São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2002

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QUAL GLOBALIZAÇÃO?

PORTO ALEGRE

Grupos antiglobalização farão ato contra o encontro econômico nos EUA e contra o evento social no Brasil

Ativistas protestarão contra os dois fóruns

ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA

Ativistas antiglobalização, que fazem protestos simultâneos pelo mundo em encontros de entidades como o FMI e o Banco Mundial, pretendem realizar uma série de manifestações em Porto Alegre durante o FSM (Fórum Social Mundial), que começa amanhã.
A idéia é protestar contra o Fórum Econômico Mundial, que este ano se reúne em Nova York, e também se contrapor ao FSM, considerado "reformista" pelos manifestantes anticapitalistas.
"O FSM é reformista no econômico, tradicionalista no político e conformista no social. Essa esquerda oficial que organiza o encontro tenta capitalizar os movimentos antiglobalização que enfrentaram espetacularmente os poderosos do mundo em Seattle, Praga, Quebec e Gênova", diz Moésio Rebouças, um dos pioneiros do movimento antiglobalização no país, referindo-se ao apoio dos governos petistas do Rio Grande do Sul e da Prefeitura de Porto Alegre ao fórum.
Amanhã, antes da marcha oficial do FSM, programada para começar as 16h30, os ativistas pretendem fazer uma manifestação pacífica, com direito a panelaço, bolas de futebol e bicicletas, ao som de um tango argentino.
"A idéia é fazer um evento criativo e pacífico. Se a polícia for sensata, não vai ocorrer nenhum problema. Por via das dúvidas, estamos levando escudos de borracha", diz Pablo Ortellado, da AGP (Ação Global dos Povos), que organiza o protesto.
Os ativistas, que também pretendem levar capacetes e máscaras de gás para as ruas, acreditam que uma ação repressiva muito forte da polícia iria repercutir negativamente na mídia internacional -essa é a sua segurança.
Devem participar da manifestação ativistas de movimentos autônomos da Espanha, Itália, Argentina e, dos Estados Unidos, devem vir integrantes do Black Bloc, grupo anarquista radical.
Cogita-se a invasão de algum prédio abandonado para realização de debates sobre o movimento antiglobalização no mundo.
Além disso, a FAG (Federação Anarquista Gaúcha) vai realizar, do dia 1º ao dia 5, uma série de palestras, as Jornadas Anarquistas.
"Pretendemos mostrar um projeto alternativo de socialismo libertário, em contraposição ao socialismo autoritário do PT", diz Luciana Souza, da FAG.
Segundo o coronel Wilson Pinto, comandante do policiamento de Porto Alegre, os ativistas estão sendo observados pelos órgãos de inteligência da polícia para "não sermos pegos de surpresa".
"Temos informações de que algumas coisas podem acontecer, mas torço para que não haja problemas. Como é um evento internacional, temos a preocupação de não cometer erros. A polícia não é violenta por natureza, mas estamos preparados para reprimir qualquer anarquia que se tentar fazer", diz.

Crítica das ONGs
Os métodos violentos dos grupos que se intitulam anarquistas são condenados por líderes das principais ONGs que participam do Fórum Social. Para Susan George (Attac-França), organizações como o Black Bloc são antidemocráticas.
"Queremos um mundo democrático e nosso movimento é democrático. Na Itália, o encontro foi preparado durante meses por mais de 700 organizações, que trabalharam muito para chegar a um consenso. Isso foi desprezado pelo Black Bloc, que chegou no último momento com sua agenda individualista, desprezando os demais", disse George.
Ela observou que a "violência estrutural" -fome, desemprego, miséria- ou a repressão do Estado são "muito mais graves" do que qualquer manifestação de rua, mas afirmou que protestos violentos são uma "estratégia ingênua" porque permitem a infiltração de agentes policiais e desviam o foco da mídia das propostas do movimento social.


Colaborou CLAUDIA ANTUNES, da Sucursal do Rio


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