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Serviço secreto francês ajudou na fuga ao Brasil, diz Battisti
DA REPORTAGEM LOCAL
O serviço secreto da França
ajudou o italiano Cesare Battisti a fugir do país e buscar refúgio no Brasil. A afirmação é do
próprio Battisti, que relatou à
revista "IstoÉ" como os espiões
franceses o avisaram para deixar o país, lhe deram orientações sobre a fuga e até um passaporte. "A ideia da minha fuga
para o Brasil foi de um integrante do serviço secreto da
França", afirma Battisti, na entrevista publicada ontem.
"No escritório de meus advogados franceses, um deles me
disse que a Itália estava pressionando, por causa das denúncias que eu fazia em meus livros. E ele me falou do Brasil,
lembrou que havia muitos refugiados italianos no Brasil. Eu,
por minha vez, me lembrei de
tudo que tinha ouvido falar sobre o Brasil quando vivi no México", diz Battisti. Consultada
pela Folha, a embaixada da
França em Brasília disse que o
governo considera as declarações de Battisti "infundadas" e
"não merecem comentários".
Battisti, condenado na Itália
por quatro homicídios, viveu 11
anos em território francês desfrutando de um asilo informal
determinado pelo presidente
François Mitterrand (1981-95),
mas suspenso pelo sucessor
Jacques Chirac (1995-2007).
Battisti afirma que organizou
por conta própria sua fuga. Diz
que foi de carro da França para
a Espanha e, depois, para Portugal. E que voou de Lisboa para a Ilha da Madeira, pegando
um barco até Ilhas Canárias.
Das Canárias, foi de avião até
Cabo Verde e, em seguida, para
Fortaleza. O périplo terminou
no Rio, em Copacabana, onde
alugou uma kitchenette.
Na entrevista, Battisti alega
que foi monitorado por espiões
brasileiros e franceses durante
dois anos e meio. "Em Fortaleza, foi na fila do controle de
passaporte. Faltava pouco para
a minha vez. Chegaram três
pessoas. Uma delas, uma mulher, falava francês perfeitamente. Falou que precisava ativar o código de barras de meu
passaporte. Me levaram para
uma sala, me convidaram para
um cafezinho e, depois de dez
minutos, me devolveram o passaporte", diz.
A Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) nega ter participado de qualquer ação que tivesse Battisti como alvo.
Gabeira
O italiano confirmou ainda à
revista que o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) lhe deu
apoio durante o período em
que ficou clandestino no Brasil,
como a Folha revelou no domingo passado. O parlamentar
reiterou ontem que não deu
abrigo ao italiano, mas se reuniu com ele num café em Ipanema. "Nós conversávamos sobre o livro que estava escrevendo", afirma Gabeira.
A lista de pessoas que Battisti diz conhecer inclui também
o cartunista Ziraldo e a ex-prefeita de Fortaleza Maria Luiza
Fontenelle (PSB-CE), que integrou o comitê pela libertação
do italiano.
Na entrevista, Battisti volta a
negar as acusações de que assassinou quatro pessoas, diz
que abandonou o PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) logo depois do assassinato
de Aldo Moro -atribuído à
guerrilha Brigadas Vermelhas.
O italiano admite que realizou
furtos para financiar o movimento político e diz que trocou
cartas com Alberto Torregiani,
filho do joalheiro morto numa
ação do PAC em 1979.
(CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA)
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