por mais dois anos se valendo da tese de que, como foi eleito para um "mandato tampão",
com a renúncia de Renan Calheiros, sua recondução é permitida -embora a Constituição vede a reeleição. O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e
o senador José Sarney (PMDB-AP), presidentes de suas Casas
de 2003 a 2004, tentaram aprovar emenda à Constituição para permitir a reeleição, mas a
Câmara rejeitou a medida.
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