São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

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Serviço secreto francês ajudou na fuga ao Brasil, diz Battisti

DA REPORTAGEM LOCAL

O serviço secreto da França ajudou o italiano Cesare Battisti a fugir do país e buscar refúgio no Brasil. A afirmação é do próprio Battisti, que relatou à revista "IstoÉ" como os espiões franceses o avisaram para deixar o país, lhe deram orientações sobre a fuga e até um passaporte. "A ideia da minha fuga para o Brasil foi de um integrante do serviço secreto da França", afirma Battisti, na entrevista publicada ontem.
"No escritório de meus advogados franceses, um deles me disse que a Itália estava pressionando, por causa das denúncias que eu fazia em meus livros. E ele me falou do Brasil, lembrou que havia muitos refugiados italianos no Brasil. Eu, por minha vez, me lembrei de tudo que tinha ouvido falar sobre o Brasil quando vivi no México", diz Battisti. Consultada pela Folha, a embaixada da França em Brasília disse que o governo considera as declarações de Battisti "infundadas" e "não merecem comentários".
Battisti, condenado na Itália por quatro homicídios, viveu 11 anos em território francês desfrutando de um asilo informal determinado pelo presidente François Mitterrand (1981-95), mas suspenso pelo sucessor Jacques Chirac (1995-2007). Battisti afirma que organizou por conta própria sua fuga. Diz que foi de carro da França para a Espanha e, depois, para Portugal. E que voou de Lisboa para a Ilha da Madeira, pegando um barco até Ilhas Canárias. Das Canárias, foi de avião até Cabo Verde e, em seguida, para Fortaleza. O périplo terminou no Rio, em Copacabana, onde alugou uma kitchenette.
Na entrevista, Battisti alega que foi monitorado por espiões brasileiros e franceses durante dois anos e meio. "Em Fortaleza, foi na fila do controle de passaporte. Faltava pouco para a minha vez. Chegaram três pessoas. Uma delas, uma mulher, falava francês perfeitamente. Falou que precisava ativar o código de barras de meu passaporte. Me levaram para uma sala, me convidaram para um cafezinho e, depois de dez minutos, me devolveram o passaporte", diz.
A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) nega ter participado de qualquer ação que tivesse Battisti como alvo.

Gabeira
O italiano confirmou ainda à revista que o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) lhe deu apoio durante o período em que ficou clandestino no Brasil, como a Folha revelou no domingo passado. O parlamentar reiterou ontem que não deu abrigo ao italiano, mas se reuniu com ele num café em Ipanema. "Nós conversávamos sobre o livro que estava escrevendo", afirma Gabeira.
A lista de pessoas que Battisti diz conhecer inclui também o cartunista Ziraldo e a ex-prefeita de Fortaleza Maria Luiza Fontenelle (PSB-CE), que integrou o comitê pela libertação do italiano.
Na entrevista, Battisti volta a negar as acusações de que assassinou quatro pessoas, diz que abandonou o PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) logo depois do assassinato de Aldo Moro -atribuído à guerrilha Brigadas Vermelhas. O italiano admite que realizou furtos para financiar o movimento político e diz que trocou cartas com Alberto Torregiani, filho do joalheiro morto numa ação do PAC em 1979.
(CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA)


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