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ELIO GASPARI
Uma história brasileira de sucesso
Fica no Brasil uma das poucas cidades do mundo onde
os habitantes têm acesso gratuito, veloz e ilimitado à internet.
Chama-se Sud Menucci (sudeste
de SP), com 7.500 moradores e
2.000 casas, 107 das quais conectadas à rede. A operação custa
R$ 3.200 mensais à prefeitura e é
possível que antes de junho ela
incorpore a tecnologia WiFi,
que dispensa os cabos. Se isso
acontecer, como acredita o prefeito Celso Junqueira, a cidade
americana de Filadélfia perde a
corrida para Sud Menucci. (Que
nome é esse? A explicação está
no final da nota.)
A história da proeza mostra,
como diria Lula, que a vontade
de fazer associada à vontade de
trabalhar consegue o impensável.
Em 2002, Sud Menucci estava
no lixo da internet. Seus habitantes precisavam buscar a conexão discada num número interurbano. O chefe do serviço de
informática da prefeitura (Sérgio Soares, 35 anos) recebeu do
prefeito (Nelson Gonçalves de
Assis) a tarefa de buscar uma
solução. Essa mesma conversa
deve ter acontecido em centenas
de municípios do Brasil e quase
sempre acabou em nada. Sérgio
foi à luta. Hoje, graças à torre de
transmissão da prefeitura, toda
a cidade tem acesso à banda larga. Os moradores precisam apenas de uma antena, cujo preço
varia de R$ 300 a R$ 500. Daí
em diante, nada.
Sud Menucci não é nenhuma
Filadélfia. Depende da cana, e
seu Orçamento anual é de R$ 11
milhões, dinheiro que não paga
a reforma que a plutocracia nacional faz no Palácio da Alvorada (R$ 16 milhões). Tem duas
escolas com 40 computadores e
uma biblioteca com três.
Sud Menucci foi um jornalista
e professor, autor de "A Crise
Brasileira da Educação". Morreu em 1948, aos 56 anos, tendo
vivido para defender a qualidade do ensino público. E por que
se chamava Sud? O pai dele gostava de dar nomes geográficos
aos filhos.
O mapa do fracasso dos povos
Depois de "Armas, Germes e
Aço", o professor americano Jared Diamond saiu-se com outro
bom livro. É "Colllapse" (colapso), que acaba de sair nos Estados Unidos. Num ele contou como a sociedade européia deu
certo. Pouco a ver com cultura e
religião. Muito a ver com fatores
ecológicos. Agora ele conta como outras sociedades deram errado. Por que os maias e o Império Khmer do Camboja foram à
breca? Quase sempre por agressões ao meio ambiente, superpopulação e descaso.
"Colapso" antevê catástrofes
na China e na Austrália. (Passa
lotado pelo Brasil.) Na conta de
Diamond, se o países subdesenvolvidos reduzirem a distância
que os separa das nações ricas, o
progresso custará ao meio ambiente uma agressão 17 vezes superior à que sofre hoje. Do jeito
que a coisa vai, não dá.
Um bom momento do livro,
sobretudo para os brasileiros,
está no paralelo entre o Haiti e a
República Dominicana. Dividem a mesma ilha. O Haiti já foi
a colônia mais rica da América.
Foram governados por ditadores (Papa Doc e Rafael Trujillo) e
tinham tudo para serem parecidos. Um vai relativamente bem
e o outro vai absolutamente mal.
Segundo Diamond, isso aconteceu por conta do desmatamento
do Haiti (99% do território) e
pelo reflorestamento da República Dominicana, que tem 32%
do território protegido e 28% de
suas terras ocupadas por florestas em 74 parques. Para horror
da esquerda sessentona, Diamond mostra que Trujillo foi
um bom administrador do meio
ambiente. Mais: o presidente
Joaquín Balaguer (1906-2002),
repulsivo personagem da "Festa
do Bode", de Mario Vargas Llosa, foi um protetor das florestas.
