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DAVOS - DEBATE GLOBAL - PORTO ALEGRE
Segundo Anne Krueger, atuação do BC está correta, apesar de alto endividamento público ainda expor o Brasil a crises externas
FMI elogia juros altos, mas vê país vulnerável
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
A vice-diretora-gerente do FMI
(Fundo Monetário Internacional), Anne Krueger, disse ontem
que o Banco Central está correto
em aumentar os juros e afirmou
que o pior que poderia acontecer
ao Brasil hoje seria a inflação disparar. Reconheceu, contudo, que
há o risco de a política monetária
prejudicar o crescimento.
Segundo ela, os juros só deverão
ser baixados quando a demanda
estiver mais fraca, o que pode ser
interpretado como quando o
crescimento for menor. Apesar
dos elogios, a número dois do
FMI disse que "é claro" que o Brasil ainda é vulnerável a choques
externos. Admitiu também que o
governo e o Fundo estão em negociação para a renovação do
acordo do país com a instituição.
O discurso de Krueger é muito
semelhante ao da equipe econômica. "O Banco Central obteve no
ano passado o melhor crescimento nos últimos dez anos, então
não deve estar errado agora. O
país tem uma história inflacionária. A pior coisa que poderia
acontecer para o Brasil seria a inflação disparar agora. O Banco
Central está corretamente preocupado em manter o crescimento
e, ao mesmo tempo, manter a inflação baixa. Esse é o caminho no
qual eles têm que andar. E nossa
avaliação é que estão fazendo um
bom trabalho", disse ela a um pequeno grupo de jornalistas.
Ao ser questionada pela Folha
se o aumento dos juros não poderia barrar o crescimento econômico, deu a seguinte resposta:
"Eles [o BC] têm um julgamento a
fazer, porque podem também
prematuramente baixar os juros e
colher inflação. É preciso encontrar o equilíbrio entre esses dois
fatores para ver o que é mais importante. E, neste momento, por
tudo que me é dito, o crescimento
econômico do Brasil me parece
muito forte. A demanda está crescendo, e a preocupação real neste
momento deve ser que isso não
espirre na inflação".
Krueger completou: "Em algum
momento, se a demanda parecer
mais fraca, se as pressões inflacionárias cederem, os juros poderão
baixar. Mas, neste momento, parece que o BC está correto."
Se, por um lado, a vice-diretora-gerente do Fundo aborda a questão da inflação de forma muito semelhante à do governo brasileiro,
por outro, difere no tom quando
indagada sobre se o Brasil ainda
está vulnerável a turbulências na
economia internacional.
"É claro que o Brasil ainda é vulnerável. Qualquer país com uma
grande dívida como a brasileira,
se acontecer algo que gere choque
negativo nos mercados mundiais,
como queda dos preços das commodities [produtos básicos], os
chineses parando suas encomendas... Sim, ainda é vulnerável. Não
há país que não seja. A questão é o
grau da vulnerabilidade. O Brasil
ainda tem um volume grande de
dívida para rolar. Eu diria que o
Brasil está na zona média de risco.
[...]Seria muito bom se o país tivesse uma dívida muito menor."
Ela ressaltou que se o superávit
primário (economia de receitas
para o pagamento de juros da dívida) fosse um pouco maior, a relação entre a dívida pública e o
PIB (Produto Interno Bruto) cairia mais rapidamente. Esse é um
dos principais indicadores de vulnerabilidade externa. O governo
tem comemorado o fato de essa
relação ter caído de aproximadamente 60% em 2002 para cerca de
52% no final do ano passado. A
meta de superávit hoje é de 4,25%
do PIB, mas no ano passado o governo economizou 4,61%.
"Segundo nossa avaliação, [...]
com um superávit primário de
4,5% do PIB, a relação dívida/PIB
poderá gradualmente cair a um
nível razoável. Obviamente, um
superávit primário mais elevado
poderá reduzir o peso da dívida
mais rapidamente. Essa é uma decisão das autoridades", disse.
Sobre a renovação do acordo
com o Fundo, disse: "As autoridades [brasileiras] têm que me dizer
o que querem. Está havendo discussões, mas ainda não nos disseram o que querem fazer. Como
você sabe, o último programa era
precaucionário, [o governo] não
sacou nenhum recurso. Acho
que, se houver outro programa,
seria precaucionário, mas eles que
decidirão se isso ajudará o país".
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