São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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BRASIL PROFUNDO

Da Suíça, presidente afirmou que "não é possível que alguém mate alguém para defender o trabalho escravo no Brasil"

Lula diz estar preocupado com "matanças"

LEILA SUWWAN
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM GENEBRA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o governo fará o possível para colocar na cadeia os responsáveis pelo assassinato dos três auditores trabalhistas e do motorista que os levava, ocorrido anteontem em Unaí, Minas Gerais. Lula se disse preocupado em ver que matanças ainda ocorrem para proteger o trabalho escravo no Brasil.
"A escravidão acabou no Brasil no dia 13 de maio de 1888. Então, podem ficar certos de que a Polícia Federal e o governo federal, junto com o governo de Minas, vão fazer o que for possível para que a gente não apenas coloque na cadeia quem matou, mas, se tiver mandante, esse mandante também vai para a cadeia", disse Lula em entrevista coletiva ontem em Genebra (Suíça), onde participou de um seminário da ONU sobre o Brasil.
"Estamos deveras preocupados porque estamos no século 21 e não é possível que alguém mate alguém para defender o trabalho escravo no Brasil", afirmou Lula.
Os quatro servidores trabalhavam desde o início da semana na fiscalização das fazendas da região de Unaí, que, nesta época do ano, contratam trabalhadores para a colheita de feijão. Há suspeitas de que o crime possa estar relacionado à fiscalização. Foram mortos o motorista Aílton Pereira de Oliveira, 51, e os auditores fiscais João Batista Soares, 50, Eratóstenes de Almeida Gonçalves, 42, e Nelson José da Silva, 52.
O presidente disse que conversou com o presidente interino, José Alencar, anteontem à noite, no momento em que ele estava reunido com os ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, do Trabalho, Ricardo Berzoini, e com o secretário de Direitos Humanos, Nilmário Miranda.
Ainda anteontem, Lula já teria pedido a apuração completa do assassinato dos quatro envolvidos. O presidente afirmou que voltaria a conversar sobre a questão com Alencar ontem. "Primeiro, os fiscais só foram lá porque receberam alguma denúncia. Segundo, eles estavam cumprindo aquilo que está em toda legislação brasileira: é proibido ter trabalho escravo no Brasil", disse Lula.
Durante o encontro com cerca de 200 empresários em Genebra, Lula enfatizou os avanços institucionais e democráticos no país, dando especial atenção à mão de obra qualificada disponível para novos empreendimentos.

Indignação
Segundo José Alencar, "há uma indignação" muito grande.
"Cada um dos policiais, cada uma das pessoas que estão participando deste trabalho estão indignadas pelo que aconteceu. E posso garantir que é numa região que nunca foi marcada pela violência. A região noroeste de Minas é uma região tranqüila, de homens trabalhadores, que cuidam do progresso da região. Lá há uma produção campeã de grãos."
Segundo o presidente interino, é preciso "compreender que isso foi um acontecimento, uma tragédia que se abateu sobre Minas e sobre o Brasil. Isso foi um golpe brutal que a família de Minas e brasileira estão recebendo".


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