Usou a força armada para expulsar da mata posseiros (muitos) e milionários (poucos). Em
termos relativos, a ajuda americana ao Haiti foi sete vezes
maior que à Dominicana. Para
nada.
Em todos os casos de colapso,
os sábios do pedaço achavam
que os sinais enviados pela natureza eram coisa passageira.
Boca-livre
O laboratório Merck informa
que não está entre os patrocinadores da boca-livre de parlamentares brasileiros convidados para viajar aos Estados
Unidos no entardecer do recesso. A viagem foi organizada pela PhRMA, entidade que
representa a grande indústria
farmacêutica americana, da
qual o Merck é associado.
Num convite que "muito nos
honra", o Merck mostrará
aos parlamentares seu laboratório de Nova Jersey, pertinho de Nova York. Entre os
escolhidos pela PhRMA para
a missão científica que passará pela Universidade de Georgetown estiveram o senador
Ney Suassuna e o deputado
Ronaldo Caiado.
Speak português
Para quem acha que a diplomacia brasileira precisa manter a exigência do inglês como
matéria eliminatória (repetindo, eliminatória) no concurso de acesso (repetindo,
acesso) ao Instituto Rio Branco: nos anos 50 um jovem de
classe média de Barra do Piraí
resolveu ser diplomata. Fez o
exame e teve boas notas. Tirou 0,4 em inglês e foi ao pau.
Largou o emprego de fiscal da
Previdência e ralou um ano
com discos do método Linguaphone, ouvindo a BBC.
Na sua cidade ninguém falava
inglês. Passou com 7,4, a segunda nota do concurso. Ovídio de Mello não precisava ter
perdido um ano da sua vida
para adquirir conhecimentos
que o curso do Rio Branco
oferecia. Ovídio foi um dos
melhores diplomatas de sua
geração. Grande encrenqueiro, orgulha-se de ter participado da virada da política externa brasileira na África, em
1975. O inglês eliminatório facilita o acesso de jovens de famílias com quatro sobrenomes e apelidos bissílabos. Em
compensação, mantém o andar de baixo no seu lugar.
Lula viu a uva
Não é justo que o comissário
José Genoino chame FFHH
de "preconceituoso" porque
pediu a Lula que lesse "um
pouquinho" sobre história do
Brasil. Lula orgulha-se do seu
curso secundário incompleto.
Estudar faz parte do serviço
de presidente. Chamar Néstor Kirchner de "companheiro Menem" é coisa que pode
acontecer a qualquer um, mas
mesmo que Lula tivesse todos
os diplomas do mundo, não
deveria ter dito que Napoleão
foi à China ou que Oswaldo
Cruz descobriu a vacina da febre amarela. Há dezenas de livros sobre o companheiro,
quase todos baseados em longas entrevistas. São raras as
vezes em que conjugou o verbo ler. Atribui-se a Genoino a
afirmação de que Lula é uma
das pessoas que mais conhecem a história do Brasil. Para
o comissário, a história do
Brasil começou no dia 1º de
janeiro de 2003.
Bolsa Família
O repórter Gerson Camarotti
fez as contas: os dois candidatos petistas a presidente da
Câmara já arrecadaram R$
436 mil para suas campanhas.
Pelo jeito, batem o meio milhão de reais. Noves fora casa,
comida e roupa lavada, não se
entende por que há tanta sede
para tão pouco pote. A menos
que haja mais pote nessa história.
Tucanos malvados
O presidente do PSDB,
Eduardo Azeredo, promete
uma ofensiva crítica às políticas sociais de Lula. Tudo bem.
Poderia aproveitar o embalo e
explicar por que os tucanos
paulistas confiscaram o desconto que o Metrô dava a
quem comprava dois bilhetes.
Uma passagem custava R$
1,90, e duas, R$ 3,60 (economia de R$ 0,10 por percurso).
O doutor Geraldo Alckmin
subiu a tarifa para R$ 2,10 e
tungou o desconto.
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