São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2002

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JANIO DE FREITAS

Das pesquisas

É susto atrás de susto, os petistas e o grupo de José Serra nem podem refletir um pouco mais. Primeiro foi Roseana Sarney, com a subida em vertical. Agora é Anthony Garotinho que, com dois saltos, não só se confirma em terceiro nas três pesquisas mais recentes, como faz, em todas, eloquente aproximação de Roseana.
Também um dado interessante se encontra nas três pesquisas: se existe, a influência política da execução do prefeito Celso Daniel não segue a "análise" do grupo de Serra e da direita, segundo a qual Luiz Inácio Lula da Silva seria o beneficiário eleitoral. Nas três pesquisas, Lula caiu.
As três pesquisas coincidem na evidência de que o eleitorado está muito mais atento do que parece. Mal Itamar Franco começou a mostrar-se convencido de que não conseguiria ultrapassar a barreira dos negocistas do PMDB, também começou a distribuição dos apoios ao seu nome nas pesquisas. Mas Itamar continua como um dos pesos individuais mais importantes na eleição, por ser o ponto de convergência de três grandes fatores eleitorais: governador no segundo maior colégio eleitoral do país, a capacidade de seccionar uma boa fatia do PMDB e simbolizar, para certo eleitorado, o anti-Fernando Henrique Cardoso.
Chega a ser gaiato que o deputado Michel Temer, detentor da presidência de direito, mas não de fato, do PMDB, fazendo a cara de sério para acusar Itamar Franco de relegar sua pré-candidatura e distanciar-se do partido, ao admitir conversas com o PT. O PMDB atual está dividido entre uma cúpula de oportunistas do negócio e uma grande massa de manobrados. Proeminência naquela cúpula, o "anão do Orçamento" Geddel Vieira Lima já foi negociar com José Serra o apoio do PMDB, sem autorização da Executiva Nacional, sem ouvir os convencionais -e ele não está traindo o PMDB. Aliás, não está mesmo: está só fazendo o negócio que, lá, chamam de negociação.
Então, subindo ainda mais no seu terceiro lugar, Anthony Garotinho já começou a apanhar, como apanharam Lula e Roseana, que "não passava de fogo de palha do PFL para se valorizar" com Fernando Henrique.
Entre as ofensivas imediatas, como reação ao susto com as pesquisas da semana, o programa de refeições servidas a cerca de 350 mil crianças pobres durante as férias, para que interrupção de aulas não resulta em desnutrição, está acusado pelo deputado petista Chico Alencar de "pura demagogia eleitoreira". Alimentar crianças cujas carências as férias escolares, absurdamente, acentuavam -ah, que maravilhosa demagogia. Isso enquanto o deputado petista Chico Alencar, sempre um exemplo do politicamente corretíssimo, colhe assinaturas em um manifesto para influir no destino do filho de Cássia Eller, sem ter a menor idéia do que mais pode convir, de fato, às condições psicológicas da criança.
Melhor ainda que a propaganda da refeição nas férias foi o presente que Anthony Garotinho recebeu de Fernando Henrique Cardoso, com a entrevista, em "Época", na qual incluiu, a propósito da criminalidade, esta frase que retoma sua conhecida finura: "São Paulo virou esculhambação". Assim condenado o PSDB que governa São Paulo, Anthony Garotinho recebe, de graça, uma boa alavanca para propagandear suas estatísticas na segurança pública.


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