São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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NO GABINETE

Vice se diz "execrado" e afirma que encaminhar pedidos não é pressão

Alencar nega ter tentado favorecer um amigo no Rio

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dizendo-se "execrado" pelos órgãos de imprensa, o presidente interino, José Alencar, disse ontem que não sabia que seu gabinete (Vice-Presidência) havia pedido, por meio de ofício, "atenção especial" para que o neto de um amigo fosse favorecido em um concurso público para médico residente no Into (Instituto de Traumato-Ortopedia), no Rio.
Alencar disse que, a partir de agora, vai sugerir a amigos e eleitores que participem dos concursos. Ele negou que haja "pressão" por usar o cargo para encaminhar pedidos de pessoas conhecidas.
"Eu e minha família estamos sofrendo. Porque o universo que foi utilizado para divulgação disso foi não apenas o universo de jornal (...), mas da televisão, que abrange um universo muito maior. Meu gabinete apenas cumpriu a rotina de encaminhar a carta, e eu estou sendo execrado", disse Alencar.
As declarações foram feitas no gabinete da Presidência, diante de políticos que foram prestar solidariedade ao vice -o ministro José Dirceu (Casa Civil), o deputado Valdemar Costa Neto (PL) e o senador Tião Viana (PT).
"Ainda que eu não tenha tido conhecimento dele [ofício], mas foi feito pelo meu gabinete, eu sou responsável. Mas eu não tive conhecimento disso, para você ver como é a rotina", disse Alencar. O caso foi revelado no domingo no "Fantástico", da Rede Globo.
O ato de apoio realizado ontem teve a presença de um diretor do Into, o médico Sérgio Cortez: "Eu não dei atenção maior ao pleito por imaginar que o vice-presidente nem sequer conhecia o pleito daquele documento. Forma de pressão seria se ele tivesse sido atendida. Em nenhum momento eu vi isso como pressão".
Alencar disse vai colaborar com o Ministério Público nas investigações sobre a eventual responsabilidade de seu gabinete: "Quero uma investigação rigorosa".
Sobre o caso em que é acusado de ter pressionado politicamente a direção do Inca (Instituto Nacional de Câncer) para incluir uma paciente à frente da fila de transplante de medula óssea, Alencar disse ter encaminhado o caso ao Ministério da Saúde, como faria a mesma coisa à ministra Dilma Rousseff, se fosse uma demanda de Minas e Energia.
"Um caso grave de saúde não pode ser apenas cronológico, o critério é médico e científico, não tem como interferir. Agora você encaminhar um pedido de uma família aflita em relação a uma pessoa não significa pressão. Eu jamais me eximiria da responsabilidade desses dois pedidos que me foram feitos." Segundo Alencar, o encaminhamento de pedidos não é uma "pressão", e sim uma "rotina". "Não sei se há alguém que faça isso, pegar e rasgar os pedidos e jogá-los no cesta do lixo sem tomar conhecimento ou mandar arquivar. Isso é uma desconsideração com os brasileiros."


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