|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Câmara cria comissão externa para investigar mortes de fiscais
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), anunciou
ontem a criação de uma comissão
externa para investigar o assassinato de três fiscais do Ministério
do Trabalho e do motorista, anteontem, no noroeste de Minas.
Eles vistoriavam as condições de
trabalho de pessoas arregimentadas para a colheita de feijão.
"As pessoas que estão incomodadas com esse trabalho, com as
investigações para de fato eliminarmos do nosso país o trabalho
escravo, precisam perceber que
não vai ter recuo, que vamos continuar fazendo isso. O Brasil não
pode conviver com essa prática de
escravismo", disse ele.
Questionado sobre o fato de o
primeiro vice-presidente da Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE), ter sido condenado
em primeira instância por submeter trabalhadores a condições
análogas à escravidão, João Paulo
respondeu que "aí a Justiça é que
tem que decidir". O presidente da
Câmara chegou a defender Inocêncio das acusações no plenário
da Casa e censurou o "Jornal da
Câmara", que havia feito referência ao fato.
Sobre o assassinato dos fiscais,
João Paulo disse que "se as pessoas estão pensando que com isso
vão amedrontar, precisam saber
que, ao contrário, vão dar mais
força para a gente continuar fazendo esse trabalho [combate]".
As mortes serão mote para a
abertura dos trabalhos da CPI da
Terra, em duas semanas, no Congresso. As primeiras investigações devem girar em torno das
milícias armadas por fazendeiros.
Depois, a organização do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) será apurada.
A comissão mista -formada
por 12 senadores e 12 deputados- foi instalada no ano passado após a "crise do boné", quando
a oposição, liderada pelo PFL,
acusou o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva de incentivar a violência no campo ao ter utilizado
um boné do MST durante audiência com os sem-terra no Palácio
do Planalto.
"Lamentavelmente o fato ocorrido ontem [anteontem] será um
gancho para o começo das investigações", disse ontem o presidente da CPI, senador Alvaro Dias
(PSDB-PR).
Segundo ele, o governo federal
está "deslumbrado com o poder e
se esqueceu de suas responsabilidades vitais, uma delas no campo". "O armamento das milícias é
reflexo da falta de autoridade."
Para o relator da comissão, o deputado João Alfredo (PT-CE), a
expectativa é que os trabalhos não
tenham uma motivação política, e
sim investigativa.
"Temos uma possibilidade importante de apurar com detalhes
as motivações dos conflitos agrários e urbanos. Por ser um caso
gravíssimo [a morte dos fiscais],
com certeza estará logo em nossa
pauta." Chamada de CPI da Terra, ela foi intitulada oficialmente
como comissão das reformas
agrária e urbana.
(FK E ES)
Texto Anterior: Aécio diz não haver em Minas trabalho escravo Próximo Texto: Panorâmica - Campo minado 1: Protesto de sem-terra deixa um ferido Índice
|